Jyoti Bansal, CEO da Harness: antes de ter a startup, o executivo fundou outro negócio vendido por 17 bilhões de reais
Repórter de Negócios
Publicado em 22 de setembro de 2023 às 11h26.
De São Francisco, Califórnia*
Duas são as frentes de atuação para crescer a receita da Harness, startup de São Francisco, nos Estados Unidos, avaliada em 3,7 bilhões de dólares, cerca de 17 bilhões de reais. A empresa fornece uma plataforma para facilitar o trabalho de desenvolvedores de softwares, eliminando “a parte chata”, como procurar e sinalizar onde ocorreu uma quebra no código do site.
Uma das estratégias de crescimento, claro, é conseguir ampliar o portfólio de clientes, principalmente olhando para fora dos Estados Unidos. Neste cenário, o Brasil é uma aposta forte da companhia norte-americana. A outra é desenvolver novos produtos para os atuais consumidores. E olhando para isso, a Harness lançou, de uma única vez, quatro novos produtos. Os anúncios foram feitos em uma conferência que a empresa organizou para clientes de todo o mundo em São Francisco.
“Estamos crescendo nosso faturamento por uma combinação de novos produtos e novos clientes”, diz o fundador e CEO da Harness, Jyoti Bansal, em entrevista à EXAME na sede da empresa em São Francisco. “A Harness ainda é uma empresa pequena em termos do que poderia ser. Portanto, nos concentramos muito em adquirir novos clientes, eu diria que cerca de 60% do nosso negócio vem de novos clientes. Mas 40% do negócio já é vender novos produtos aos clientes existentes. Portanto, é uma mistura saudável. Quanto mais novos clientes adquirirmos, mais poderemos continuar a oferecer novos produtos a eles”.
A meta é aumentar o faturamento a ponto de viabilizar uma oferta inicial de ações na Nasdaq, uma das maiores bolsas de ações dos Estados Unidos e do mundo. A empresa não abre sua receita anual, mas uma estimativa da Growjo, uma plataforma que analisa as startups com maior crescimento, indica que a Harness já esteja faturando cerca de 180 milhões de dólares anualmente, cerca de 888 milhões de reais.
O principal novo produto apresentado pela Harness é uma plataforma para que os desenvolvedores de software consigam gerenciar o código-fonte. O código, na linguagem da tecnologia da informação, é o “bastidor” de um site, o que permite ao usuário final mexer e visualizar a plataforma. Todas as cores, cliques e ações dentro um site na verdade são um conjunto de comandos que são escritos por códigos.
Segundo a empresa, é o primeiro novo gerenciador de código-fonte lançado em 10 anos. Até então, a Harness ajudava nesse gerenciamento, mas incorporando sua tecnologia a plataformas de terceiros. A partir de agora, todo o processo poderá ser feito dentro de plataformas da própria startup.
Na prática, é uma plataforma em que o desenvolvedor pode colocar o código e gerenciar tudo por ali, sem precisar de ferramentas adicionais. Ele pode por regras de quem consegue acessar e mexer no código e pode incorporar regras em que, caso um código mude em alguma parte do sistema, todo restante seja atualizado, para não quebrar.
“Hoje, os desenvolvedores e as equipes enfrentam dois problemas principais no desenvolvimento de software tradicional: a falta de plataformas de código aberto de qualidade e a complexidade do gerenciamento de múltiplas ferramentas”, diz Luis Redda, chefe da equipe de engenharia da Harness na América Latina.
Mas qual a diferença desse "organizador" de códigos da Harness dos demais do mercado? “Tivemos a oportunidade de pensar nisso com a inteligência artificial em mente”, diz o CTO da Harness, Nick Durkin. “Portanto, foi construído desde o início com a ideia da inteligência artificial embutida. Ao contrário de outros que tiveram que se adaptar a isso, começamos por aí”.
Nesse caso, a inteligência artificial vai funcionar da seguinte forma: o desenvolvedor poderá perguntar para o robô, em linguagem humana - e não de códigos - sobre o projeto que está desenvolvendo. Se ele quiser, por exemplo, localizar uma área específica do código e trocar alguma função, ele não precisará necessariamente buscar nos quilômetros de números e comandos. Ele pede à inteligência artificial e ela localiza e faz as alterações para ele.
Os outros três produtos lançados no evento foram:
O cliente da Harness é o time de tecnologia de uma empresa. Isso porque o principal produto da empresa é um software que permite agilizar o desenvolvimento de softwares e aplicativos. A Harness detecta, por exemplo, a qualidade das implantações e reverte automaticamente as com falha, economizando tempo e reduzindo a necessidade de revisão e mudanças personalizadas e com supervisão manual. “A gente devolve aos engenheiros de tecnologia seus fins de semana e madrugadas”, diz o CEO Bansal.
Nos Estados Unidos, onde nasceu em 2017, a gama de clientes já está bem consolidada. Atendem bancos, companhias aéreas e redes de varejo. A meta de achar novos times de engenharia para consumir os produtos agora conta com a globalização da companhia. Nesse caminho, a América Latina, e principalmente o Brasil, é um ponto-chave.
“Nos últimos anos, criamos times no Brasil, no México, em muitos países europeus e na Austrália”, diz Bansal. “Vendemos e temos clientes em cerca de 50 países atualmente, e queremos expandir mais no mercado internacional, especialmente nos mercados da América Latina”.
No Brasil, a Harness atua desde 2019, mas ganhou escala mesmo neste ano, quando ampliou a equipe e consolidou um time de engenharia local. “Acreditamos que o Brasil tem a maior oportunidade, pois há muitos desenvolvedores de software”, afirma o executivo. “Analisamos muitos dados sobre onde os desenvolvedores de software estão, e o Brasil está muito bem posicionado nesse aspecto. Por isso, estamos empolgados com o mercado brasileiro”.
O crescimento da receita e a estratégia de expandir produtos e clientes faz parte da trilha de desenvolvimento da Harness para tornar-se uma empresa de capital aberto. Esse é um dos principais desejos de Bansal: ver a Harness listada em Nasdaq, a bolsa de valores responsável por grandes empresas de tecnologia, como Apple, Google, Amazon e Microsoft.
"Nosso objetivo é continuar construindo produtos para a experiência dos desenvolvedores, simplificando a experiência dos desenvolvedores de software", afirma. "Nosso plano é abrir o capital em alguns anos. Na AppDynamics, minha empresa anterior, vendi um dia antes do IPO. Dessa vez, não quero vender, então nosso objetivo é ser uma empresa pública em algum momento e continuar construindo novos produtos a longo prazo".
Sobre a trajetória de Bansal, leia também: Este indiano criou dois negócios de R$ 17 bilhões e dá a receita: "Faça algo que você pode ser bom"
*A reportagem da EXAME viajou a São Francisco a convite da Harness