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Estrangeiras já detêm 20% do mercado brasileiro de óleo e gás

Shell, Repsol Sinopec, Petrogal e TotalEnergies já respondem por 20% da produção nacional de petróleo e gás

Gasoduto em refinaria de petróleo (Katja Buchholz/Getty Images/Getty Images)

Gasoduto em refinaria de petróleo (Katja Buchholz/Getty Images/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de junho de 2021 às 10h26.

Última atualização em 23 de junho de 2021 às 10h46.

Com a Petrobras pisando no freio dos investimentos e vendendo mais ativos, empresas petrolíferas estrangeiras estão ganhando espaço no Brasil. Juntas, Shell, Repsol Sinopec, Petrogal e TotalEnergies já respondem por 20% da produção nacional de petróleo e gás. Em conjunto, a iniciativa privada responde, hoje por 27% do total, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

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O novo retrato da indústria revela ainda a transferência dos investimentos para o pré-sal e a queda do número de descobertas de reservatórios. Mudou também a distribuição dos royalties entre municípios.

Representante das grandes petrolíferas, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) espera que a participação das estrangeiras cresça ainda mais à medida que o pré-sal avançar.

Os investimentos da Petrobras estão caindo desde 2014, quando a empresa passou a ser alvo de denúncias de corrupção na Operação Lava Jato, a cotação do petróleo despencou e seu endividamento ultrapassou US$ 100 bilhões. Seus gestores reduziram os investimentos, que passaram de US$ 236,7 bilhões (para o período de 2014 a 2018) para os atuais US$ 55 bilhões (de 2021 a 2025).

A estatal abandonou o plano de ser uma empresa integrada em cadeia, vendeu campos terrestres e em águas rasas e colocou menos dinheiro na exploração de novas reservas, que responderiam por descobertas futuras. Houve poucas aquisições nos últimos anos, exceto em áreas gigantes do pré-sal da Bacia de Santos, como em Búzios, tido como seu melhor ativo.

A participação da Petrobras na produção nacional passou de 84% em abril de 2016 para 73% em igual mês deste ano, uma queda de 11 pontos porcentuais em cinco anos. Em contrapartida, a da Shell, que, há cinco anos, respondia por 7% da produção interna de óleo e gás, hoje está com 12%. Parte desse avanço se deve à compra da BG, em 2016. Em seguida, aparecem a Petrogal (cuja participação passou de 1,4% para 3,4%) e TotalEnergies, que saiu do zero para quase 2%. A Repsol Sinopec ocupa a quarta colocação mas o volume extraído por ela caiu 0,2% no período.

Há ainda uma série de companhias estrangeiras de grande porte - como Chevron, Equinor e Exxon, que apostam em campos em águas profundas, inclusive no pós-sal - e brasileiras, como Enauta, PetroRio e Dommo, que vêm crescendo, principalmente, com a compra de áreas da Petrobras.

Naturalidade

A Petrobras afirmou ser "natural" o crescimento de concorrentes estrangeiras no mercado, "assim como a entrada de novas empresas em ativos vendidos" por ela. A estatal trabalha para manter sua liderança na produção de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas, incluindo o pré-sal, como informou por sua assessoria de imprensa.

A estatal afirmou que atuar em sociedade é uma solução para reduzir a exposição ao risco e agregar o conhecimento e capital dos parceiros. Segundo a companhia, esse modelo de negócio ajuda a empresa a "estar presente em um maior número de oportunidades e agregar competência".

A Petrobras argumenta que sua produção de petróleo cresceu nos últimos anos, com exceção de 2018, e que deve manter a liderança no segmento de refino, mesmo após se desfazer de metade da sua capacidade de produção de derivados. "A Petrobras continuará sendo a maior companhia integrada no Brasil, utilizando seu parque para maximizar o retorno e otimizar suas operações", afirmou.

A Shell, por meio de sua assessoria, afirmou ter ativos no Brasil, em todas as fases, da exploração à desmobilização de plataformas. Dois deles estão na fase de produção: Parque das Conchas e Bijupirá-Salema, na Bacia de Campos. "Também planejamos para este ano um poço exploratório no bloco CM-791, na Bacia de Campos, arrematado na 15.ª rodada de concessão (em 2018), o que demonstra que o nosso interesse vai além do pré-sal", destacou.

Já a TotalEnergies afirmou ter um "compromisso de longo prazo com o Brasil" e que o País "oferece grandes oportunidades, especialmente no pré-sal". A empresa prevê investir US$ 500 milhões por ano em exploração e produção até 2024 e elevar o volume extraído para 150 mil barris por dia no futuro.

A norueguesa Equinor, sétima maior produtora nacional, disse que o Brasil é estratégico para ela. "Desde 2001, a Equinor vem construindo uma organização local forte", afirmou a empresa, em resposta ao Estadão/Broadcast. "A empresa já investiu mais de US$ 11 bilhões no Brasil até agora e espera investir mais US$ 15 bilhões até 2030", acrescentou.

Para William Nozaki, coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), a retração da Petrobras tem impactos negativos importantes na produção. "O primeiro efeito é a redução da taxa média de investimento total, já que as estrangeiras têm investido menos e não compensam a retração da estatal. Além disso, caiu a produção fora da Bacia de Santos (onde está o pré-sal). Na Bacia de Campos, por exemplo, Shell, Equinor, Dommo reduziram o volume extraído, e Chevron deixou de ser operadora no ano passado (a empresa mantém participação em um campo)", afirmou.

O especialista em Petróleo e Gás Luciano Losekann, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca a importância da continuidade do investimento para a manutenção das receitas de royalties. O Rio de Janeiro continua a ser o Estado mais favorecido. Internamente, no entanto, a arrecadação de compensações financeiras migra do norte fluminense para a região metropolitana. No topo da lista das mais beneficiadas estão, agora, as cidades de Maricá e Niterói.

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