Rafael Gonchor, Luciano Bernardi, Rodrigo Della Rocca, Rodrigo Borer e Marcelo Cruz, da CondoConta: startup captou 72,3 milhões de reais para crescer em novos estados (CondoConta/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 13 de novembro de 2023 às 19h27.
Para algumas pessoas, é só receber o comunicado dizendo que haverá reunião de condomínio para suar frio. Discussões acaloradas e até brigas não são raras nessas assembleias. O empresário catarinense Rodrigo Della Rocca pensava muito sobre isso. “Eu me perguntava como algo tão bom, que geralmente representa a maior aquisição da vida de uma pessoa, estava com uma imagem tão negativa”, diz.
Quando criou a fintech CondoConta, em 2020, ele quis resolver justamente isso. Pensou numa plataforma que ajudasse os síndicos a fazerem uma gestão mais transparente do dinheiro do condomínio. Também queria resolver um problema comum na área: a inadimplência.
“A gente entendeu que os condomínios não tinham um produto financeiro dedicado exclusivamente a eles”, diz. “Porque o condomínio até tem CNPJ, mas não é exatamente uma empresa. É o dinheiro de várias pessoas numa única conta. E isso, às vezes, dificultava, por exemplo, a tomada de crédito”.
Na prática, a CondoConta se autointitula “banco dos condomínios”. A fintech oferece uma conta com
“Chega no dia 10, o síndico olha a conta do condomínio e vê que uma pessoa não pagou por um motivo”, diz o empresário. “Até cobrar, ir para Justiça, enfim, demora muito. Para resolver, o que é feito? Aumenta a taxa do condomínio, e os bons pagam pelos maus. No nosso produto, a gente assume a inadimplência de um condômino, cobrando uma taxa de garantia. O condomínio recebe como se todos tivessem pago, porque antecipamos o dinheiro. E a gente fatura pela taxa de garantia e por ir atrás de cobrar a dívida dessa pessoa”.
Atualmente, o CondoConta responde por mais de 650 milhões de reais em transações e 90 bilhões de reais em gestão de patrimônio condominial. E agora, acaba de receber um aporte de 72,3 milhões de reais para se consolidar como líder do setor e lançar novos produtos.
Os novos investidores, são a SYN Proptech, Endeavor Scale-Up e o venture capital voltado para proptechs e construtechs, a Terracotta Ventures, além dos atuais investidores como Redpoint eVentures e Igah Ventures.
A SYN, aliás, tem como presidente do Conselho de Administração Elie Horn, um dos maiores executivos da construção civil do Brasil e fundador da Cyrela.
Della Rocca é advogado de formação, mas a vida inteira atuou no mundo condominial: em construtora, incorporadora e sistemas de gestão para condomínio.
Foi ali que ganhou experiência e que identificou a dor do setor. Numa certa vez, um condomínio que administrava não conseguia dinheiro para instalar portaria eletrônica. O valor em caixa não era suficiente e os bancos não liberavam crédito.
Foi quando começou a conversar com seu futuro sócio e desenhar o que viria a ser a CondoConta, com sede em Florianópolis.
Esse é o sétimo investimento recebido pela fintech, que em 2021 recebeu dois aportes da Redpoint eVentures em conjunto com a Darwin Startups, e outro da Igah Ventures, que somam 22,6 milhões de reais. Em 2022, outros R$ 70 milhões foram captados pela startup para emprestar aos condomínios que desejavam realizar melhorias ou resolver sua inadimplência garantindo os recebíveis. Em 2023, receberam, no início de outubro, R$ 30 milhões via EXT Capital.
O aporte de 72,3 milhões de reais de agora será usado em duas frentes:
Dentre as novidades, o CondoConta liberou sua API de forma pública e gratuita. A ideia é que a tecnologia do banco seja integrada aos sistemas de gestão das administradoras de condomínio, o que dará mais escala para o negócio.
Com isso, querem escalar o número de transações dentro da plataforma dos atuais 650 milhões de reais para 1 bilhão de reais até metade do ano que vem.
A aposta no crescimento está atrelada a um dado: hoje o Brasil tem cerca de 500.000 condomínios, com aproximadamente 95 milhões de pessoas morando ou trabalhando neles. Desses 95 milhões, a fintech atende, hoje, 400.000. Ou seja, há muito espaço para crescer.
Mas Della Rocca entende que, para isso, precisa romper algumas barreiras, principalmente culturais. Rompimentos que já vêm acontecendo, segundo ele. “Estamos vivendo uma mudança que é benéfica para a CondoConta”, diz. “Até alguns anos, o síndico era o senhor que estava aposentado e tinha mais tempo para cuidar do condomínio. Agora, acontece uma profissionalização. É um novo perfil, que vem com uma mudança de mentalidade”.
Mesmo assim, o empresário entende que é uma missão da empresa educar o mercado e criar espaços para que mais condomínios virem clientes do banco. Nesse caminho, vai torcendo, também, para que haja cada vez menos brigas nas reuniões.