Leonardo Acioli, fundador da Sorriamed: “Meu foco não é vender franquia para investidor." (Sorriamed/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de outubro de 2025 às 07h51.
O carioca Leonardo Acioli aprendeu sobre empreendedorismo na prática, equilibrando bandejas em restaurantes para pagar a faculdade de odontologia. Recebia entre 50 e 90 reais por noite como garçom, guardava o que podia e sonhava, fazia gestão do dinheiro e sonhava em ter seu próprio consultório.
Duas décadas depois, ele está à frente da SorriaMed, rede de clínicas odontológicas que faturou 10 milhões de reais em 2024 e já conta com cinco unidades no Rio de Janeiro — todas operando sob o modelo de franquia. A meta é terminar 2025 com faturamento de 15 milhões de reais.
O ponto de inflexão da empresa veio quando Acioli decidiu deixar de cuidar do dia a dia do escritório e passou a cuidar apenas da adminsitração da franquia, como franqueador.
Depois de anos estudando o setor e testando modelos, ele desenhou um formato que une gestão profissional e tecnologia, mas sem abrir mão do protagonismo do dentista.
“Eu vivi todas as dores que o franqueado sente. Quis criar um modelo onde o dentista possa ganhar dinheiro, mas sem deixar de pensar no paciente”, diz.
“Meu foco não é vender franquia para investidor. Quero dentistas que sejam apaixonados pela profissão e felizes usando a minha marca”, afirma Acioli. A estrutura das unidades inclui uma operação central, administrada por Leonardo, com raio-x panorâmico, scanner digital e sistema de agendamento interno.
“Tudo foi pensado para que o franqueado tenha uma gestão lucrativa, mas com foco total no atendimento.”
A SorriaMed deve fechar 2025 com até 13 unidades. A meta de longo prazo é transformar a operação em uma rede nacional, com expansão para fora do Rio já nos próximos dois anos.
Antes de virar franqueador, Leonardo Acioli conciliava faculdade de odontologia com diárias como garçom em festas de aniversário na Baixada Fluminense.
Trabalhava à noite, recebendo entre 50 e 90 reais por evento, para custear os estudos e juntar o que conseguia. “Sempre tive muito paciente, atendia direto, mas desde o início soube que teria que correr por fora para montar meu espaço”, lembra.
Em 2005, com 7.000 reais economizados, abriu o primeiro consultório na entrada da Cidade de Deus, comunidade da zona sudoeste do Rio de Janeiro.
O local atendia bem à demanda da região, mas ainda era evitado por parte do público. “Algumas pessoas tinham medo de ir até lá”, diz. Mesmo assim, o consultório começou a lotar.
Acioli tentou expandir rápido e, em 2006, abriu uma segunda unidade em Duque de Caxias.
O negócio cresceu em equipe, mas ele ainda não tinha preparo para lidar com gestão — e a clínica fechou.
Depois disso, voltou a se concentrar na unidade original e a investir em formação: fez especialização em prótese dentária, montou uma equipe mais completa e começou a atrair novos perfis de pacientes.
A virada veio em 2016, quando decidiu transformar a clínica original em SorriaMed, com foco em público de classe B e C e pacientes com mais de 40 anos. A segunda unidade foi aberta em 2017, na Taquara, consolidando a proposta de atendimento mais tecnológico e personalizado.
Com a pandemia em 2020, a operação parou por apenas 15 dias — Acioli logo voltou a atender para garantir continuidade e segurança aos pacientes. Mas a crise revelou um novo gargalo: estrutura física limitada. “Eu tinha um sobrado com recepção para sete pessoas. Se chegava uma família, já ocupava tudo. Tive que reduzir a entrada de novos pacientes”, afirma.
Em 2021, ele encontrou por acaso uma clínica abandonada e decidiu comprá-la.
O espaço virou a nova sede da SorriaMed, com 400 metros quadrados e estrutura para escalar o negócio.
“Eu poderia fazer ali a clínica dos sonhos”, diz. Foi a partir daí que ele começou a desenhar o modelo de franquia.
A virada para o franchising veio só em 2024.
Acioli contratou uma consultoria para mapear o processo de expansão e começou a formatar o modelo.
“Queria entender todos os pontos de equilíbrio antes de colocar outra pessoa no jogo. O franqueado precisa ser surpreendido o tempo todo”, diz.
Hoje, além das clínicas próprias, ele já investe como sócio em unidades franqueadas — o que garante alinhamento de interesses e controle de qualidade.
“Não é só arriscar o dinheiro do outro. Estou colocando meu capital junto porque acredito no negócio.”
O investimento inicial parte de 120.000 reais. As unidades contam com scanners digitais, raio-x panorâmico e integração com laboratório próprio, que permite agilidade nos tratamentos.
O centro de treinamento também faz parte da estratégia. “Antes de começar, o dentista fica um mês com a gente dentro da clínica, entendendo cada processo.”
A SorriaMed enfrenta um cenário competitivo, marcado por redes já consolidadas e clínicas populares em expansão.
Segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), há cerca de 40 redes de franquias odontológicas no país, somando aproximadamente 4.970 unidades distribuídas por todo o território nacional. O faturamento anual das franquias odontológicas supera os 2 bilhões de reais.
Mas Acioli acredita que há espaço para um modelo híbrido, voltado a dentistas que querem crescer com gestão — sem abrir mão da clínica humanizada.
“O dentista foi formado para cuidar da saúde, mas quase nenhum sabe calcular o custo da própria hora ou o tíquete médio da clínica. A gestão fica esquecida”, afirma.
A proposta da SorriaMed é oferecer esse apoio, com processos validados e suporte contínuo.
Além da odontologia tradicional, a SorriaMed está ampliando o escopo para tratamentos de harmonização facial.
A frente da operação está a esposa de Acioli, também dentista. A ideia é integrar a odontologia com procedimentos estéticos, criando uma linha de cuidados mais ampla — do scanner ao botox.
“Não é só mais um tratamento. Queremos entregar um atendimento de excelência, com uma experiência que faça sentido para o paciente”, diz Acioli. O novo serviço já está sendo testado em unidades-piloto e deve ser lançado oficialmente até o fim de 2025.
Com cinco unidades em operação — e mais duas previstas ainda para este ano —, Acioli traçou uma meta clara: oito novas franquias em 2026.
A prioridade ainda é o Rio de Janeiro, mas a entrada em São Paulo está no radar.
“Meu sonho é levar a SorriaMed para São Paulo. Mas sei que para crescer direito, preciso fazer com base sólida”, afirma.
Mesmo com o ritmo acelerado, ele diz que o foco é qualidade, não volume. “Acelerador por acelerar não faz sentido. Quero que o franqueado tenha saúde, lucratividade e uma relação saudável com a marca.”