EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2011 às 16h04.
Para as empresas privadas, a Copa de 2014 no Brasil já começou. E a primeira rodada de jogos envolve os contratos para a construção ou reforma das arenas esportivas que receberão os jogos. Os projetos deverão alcançar um número máximo de 12, e cada estádio está avaliado em cerca de 100 milhões de dólares. Tanto o governo, com sua crônica incapacidade de investimento, quanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apostam no maciço apoio privado para viabilizar o evento.
O modelo será o de Parcerias Público-Privadas. Em troca dos investimentos necessários para a implantação dos projetos, os empresários ganhariam um contrato de longo prazo - no mínimo, 20 anos - para administrar as instalações esportivas, recuperar o capital e assegurar algum lucro. O desafio, agora, é encontrar grupos suficientes para bancar todas as arenas - algo que pode ser difícil em alguns casos.
As oportunidades de negócios já atraíram grandes empresas de gestão de eventos esportivos e de entretenimento. A americana The Bonham Group (TBG), por exemplo, está montando seu escritório no Rio de Janeiro. A TBG não é, propriamente, uma investidora, mas presta consultoria para quem se interessa em desenvolver projetos na área esportiva. "O Brasil já pode ser visto como o maior mercado do planeta, em termos de demanda por estrutura esportiva", afirmou a EXAME.com Dean Bonham, presidente da TBG.
"Nos próximos cinco anos, os brasileiros precisarão melhorar a estrutura de pelo menos dez estádios", completa. Apenas para a reforma ou construção dos estádios, serão necessários 1,1 bilhão de dólares, segundo estimativas preliminares da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O custo total da Copa é avaliado em 6 bilhões de dólares, incluindo os gastos públicos com infra-estrutura.
A TBG é uma das aliadas do Flamengo em um dos consórcios que disputam a administração do Maracanã. A outra é a AEG, especializada na realização de grandes eventos de entretenimento, como shows. O edital da licitação deve ser divulgado pelo governo fluminense ainda em novembro. O adversário do Flamengo na disputa é a própria CBF, que se aliou à americana IMG para participar do leilão.
Outra empresa que já desembarcou por aqui é a portuguesa Luso-Arenas. Esta sim uma investidora, a companhia pretende aplicar 1,2 bilhão de euros no Brasil nos próximos cinco anos. Os recursos serão canalizados para 11 projetos: três centros de convenções e oito arenas esportivas. Destas, cinco foram projetadas em cidades que são candidatas a receber jogos do Mundial de 2014. Entre as cidades cobiçadas pela Luso-Arenas, estariam Recife, Salvador e São Paulo
. "Nosso foco são cidades que tenham forte potencial esportivo, como clubes de futebol com uma boa marca", disse ao Portal EXAME Marco Antônio Herling, vice-presidente da empresa. A Luso-Arenas já é conhecida desde a tentativa de se associar ao Botafogo para a construção de um estádio. A parceria foi desfeita quanto o clube decidiu apostar na licitação do Estádio João Havelange, o Engenhão, construído no Rio de Janeiro para os Jogos Panamericanos.
Candidatas
Dezoito cidades disputam o direito de receber os jogos do Mundial de 2014. Até o final de 2008, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) deverá escolher entre oito e dez - a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) defende a escolha de 12. Governadores e prefeitos são os responsáveis pela defesa das candidaturas junto à Fifa e ao Comitê Organizador, uma empresa privada que será constituída até o início de 2008 e será responsável pela administração do evento.
Para viabilizar suas candidaturas, os governos locais precisam assegurar que haverá interessados em investir na construção ou reforma de suas arenas. "São as cidades que devem correr atrás dos recursos privados. Vamos cobrar apenas os prazos e a aplicação do dinheiro", avisa um dos organizadores. A primeira peneira entre as candidatas será feita pelo Comitê Organizador. Um dos critérios será a apresentação, por parte dos postulantes, de pelo menos dois grupos privados dispostos a bancar os estádios. Das 18 cidades concorrentes, 14 precisam reformar suas arenas. Outras quatro, se vitoriosas, deverão construí-las: Recife, Maceió, Natal e Salvador.
A grande maioria das arenas propostas é gerida pelos governos estaduais. Sem recursos para bancar as obras, os dois modelos em estudo são o de concessões - em que o investidor aplica todo o capital e explora o empreendimento por um longo período (no caso dos estádios, um mínimo de 20 anos) - e o das PPPs, em que a iniciativa privada investe, mediante uma contrapartida de recursos do governo.
E depois?
O problema, segundo os empresários e consultores, é distinguir quais são as boas oportunidades de negócios e quais são as bolas quadradas que podem parar nos pés das empresas. Isto porque não basta pôr o estádio em condições de receber um jogo em 2014. O vencedor da licitação de qualquer estádio ficará com ele por muito mais tempo. Será responsável por sua manutenção - um custo que pode superar 200 mil reais por mês -, e terá de retirar dele o capital investido e algum lucro. Traduzindo: se, após o Mundial, a arena ficar ociosa, serão 20 anos de potencial prejuízo para o investidor. A pergunta que todos os empresários se fazem não é como chegar até a Copa, mas o que fazer com o estádio depois dela.
Atualmente, a maior fonte de renda de um estádio brasileiro é a receita com a bilheteria dos jogos. Um dos meios de viabilizar as arenas seria compor uma parceria entre um clube forte, capaz de atrair público, e os investidores aportarão o capital e administrarão o complexo esportivo. Esse é o modelo que o Flamengo adotou para disputar o Maracanã, por exemplo. "Em 31 partidas, colocamos 1 milhão de torcedores no estádio. Respondemos por 70% da renda do futebol no Rio de Janeiro", afirma Márcio Braga, presidente do clube.
Nem todas as cidades candidatas a sediar jogos, porém, contam com um ou dois times fortes, capazes de atrair público. Muitas não possuem, inclusive, equipes na Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, o que restringe ainda mais o potencial da bilheteria.
Para aumentar a capacidade de receita das instalações, os investidores apostam em um conceito bastante difundido no exterior - o de arenas multiuso. Além de receberem partidas de futebol, as instalações também incorporam outras atividades, como praças de alimentação abertas diariamente, complexos esportivos, shows, centros comerciais e salas para eventos, entre outros. Um exemplo é o estádio do Atlético Paranaense, chamado agora de Kyocera Arena. Esse projeto também é pioneiro, no Brasil, em outra prática - o de venda de direitos de nome (naming right), já conhecido em outros setores, como o de casas de shows. "O estádio tem de funcionar sete dias por semana", diz Márcio Braga, presidente do Flamengo.
Mesmo usando a criatividade para gerar renda, a capacidade de atrair investidores para todos os projetos divide as opiniões. "Não tenho dúvidas de que haverá investimento, pois serão escolhidos grandes centros", afirma Júlio Casaris, diretor de Marketing do São Paulo. Para outros, porém, todos os esforços não conseguirão qualificar alguns candidatos. "Nem todas as cidades têm condições de atrair capital", diz Herling, da Luso-Arenas. José Carlos Brunoro, ex-jogador de vôlei e consultor de gestão esportiva, concorda. "Prefiro a posição da Fifa: menos cidades, com maior potencial de negócios".
*Colaborou Peri de Castro