André Esteves: desde a prisão do presidente, banco precisou de aporte de R$ 6 bi, vendeu ativos, demitiu funcionários e reorganizou quadros internos. (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2016 às 14h51.
Horas depois de o STF liberá-lo da prisão domiciliar, um sorridente André Esteves falava a funcionários em um auditório na sede do Grupo BTG Pactual. Queria que soubessem que ele está de volta -- embora não se saiba em que cargo.
O bilionário não disse o que vai fazer no banco agora que não precisará mais ficar confinado em sua mansão em São Paulo, segundo três pessoas com conhecimento do encontro.
Parece improvável que ele se torne diretor-presidente novamente no curto prazo, segundo duas das pessoas, mas pode cumprir o papel de principal conselheiro.
O certo é que o grupo para a qual ele retornou na segunda-feira é muito diferente daquele deixado quando foi preso em 25 de novembro do ano passado.
Desde então, o BTG vendeu mais de US$ 3,5 bilhões em ativos para levantar capital, demitiu centenas de funcionários e reestruturou seu negócio para excluir Esteves como acionista controlador.
As ações da empresa perderam 36 por cento de seu valor. A nova gestão acabou com ambições do banco de se tornar uma potência global com, entre outras coisas, um negócio de gestão de fortunas em vários continentes.
O presidente do conselho, Pérsio Arida, disse que o BTG está se concentrando em negócios “core”.
“O comitê que está administrando o BTG foi muito rápido e ágil nos ajustes”, disse Max Bohm, analista da Empiricus Independent Research. “Mas mesmo com o retorno de Esteves ainda há muita incerteza quanto ao futuro do banco”.
Esteves, que continua como maior acionista, falou por alguns minutos para cerca de 200 funcionários na sede de São Paulo, segundo as pessoas, que pediram para não ser identificadas.
Elas disseram que ele estava otimista, agradecendo a todos pelo bom trabalho em manter o BTG em andamento durante sua ausência, e deixou aberto de que forma ele vai servir ao grupo.
Em suas declarações, Esteves negou irregularidades, como havia feito antes; ele foi acusado na Operação Lava Jato.
Ele, que tem 47 anos, passou três semanas na penitenciária de Bangu, no Rio de Janeiro, sob a acusação de ter tentado interferir no depoimento de um ex-executivo da Petrobras. Ele foi libertado de Bangu em dezembro e enviado para prisão domiciliar.
O STF cancelou a ordem de prisão domiciliar na segunda-feira e o advogado de Esteves, Antonio Carlos de Almeida Castro, disse por mensagem de texto que o bilionário está “completamente livre” e poderá voltar ao escritório.
Esteves, que foi à sede da empresa novamente na terça-feira, provavelmente não será executivo da empresa e deverá atuar como principal conselheiro até que o caso seja resolvido, disse uma das pessoas. Um porta-voz do banco preferiu não comentar.
Nove dias após a prisão de Esteves, o banco obteve um resgate de R$ 6 bilhões (US$ 1,7 bilhão) do Fundo Garantidor de Crédito.
Nos meses seguintes, o BTG se desfez de ativos e cortou postos de trabalho nos escritórios da América Latina, de Londres e de Nova York, reduzindo sua folha de pagamentos no Brasil em quase 20 por cento em janeiro.
A unidade de hedge fund em Hong Kong foi fechada em fevereiro quando os ativos caíram para cerca de US$ 250 milhões, contra mais de US$ 4 bilhões em novembro, disse uma pessoa informada sobre o assunto na época.
Os bônus dos executivos foram reduzidos, segundo pessoas com conhecimento do assunto.
O plano é que o BTG mantenha os negócios principais que estão entre os mais lucrativos, disse Arida, o presidente do conselho, em janeiro no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Isso inclui commodities, gestão de ativos e fortunas, investment banking, vendas e trading e operações de corretagem.
Kakay, como é conhecido o advogado de Esteves, não esclareceu os detalhes sobre o futuro de seu cliente no BTG, mas disse que ele estava pronto para voltar a trabalhar.
“Esteves foi tragado pela Lava Jato”, disse ele. “Foi um erro monumental. André quer a vida dele de volta, pessoal, com a família e amigos, e profissional, como ele julgar melhor.”