Wilson Diniz, CEO da Cultura Inglesa: “O Brasil vive um apagão de professores de inglês, e sem docentes qualificados, não há como sustentar essa demanda que só cresce no país” (Wilson Dias/Divulgação)
Repórter
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 08h37.
A Cultura Inglesa nasceu no início da década de 1930, quando o príncipe Filipe, em visita ao Brasil, se impressionou com a predominância do francês como idioma estrangeiro falado no país. Para estimular a disseminação da língua inglesa, foram criadas associações culturais no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se tornariam a base da rede que hoje se aproxima do centenário.
“Estamos virando uma senhora startup. A tese é sair do ensino de inglês para a proposta de ensino em inglês”, diz Wilson Diniz, CEO da Cultura Inglesa desde 2024.
No segmento B2B, a rede atende 25 mil alunos em 80 escolas parceiras. A meta é triplicar esse número e chegar a 75 mil alunos até 2030, ano em que chegará ao centenário no Brasil.
O plano se ancora em três frentes: expansão por franquias, produtos digitais acessíveis e sistema bilíngue para escolas, com a faculdade própria atuando na formação e certificação docente.
“O Brasil vive um apagão de professores de inglês, principalmente em escolas bilíngue, e sem docentes qualificados, não há como sustentar esse ensino que só cresce no país,” diz Diniz.
O novo posicionamento da instituição amplia a proposta pedagógica: em vez de apenas formar alunos fluentes no idioma, a rede quer usar o inglês como veículo para transmitir diferentes conteúdos acadêmicos.
A ideia é incluir disciplinas, como matemática, no currículo bilíngue, criando uma imersão que aproxima a escola brasileira dos padrões internacionais.
“De escola tradicional a plataforma de inovação, a Cultura Inglesa quer deixar de ensinar inglês para ensinar em inglês. Não basta falar inglês: a nova aposta é aprender matemática, robótica e artes no idioma global dos negócios,” diz o CEO.Com mais de 20 anos de experiência no setor educacional, Diniz construiu sua carreira em grandes grupos privados de ensino e se especializou em projetos de expansão, fusões e aquisições.
O desafio agora como CEO da Cultura Inglesa é avançar, e além das escolas, as franquias serão um dos caminhos. Atualmente, com 60 escolas próprias e 45 franquias, a rede mira chegar a 300 unidades franqueadas até 2030, priorizando SP, RJ, RS, SC, DF, GO, BA e ES. A malha própria seguirá próxima das 60 unidades.
“O Brasil é um mercado maduro de franquias. Vamos empacotar o know-how da Cultura para atrair educadores e investidores que buscam qualidade e marca forte”, afirma Diniz.
O investimento médio para abrir uma escola de porte médio é de R$ 150 mil, com payback estimado de 12 meses e margem de cerca de 25%.
Para ampliar o alcance, a rede lançou no início deste ano o Cultura Turbo, curso on-line síncrono com professor, mensalidade de R$ 259 e duração de dois anos, levando o aluno do nível A1 ao A2 (Quadro Europeu).
“Tecnologia é aliada, não ameaça. O 'Turbo' amplia o alcance da classe C sem abrir mão de qualidade e interação”, diz o CEO.
O produto está em fase inicial, com cerca de 400 alunos, e segundo Diniz deve ganhar escala a partir de 2026.
Para enfrentar a escassez de docentes qualificados, a faculdade da Cultura Inglesa, criada há dez anos, passou a oferecer cursos de Letras também no formato EAD e programas de pós-graduação e extensão.
“A faculdade da Cultura Inglesa vai além de formar alunos: ela será uma alavanca para preparar professores e coordenadores de programas bilíngues,” afirma o CEO.
Além das aulas particulares, a rede é parceira de associações sem fins lucrativos, investindo em bolsas de estudo, por meio de três iniciativas:
“Até arrepia de falar, porque eu fui lá e vi o impacto. Não é só o idioma: é dignidade e autoestima para aquela comunidade”, diz o CEO.
A Cultura integra um e-tutor baseado na camada OpenAI/Microsoft, que responde dúvidas administrativas e acadêmicas e auxilia em speaking, writing e listening.
“Em 2024 o investimento em tecnologia representava 7% da receita líquida. Já em 2025, esse índice subiu para cerca de 10%, incluindo a frente de inteligência artificial, plataformas digitais e outras iniciativas de inovação”, diz o executivo.
Apesar de o inglês ser a língua global dos negócios, apenas 5% dos brasileiros têm fluência avançada, segundo dados da British Council. A falta de políticas públicas consistentes, aliada à baixa qualidade da educação básica, agrava a dificuldade de inserção do país no cenário global.
“Educação precisa ser um tema central, mas o Brasil nunca teve uma política de Estado para tornar a população bilíngue. Essa ausência reflete em perda de produtividade e competitividade internacional”, diz o CEO.
Em 2024, a Cultura Inglesa faturou cerca de R$ 400 milhões e projeta crescimento entre 6% e 7% em 2025. A base atual soma mais de 80 mil alunos.
Com 20 anos de experiência no setor educacional, Diniz já participou de IPOs e processos de consolidação em grandes grupos. À frente da rede desde agosto do último ano, sua meta é fazer a companhia ir mais longe, para chegar a mais pessoas.
“Sabemos que avançar com o ensino de inglês no Brasil não será um sprint de 100 metros; é uma maratona. Seja na sala de aula ou no ambiente virtual, a nossa missão será democratizar o acesso ao idioma e formar uma geração bilíngue.”