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Esta startup acaba de atingir o lucro. Agora quer criar uma “fábrica de inteligência artificial”

Com mais de 120 mil usuários e lucro pela primeira vez, a startup lança modelo para transformar especialistas e consultories em donos de softwares com IA

Bruno Bannach, da Jestor: "“Hoje, quem entende de um setor específico pode transformar esse conhecimento em um negócio escalável com IA" (Jestor/Divulgação)

Bruno Bannach, da Jestor: "“Hoje, quem entende de um setor específico pode transformar esse conhecimento em um negócio escalável com IA" (Jestor/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 28 de junho de 2025 às 08h02.

Tudo começou com uma planilha. A mãe de Bruno Bannach, dona de uma farmácia no interior de Santa Catarina, não conseguia saber nem quanto tinha de estoque. O sistema de gestão era caro, lento — e complicado demais. “Se eu apertar no botão errado, estraga tudo”, ela dizia. Bruno achou aquilo um absurdo. Decidiu criar um sistema simples, personalizável e barato.

Nascia ali a Jestor, uma startup que nasceu para substituir planilhas e sistemas engessados com uma plataforma feita para que qualquer gestor montasse suas próprias ferramentas de gestão.

Cinco anos depois, a plataforma chegou ao breakeven, o ponto de equilíbrio entre receitas e despesas.

E agora a Jestor entra numa nova fase: quer permitir que qualquer pessoa ou empresa crie seu próprio sistema com inteligência artificial — com a sua marca, seu jeito e seus clientes.

Pode ser um consultor que monta um software para vender. Ou uma empresa que quer usar um sistema com a própria identidade visual, feito sob medida para a sua operação.

Funciona como uma “fábrica de IA”: a Jestor cuida da parte técnica, e o cliente monta o sistema em cima. Dá para criar um app de gestão de contratos para advogados, um painel de estoque para mercados, ou uma central de atendimento automatizada. Depois, é só usar ou revender — como produto, não mais como serviço.

“Hoje, quem entende de um setor específico pode transformar esse conhecimento em um negócio escalável com IA, sem precisar ser programador ou dono de uma software house”, afirma Bannach.

O modelo, chamado de white label, ainda está em teste com um grupo de clientes. Mas deve ser liberado para mais usuários nos próximos meses. A expectativa é que, em alguns anos, ele represente até 80% da receita da Jestor.

Como nasceu a Jestor

Antes de fundar a Jestor, Bruno passou por banco, consultoria, IBM e startups — mas foi ao tentar ajudar a mãe, na farmácia da família, que a ideia tomou forma.

O sistema que ela usava era tão complexo que ela preferia manter tudo no Excel. “Era um servidor dentro da farmácia, custava 400 reais por mês e nem resolvia o problema”, diz ele.

Bruno começou a buscar ferramentas mais simples e acessíveis, mas não encontrou nada que funcionasse de forma flexível e fácil.

“As boas soluções custavam 30.000, 40.000 reais só para começar. Não fazia sentido para uma farmácia pequena.”

A dor da mãe era a mesma de vários empreendedores com quem conversou — e virou oportunidade.

O objetivo era criar uma plataforma que qualquer gestor pudesse adaptar sozinho à realidade do seu negócio. Sem código, sem consultoria, sem depender do fornecedor para tudo.

Como funciona a “fábrica de IA” do Jestor

Hoje, a Jestor permite que empresas criem seus próprios sistemas internos com automações, dashboards, aplicativos e fluxos de trabalho personalizados.

Mas o novo modelo leva isso a outro nível: permite que consultores criem produtos com sua própria marca, usando a infraestrutura do Jestor como motor.

A ideia surgiu observando o comportamento dos próprios clientes. “Tinha gente com seis, sete contas diferentes. Quando fomos entender, vimos que não eram empresas diferentes, mas consultores usando o Jestor para atender os clientes deles”, afirma Bannach.

Esses profissionais montavam sistemas sob medida para nichos específicos — como escritórios de advocacia, mercados, clínicas — mas dependiam de um modelo de serviço. O white label transforma isso em produto.

“O consultor pode criar o sistema uma vez, customizar para cada cliente, e escalar com margem, recorrência e marca própria. A gente cuida da infraestrutura e ele se concentra em distribuir”, explica.

A cobrança, em vez de ser por usuário, funciona por uso — como uma conta de luz. O criador pode cobrar quanto quiser dos seus clientes e construir seu modelo de negócios em cima disso.

O mercado: de plataforma horizontal a rede de micro-SaaS

A Jestor enxerga um movimento no mercado: a personalização radical dos softwares de gestão.

Ferramentas como GPTs e plataformas de geração automática de apps estão mudando a expectativa do usuário, que agora quer soluções sob medida, não produtos de prateleira.

“O SaaS tradicional está sendo desafiado. As pessoas querem um sistema que se adapte 100% à operação delas, com IA incluída. E hoje isso é possível”, diz o fundador.

O plano da Jestor é virar a plataforma por trás de dezenas — ou centenas — de softwares criados por terceiros. Uma rede de micro-SaaS, cada um para um nicho específico, mas rodando sobre a mesma estrutura.

Para isso, a empresa investe em uma experiência simplificada: onboarding assistido, assistente com IA generativa para criar apps com comandos simples, e templates para acelerar a implementação.

Desafios: simplificar, escalar e ser financeiramente viável

O modelo ainda está em teste com uma base reduzida de clientes — especialmente os que já usavam múltiplas contas. A meta é entender qual precificação funciona, quanto os implementadores conseguem lucrar e como manter tudo simples de operar.

“Estamos estudando um modelo de revenue share. Assim, o implementador não toma susto com um pico de uso. Ele paga um percentual do que fatura. Fica mais justo e previsível”, afirma Bannach.

O desafio está em manter a curva de aprendizado baixa — já que a plataforma é horizontal e serve para casos diversos, de RH a logística. A aposta é que, uma vez que o usuário resolve o primeiro problema, ele expanda o uso para outros setores da empresa.

“Empresas são movidas a planilhas. Sempre vai ter uma planilha para substituir, um processo para automatizar. E agora com IA, dá para ir além: criar agentes que executam mesmo as tarefas”, diz.

Concorrência: de papel e caneta a Salesforce

O mercado é competitivo e pulverizado. A Jestor disputa espaço com CRMs, ERPs, plataformas de automação, ferramentas no-code e até o bom e velho Excel.

“Nossa concorrência vai de papel e caneta até Salesforce. Mas o nosso diferencial é combinar simplicidade com potência. A gente entrega IA de ponta para quem nem sabe o que é GPT”, afirma Bannach.

Com IA generativa entrando no vocabulário do usuário comum, a adoção está mais fácil.

“Hoje, até minha mãe usa o GPT. Isso mudou tudo. O cliente chega já sabendo o que esperar — e quer algo que funcione de verdade.”

A Jestor foi fundada no fim de 2019 e já captou 2,2 milhões de dólares, com investidores como Y Combinator, Canary, Rebel, FundersClub e Soma Capital. Entre os investidores-anjo estão nomes como Renato Freitas (99) e Paulo Silveira (Alura).

Agora, com as contas equilibradas e um modelo escalável na manga, a meta é transformar especialistas em software makers — e criar, com isso, uma nova forma de distribuir inteligência artificial.

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