Thiago Piovesan, CEO da Indigo Brasil: “A gente estima que apenas entre São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul existam mais de 4.000 grupos econômicos com esse perfil. É um mercado gigante, mas nunca priorizado” (Indigo Brasil/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de julho de 2025 às 15h36.
Nos grandes centros urbanos, a presença da Indigo é quase invisível — até o momento em que se precisa de uma vaga.
Aeroportos, arenas, hospitais, universidades, parques. São cerca de 370 operações espalhadas pelo Brasil, com mais de 400.000 vagas sob gestão e um faturamento estimado de 1,7 bilhão de reais em 2024. Mas agora, a gigante francesa quer crescer justamente onde ainda não está: em pequenas clínicas, supermercados, edifícios corporativos e academias: os estacionamentos de PMEs.
A nova iniciativa foi pensada para atender a um público desassistido: os pequenos e médios empreendimentos que não têm equipe, estrutura ou interesse em gerir seus estacionamentos.
A proposta da Indigo é simples: levar para esse segmento uma versão enxuta das soluções já usadas em grandes contratos, com automação, controle remoto e plataforma digital de gestão.
O produto começou a ser testado no primeiro semestre e deve fechar 2025 com cerca de 30 contratos. Até 2027, o plano é chegar a 300 operações — praticamente dobrando o volume atual da empresa no país.
“A gente estima que apenas entre São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul existam mais de 4.000 grupos econômicos com esse perfil. É um mercado gigante, mas nunca priorizado”, afirma Thiago Piovesan, CEO da Indigo Brasil.
Para atingir esse público, a Indigo precisou redesenhar processos. “Trabalhamos os primeiros seis meses do ano para adaptar a oferta que já existe no Canadá", diz. "Lá, esse modelo é realidade. Mas não dava para simplesmente fazer o copy paste. Precisamos tropicalizar, entender a legislação, os receios, as barreiras culturais e montar algo que faça sentido no Brasil".
O sucesso do modelo não depende só de tecnologia ou custo — mas de convencer o pequeno gestor de que o estacionamento, hoje visto como um problema logístico, pode virar um ativo estratégico.
“Nos grandes clientes, o estacionamento faz parte do core business. Em aeroportos e shoppings, ele é parte da receita. Mas em supermercados ou clínicas, é um anexo. Nosso papel é mostrar que pode haver valor ali, inclusive financeiro”, afirma.
A meta da empresa é escalar com solidez e baixo churn, o índice de perda de clientes. O modelo de contratos é flexível (de 1 a 4 anos) e a abordagem comercial está focada em grupos com múltiplas unidades, como redes de academias, clínicas, hotéis e condomínios empresariais.
O mercado brasileiro de estacionamentos é um paradoxo: movimenta bilhões, mas continua pulverizado. Estima-se que mais de 70% das operações ainda estejam nas mãos de pequenos empresários, autônomos ou redes regionais.
Mesmo gigantes como Indigo e Estapar, que administram entre 400.000 e 460.000 vagas, ainda têm uma fatia modesta do bolo: de 6% a 15%, somados.
“É um mercado extremamente regionalizado. E mesmo quando você soma os dois maiores players, ainda sobra muito espaço para crescer”, diz Piovesan. “Por isso essa ofensiva nos pequenos empreendimentos é estratégica. São contratos menores, mas com altíssimo potencial de escala.”
Hoje, a Indigo administra operações nos principais aeroportos do país, incluindo Guarulhos, Fortaleza, Curitiba, Goiânia, Salvador, Manaus e Porto Velho. Também atua em mais de 150 shoppings, em hospitais como Einstein, Sírio-Libanês e HCor, além de parques como o Ibirapuera, o Villa-Lobos e o Parque Nacional do Iguaçu.
O modelo que agora será replicado nas PMEs é baseado em automação total, atendimento remoto, sistema de cobrança digital e gestão por app — com uso de inteligência artificial para prever demanda, ajustar preços e otimizar o uso das vagas.
O grupo francês, com sede em Paris, está presente em mais de 500 cidades em 10 países. Globalmente, são 2,2 milhões de vagas sob gestão. O Brasil hoje é a terceira maior operação, atrás apenas da França e da Espanha.
A maior barreira da Indigo para entrar nesse segmento não é tecnológica — é de mentalidade.
“Muitos desses empreendimentos veem o estacionamento como um custo que precisa ser o menor possível. Eles não enxergam valor nisso”, afirma Piovesan. O desafio é mostrar que é possível transformar esse espaço em uma fonte de eficiência — ou até de receita.
Outro ponto sensível é o medo de perder cliente ao começar a cobrar pela vaga.
“Tem muito gestor com receio de que isso afaste consumidores. Mas o Indigo Light não pressupõe cobrança. O sistema pode funcionar apenas para controle de acesso, segurança, fluidez no fluxo ou integração com o consumo. Dá pra isentar estacionamento com base em quanto a pessoa gastou, por exemplo”, diz o CEO.
A resistência, segundo ele, é superável com resultados concretos. “É por isso que estamos começando com calma, com 30 operações. Vamos testar, melhorar, ajustar. A partir de 2026, queremos escalar com força.”
No modelo tradicional, conquistar um grande contrato pode levar meses — ou anos. Para escalar entre pequenos empreendimentos, a Indigo precisa ser mais ágil.
“Mudamos também nossa abordagem comercial. Criamos uma liderança específica para esse produto, com uma equipe dedicada”, afirma Piovesan.
A estrutura foi pensada para escalar com pouco. A operação é quase toda remota, com suporte técnico centralizado e sistemas de controle e pagamento digitais. “A ideia é ter o mínimo possível de gente em campo. Isso reduz custo e acelera implantação.”
Além disso, a Indigo vai focar em grupos com várias unidades. “Não faz sentido abordar um cliente com uma única operação, a não ser que seja muito estratégica. O foco são grupos que possam adotar o Indigo Light em cinco, dez, vinte unidades. Isso dá escala e dilui custo”, diz.
A meta até 2027 é chegar a 300 novos contratos só nesse modelo. Se der certo, a operação brasileira praticamente dobra de tamanho. “Desde a fusão com a PareBem, em 2022, nossa ambição era essa: dobrar de tamanho em três a quatro anos. E estamos no ritmo certo”, afirma.
A meta para 2025 é fechar com faturamento acima de 2 bilhões de reais. “Estamos entregando crescimento de dois dígitos ano a ano. E os acionistas estão muito confiantes com o mercado brasileiro”, afirma o CEO.