Negócios

Estratégia de expansão do JBS é vista com cautela

Analistas questionam como a empresa já alavancada vai lidar com custos maiores e o controle das diversas operações

Outro fator que preocupa os pecuaristas é a concentração dos frigoríficos em poucas empresas (Divulgação)

Outro fator que preocupa os pecuaristas é a concentração dos frigoríficos em poucas empresas (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2012 às 16h16.

São Paulo - A estratégia agressiva do JBS de expandir operações em carne bovina e a recente entrada no mercado de aves no Brasil são vistas com cautela por analistas que questionam como a empresa já alavancada vai lidar com custos maiores e o controle das diversas operações.

O JBS, maior produtor de carne bovina do mundo, aumentou em 20 por cento sua capacidade de abate no Brasil, para 38 mil cabeças/dia, com a incorporação de 12 frigoríficos, entre arrendamentos e compras de pequenas unidades desde o início do ano.

Esse aumento em bovinos ainda pode ser maior, considerando que os credores do Independência, que já foi o quarto frigorífico brasileiro, aprovaram recentemente a proposta de compra feita pelo JBS.

No início de maio, o JBS entrou no segmento de aves no Brasil com o arrendamento de ativos da Frangosul, controlada da francesa Doux, em contrato que prevê opção de compra. As unidades foram reunidas na divisão JBS Aves Brasil.

As operações impõem um desafio à empresa que é controlar os diferentes tipos de operações, na avaliação de analistas consultados pela Reuters, enquanto pecuaristas questionam a concentração de frigoríficos em regiões estratégicas.


"É um ponto reticente, este perfil agressivo de aquisições. Pode ser bom porque ganha escala e diversifica, mas será difícil ter controle sobre todas as operações", afirma William Castro Alves, analista da XP Investimentos.

Na teleconferência em que comentou os resultados da companhia, o presidente do JBS Wesley Batista afirmou que o aporte para colocar as unidades em funcionamento, estimado em 500 milhões de reais, é pequeno frente ao retorno esperado.

A expectativa é que a expansão, incluindo aves e bovinos, gere 4,5 bilhões de reais ao faturamento anual da empresa, que foi de 61,8 bilhões de reais em 2011.

Mas o analista da XP Investimentos pondera que o montante "não é pouco considerando que a empresa está alavancada e precisa gerar caixa".

O valor da dívida líquida da companhia está em 4,3 vezes em relação à geração de caixa operacional, medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), mas com estimativa do executivo de fechar o ano em três vezes.

A analista da Bigma Consultoria, Lygia Pimentel, observa que inicialmente a expansão foi considerada adequada, levando em conta o esperado aumento da oferta de animais. "Mas agora fica uma dúvida: eles estão se alavancando rápido e talvez não consigam fazer caixa rápido o suficiente", disse.

Na avaliação de Lygia, a estratégia pode ser arriscada porque neste cenário a empresa estaria contando mais com uma melhora das exportações do que na gestão de suas operações.


"Outra dúvida de todos é saber se o JBS está assumindo os frigoríficos para manter em banho-maria ou para colocá-las em atividade", acrescentou Lygia, lembrando que muitas das unidades incorporadas estão paralisadas.

Pecuaristas -  A expansão do JBS também preocupa os pecuaristas de Mato Grosso, Estado com maior rebanho no país, que questionam a estratégia de manter unidades paradas.

Segundo o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, o JBS tem quatro unidades paralisadas no Estado, três arrendadas e uma planta própria.

"Para que arrendar se vai manter fechado? Vemos isso como uma estratégia para impedir que outro grupo coloque a unidade em operação", disse Vacari.

Consultada pela Reuters, o JBS informou que não comenta sobre as unidades paralisadas.

Outro fator que preocupa os pecuaristas é a concentração dos frigoríficos em poucas empresas. Recentemente, instituto que reúne pecuaristas e agricultores de Mato Grosso apontou que o JBS detem 48 por cento da capacidade de abate.

Em Mato Grosso do Sul, JBS, Minerva e Marfrig concentram 70 por cento da capacidade de abate do Estado, segundo o presidente da associação local dos criadores (Acrissul), Francisco Maia.

Concorrentes - A expectativa de reversão do ciclo pecuário, depois de anos com oferta restrita para o abate, também está estimulando a retomada das operações por outros frigoríficos, mas de forma mais moderada.

O Marfrig, segundo maior, anunciou na terça-feira passada planos para a retomada das atividades em três das nove unidades que foram paralisadas temporariamente.

"Acreditamos em melhor disponibilidade de gado daqui para frente, temos inclusive planos de retornar três das nossas plantas de bovino, que temporariamente estavam paralisadas, de retomar operação no segundo trimestre".

A analista da Bigma lembra que o Minerva, terceiro no ranking, por exemplo, tem sido mais comedido. "O Minerva adquiriu uma planta em Minas Gerais, bem localizada, e as ações estão se valorizando mais que as do JBS".

Acompanhe tudo sobre:AgronegócioCarnes e derivadosEmpresas abertasEmpresas brasileirasJBSTrigo

Mais de Negócios

Azeite a R$ 9, TV a R$ 550: a lógica dos descontaços do Magalu na Black Friday

20 frases inspiradoras de bilionários que vão mudar sua forma de pensar nos negócios

“Reputação é o que dizem quando você não está na sala”, reflete CEO da FSB Holding

EXAME vence premiação de melhor revista e mantém hegemonia no jornalismo econômico