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Estrangeiras investem R$ 30,8 bi em aquisições de empresas brasileiras no 3º tri

Empresas brasileiras dominaram as operações no país no primeiro semestre, quando as estrangeiras ainda sentiam os efeitos da crise

Vivo: aquisição da participação da Portugal Telecom na Vivo pela Telefonica foi a maior operação do ano (LIA LUBAMBO/EXAME)

Vivo: aquisição da participação da Portugal Telecom na Vivo pela Telefonica foi a maior operação do ano (LIA LUBAMBO/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2010 às 17h20.

São Paulo – No terceiro trimestre , as empresas estrangeiras contabilizaram 30,8 bilhões de reais em aquisições somente de companhias brasileiras. No acumulado dos nove primeiros meses de 2010, o valor foi de 47,6 bilhões de reais – e superou o montante das aquisições entre empresas brasileiras, que dominaram o volume de operações no acumulado de 2009 e de 2008.

Enquanto as estrangeiras desembolsaram 50,6 bilhões de reais no país no terceiro trimestre em aquisições de empresas nacionais e estrangeiras que controlassem alguma brasileiras, as companhias nacionais investiram 4,6 bilhões de reais para comprar empresas estrangeiras - e 4,8 bilhões de reais para comprar empresas brasileiras.

O montante investido pelas empresas estrangeiras mostra o seu apetite pelas brasileiras, mas também é reflexo da dieta à qual elas se submeteram em decorrência dos reflexos da crise econômica mundial. "Vimos uma retração de compradores americanos e europeus no primeiro semestre, em decorrência do desafio econômico deles", disse Bruno Amaral, presidente do subcomitê de fusões e aquisições da Anbima.

O começo do ano foi atipicamente dominado pelos brasileiros, segundo Amaral. As empresas nacionais desembolsaram 57,3 bilhões de reais em aquisições, enquanto as estrangeiras investiram 27,5 bilhões de reais nas operações do primeiro semestre. "Agora ocorreu o retorno com força de participantes europeus e americanos", disse Amaral.

O represamento das operações estrangeiras no primeiro semestre provavelmente não vai se repetir nos próximos meses, segundo o executivo. A Anbima acredita que o próximo trimestre será menos aquecido que o normal, em decorrência do terceiro trimestre forte, e sente que o mercado de fusões e aquisições vai continuar aquecido e ter um volume de operações elevado em 2011. "Depois de um período muito forte, é natural que o próximo período seja um pouco mais fraco. Isso não é reflexo do desaquecimento do mercado", afirmou.

"Mas não posso dizer que 2011 será superior a 2010", disse Amaral. O número de operações em 2011 poderá ser superior ao deste ano, mas é difícil que isso ocorra, segundo o executivo. O Brasil registrou 94 operações de fusão e aquisição anunciadas nos nove primeiros meses do ano. O montante de operações anunciadas foi de 144,8 bilhões de reais - o maior observado para o período de janeiro a setembro desde 2006, 21,7% maior do que o registrado em todo o ano de 2009.

"É difícil ter uma repetição no que aconteceu esse ano em telecom, por exemplo, onde as operações envolveram valores elevados", disse. O recorde em número de operações de 2007 não deverá ser batido em 2010, na opinião de Amaral. Em 2007 foram 148 operações no valor de 136,5 bilhões de reais.


Perspectivas

Nos próximos anos, Amaral acredita que a participação dos asiáticos deve crescer e se tornar cada vez mais relevante, alcançando a participação de americanos e europeus. "A participação histórica dos asiáticos é muito baixa. Eles estarem cabeça-a-cabeça com americanos e europeus é um fato importante por si só", afirmou.

No acumulado de 2010, foram 38 aquisições entre empresas brasileiras, 24 aquisições de brasileiras por estrangeiras, 23 aquisições de estrangeiras por brasileiras e 9 aquisições entre empresas estrangeiras (tendo brasileiras como empresas-alvo). A aquisição de empresas brasileiras por asiáticas foi de 16,7% em número e 15,2% em volume.

No mercado brasileiro sempre há grande transações em commodities, agronegócio, metalurgia e siderurgia, petróleo e gás, setor financeiro e aqueles ligados ao crescimento da renda do brasileiro como comércio varejista e alimentos, segundo Amaral. O setor de telecomunicações – responsável pela maior operação do ano, entre Portugal Telecom e Telefônica - não deve continuar em evidência, segundo o presidente.

Dólar

O câmbio atual torna as aquisições de empresas brasileiras mais caras para os estrangeiros, mas se existem boas perspectivas com relação ao país e ao crescimento das empresas no Brasil, o câmbio não é tão relevante, segundo Amaral, porque as companhias que serão adquiridas vão devolver sua produção na mesma base cambial. "Isso é uma demonstração de confiança no Brasil", disse.

Anúncios x fechamentos

Dentre os anúncios, o montante de operações fechadas foi inferior ao do mesmo período de 2009. Das 94 operações anunciadas no período, 52 foram fechadas – o equivalente a 69 bilhões de reais. No acumulado dos nove primeiros meses de 2009, o fechamento foi de 54 operações, com o montante total de 99,5 bilhões de reais.

Dez maiores operações anunciadas até setembro de 2010, com destaque para as operações anunciadas no terceiro trimestre

Operação Valor
Aquisição da participação da Portugal Telecom na Brasilcel (Vivo) pela Telefonica R$ 18,2 bilhões
Formação da LATAM com os ativos da TAM e LAN R$ 14,4 bilhões
Joint Venture entre Shell e Cosan R$ 11,6 bilhões
Transação envolvendo o Grupo Oi e a Portugal Telecom R$ 9 bilhões
Venda dos ativos de alumínio da Vale para a Norsk Hydro R$ 8,5 bilhões
Aquisição de 100% da Bunge Part. e Invest. Pela Vale R$ 7 bilhões
Aquisição da BP dos ativos brasileiros da Devon Energy Corporation R$ 5 bilhões
Aquisição das participações da Unipar detidas na Quattor, Polibutenos e Unipar Comercial pela Braskem R$ 4,9 bilhões
OPA das ações da Net, adquiridas pela Embratel R$ 4,6 bi
Aquisição da Agre pela PDG Realty R$ 4,4 bilhões
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