Luiz Ramalho, da Magie: “O WhatsApp é só o canal. O que a gente está construindo é a inteligência por trás. O agente" (Luiz Ramalho/Divulgação)
Publicado em 14 de junho de 2025 às 08h35.
Última atualização em 14 de junho de 2025 às 09h33.
Pedir um Pix por áudio. Pagar um boleto com uma foto. Consultar o saldo por mensagem. E receber tudo de volta, em segundos, no WhatsApp. Parece simples. E é justamente essa simplicidade que explica o crescimento da Magie, fintech criada pelo carioca Luiz Ramalho.
O negócio acaba de atingir a marca de 1 bilhão de reais em volume transacionado, um ano após lançar sua conta digital controlada por inteligência artificial.
Por trás dessa operação, que funciona sem aplicativo próprio ou número de agência tradicional, está uma assistente financeira que conversa com o cliente no canal mais popular do país.
O modelo, que começou como uma ferramenta voltada para usuários que faziam muitos pagamentos por dia, hoje atende um público mais amplo — e acaba de ganhar uma nova grande expansão: uma conta PJ, voltada especialmente (mas não somente) para autônomos e microempreendedores que já usavam a conta pessoal da fintech para fins profissionais.
“Chegar ao primeiro bilhão transacionado mostra que estamos resolvendo uma dor real com uma experiência simples, segura e presente no dia a dia das pessoas”, afirma Ramalho.
Agora, a Magie prepara os próximos passos.
Ainda neste mês, lança seu primeiro app. Não como substituição ao WhatsApp, mas como canal complementar, com foco em visualização de gráficos, relatórios e usabilidade mais sofisticada. Ao mesmo tempo, acelera o desenvolvimento de novas funcionalidades com IA, de agregação de contas a recomendações de investimento personalizadas.
Fundada em 2024, a Magie nasceu com uma proposta direta: transformar o WhatsApp em interface bancária.
O usuário adiciona a Magie como contato, cria uma conta e passa a movimentar dinheiro por ali. Ele pode tanto usar o dinheiro na conta da Magie como adicionar contas de outros bancos e gerir pelo aplicativo de mensagem, sem entrar nos apps dos bancos.
A inteligência artificial por trás da operação entende texto, voz e imagem — permitindo, por exemplo, pagar um boleto enviado por print ou áudio.
A empresa foi criada por Luiz Ramalho, ex-Goldman Sachs e Blackstone, e que também atuou no setor de cripto como cofundador da Fingerprints DAO, uma startup de NFTs.
O time inclui ainda executivos que eram do Nubank, como Vitor Perez (cofounder da Magie) e Rodrigo Barreiros, e da Loft, como João Camargo (também no time de fundadores da Magie).
Com esse time, a Magie captou 28 milhões de reais em sua rodada seed, liderada pelo fundo americano Lux Capital e com participação do brasileiro Canary. Em menos de seis meses, já havia transacionado mais de 130 milhões de reais. Hoje, esse número passou de 1 bilhão.
O novo lançamento da fintech é a conta PJ, voltada especificamente para profissionais que atuam como pessoas jurídicas.
A demanda veio dos próprios usuários, muitos dos quais já usavam a conta pessoal para fins profissionais, como freelancers, desenvolvedores, consultores e outros “pejotizados”.
“Nosso foco continua sendo o indivíduo. A conta PJ não é para empresas com múltiplos sócios, folha de pagamento ou estrutura complexa. É para a pessoa que já usa a gente hoje e quer separar o dinheiro da empresa do pessoal”, diz Ramalho.
A decisão de não mirar empresas maiores é estratégica.
Segundo ele, operar contas PJ com alto volume de Pix, por exemplo, gera um custo que desequilibra a operação.
“Tem cliente que faz tanto Pix que o custo explode. A gente prefere focar em quem consegue usar bem o serviço e que a conta continue sendo viável para os dois lados.”
Uma das decisões centrais da Magie foi não oferecer crédito próprio.
Em vez disso, a empresa planeja atuar como uma distribuidora de produtos financeiros — conectando o usuário a ofertas de parceiros e recebendo comissões por isso. Isso permite escalar sem correr os riscos tradicionais de inadimplência.
“Crédito é perigoso. Você cresce, mas se o cliente não paga, você quebra. Nosso modelo permite escalar mais rápido porque quem assume o risco são os parceiros, não a gente”, afirma Ramalho.
A Magie se popularizou como o “banco do WhatsApp”, mas agora precisa mostrar que é mais do que isso.
Com a entrada de grandes bancos no mesmo canal, a diferenciação está no motor por trás da interface.
“O WhatsApp é só o canal. O que a gente está construindo é a inteligência por trás. O agente", diz. "Esse agente é o que pode rodar no app, no site, no Telegram ou em qualquer lugar”.
Apesar do avanço, Ramalho reconhece que escalar um negócio B2C no Brasil é caro — especialmente em termos de aquisição de clientes. Por isso, a Magie tem priorizado investimento em produto.
A empresa opera hoje com um time de 30 pessoas, tem escritório em São Paulo e está testando funcionalidades novas com grupos de usuários. Os planos incluem ferramentas de organização financeira, previsões de gastos, gestão de investimentos e integração completa com o Open Finance.