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Esta gigante de R$ 7 bi está em todo carro novo — e tem um novo investimento milionário no Brasil

Responsável por tecnologias que evitam acidentes, empresa aposta em produção local para ganhar escala e agilidade

Carlos Delich, presidente da ZF América do Sul: “O carro autônomo ainda está distante, mas esse é o primeiro passo. As câmeras inteligentes vão preparar os veículos para esse futuro, ao mesmo tempo que ajudam a salvar vidas hoje” (ZF/Divulgação)

Carlos Delich, presidente da ZF América do Sul: “O carro autônomo ainda está distante, mas esse é o primeiro passo. As câmeras inteligentes vão preparar os veículos para esse futuro, ao mesmo tempo que ajudam a salvar vidas hoje” (ZF/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 15 de outubro de 2025 às 12h20.

Última atualização em 15 de outubro de 2025 às 12h31.

Frenagem automática, farol alto que regula sozinho e alertas de faixa que impedem o carro de sair da estrada. Essas tecnologias, que pareciam coisa de carro de luxo até pouco tempo atrás, estão se espalhando rápido nos modelos vendidos no Brasil.

E por trás de boa parte delas está uma empresa que quase ninguém conhece — mas está em praticamente todo carro novo fabricado no país.

A alemã ZF, uma gigante global de autopeças, fornece câmeras inteligentes, sistemas de freio, direção elétrica, módulos de airbag e outros componentes usados por praticamente todas as montadoras que atuam no Brasil, segundo a própria empresa.

Só na América do Sul, a companhia faturou 7,6 bilhões de reais em 2024. No mundo todo, foram 41,4 bilhões de euros.

Agora, a empresa decidiu trazer ao Brasil a produção local de suas câmeras frontais inteligentes — uma tecnologia essencial para sistemas de assistência ao motorista, conhecidos como ADAS.

O investimento é de 35 milhões de reais na planta de Limeira, no interior de São Paulo, que passa a produzir, pela primeira vez, um equipamento que antes vinha 100% importado da Europa ou da Ásia.

“O carro autônomo ainda está distante, mas esse é o primeiro passo. As câmeras inteligentes vão preparar os veículos para esse futuro, ao mesmo tempo que ajudam a salvar vidas hoje”, afirma Carlos Delich, presidente da ZF América do Sul.

Com o investimento, a empresa ganha velocidade de entrega para as montadoras brasileiras, reduz risco de importação e se posiciona para crescer num mercado que deve dobrar de tamanho até 2030.

Hoje, 40% dos carros novos já saem com câmera inteligente. Em cinco anos, devem ser 78%”, diz Delich.

Quem é o grupo alemão ZF

Mesmo com mais de 160.000 funcionários e presença em 30 países, a ZF ainda é um nome desconhecido da maior parte do público.

Mas isso não impede a empresa de estar presente em boa parte dos veículos que rodam no Brasil — especialmente nos componentes que garantem segurança e desempenho.

“É muito provável que, se você comprou um carro novo nos últimos anos, ele tenha pelo menos uma peça da ZF instalada”, afirma Plínio Casante, head da divisão de eletrônicos da empresa na América do Sul.

Desde 2013, a unidade de Limeira já produziu mais de 8 milhões de módulos eletrônicos, entre eles sistemas de freio, direção e airbag.

Esse trabalho de bastidor inclui também outros projetos desenvolvidos localmente, como o eixo agrícola para cana-de-açúcar e freios de estacionamento elétricos.

A lógica é sempre adaptar o produto às condições específicas do mercado brasileiro.

“A gente escuta o cliente, entende a aplicação local e desenvolve soluções aqui mesmo, com foco em performance e agilidade”, diz Delich.

A empresa mantém centros de competência em engenharia na América do Sul justamente para acelerar essa adaptação. São eles que permitem responder às demandas de montadoras que operam sob condições climáticas, rodoviárias e econômicas muito diferentes das da Europa ou Ásia.

Esse modelo de operação “local para local” vem sendo reforçado nos últimos anos.

“Cada vez mais, vemos a importância de estar perto do cliente, com suporte técnico, engenharia e produção local”, afirma Casante. “Especialmente quando falamos de tecnologias críticas como câmeras inteligentes.”

Por que nacionalizar

O principal gatilho para a nacionalização das câmeras frontais foi a necessidade de encurtar o tempo de resposta às montadoras. Antes, qualquer pedido dependia de importação da Europa ou Ásia, com prazos médios de até 90 dias e exposição a riscos cambiais, logísticos e até geopolíticos.

“Se der qualquer problema no lote importado, você tem 90 dias de prejuízo. Agora, com produção local, conseguimos responder em uma semana”, diz Casante. Isso reduz os custos, melhora o fluxo de caixa e permite uma gestão de estoque mais eficiente para os clientes.

A questão tributária também pesou na decisão. O imposto de importação para esse tipo de produto, que hoje é reduzido por isenção (ex-tarifário), vai subir para 20% a partir do fim de 2025. Produzir no Brasil se torna não só mais rápido, mas também mais competitivo financeiramente.

Além disso, há incentivos do programa Mover, que oferece crédito para empresas que investem em pesquisa, desenvolvimento e nacionalização de tecnologias. Segundo a ZF, os recursos serão usados para validar localmente os sistemas ADAS e ampliar a estrutura da linha de produção em Limeira.

“O mundo está mais instável. Greves, atrasos logísticos, guerras, crises climáticas… tudo impacta a cadeia global. Ter produção local reduz drasticamente essa exposição”, afirma Delich. “É um investimento estratégico.”

Como vai funcionar a câmera frontal

Na prática, a câmera frontal inteligente funciona como os “olhos” do carro moderno. Ela capta o que acontece na via e envia as informações para um sistema que interpreta os dados, toma decisões e, se necessário, age automaticamente para evitar acidentes.

“Ela monitora 36 quadros por segundo, reconhece veículos, pedestres, ciclistas, até animais de grande porte. E se identificar risco, pode frear o carro sozinha”, afirma Casante.

Além disso, oferece assistência de permanência em faixa, reconhecimento de placas de velocidade e farol alto automático.

Além de conforto e conveniência, as câmeras inteligentes têm efeito direto na segurança. Segundo dados da PRF, mais de 80% dos acidentes no Brasil envolvem causas evitáveis — como colisões, saída de pista ou atropelamentos. As câmeras ajudam a evitar justamente essas situações.

“Estamos falando de salvar vidas. A tecnologia já existe, o desafio agora é torná-la acessível para todos”, diz Delich.

A adoção em massa ainda depende de dois fatores: exigência legal e escala de produção. O Latin NCAP já considera esses sistemas na nota de segurança dos carros vendidos na região. E há expectativa de que o Contran regulamente a obrigatoriedade de itens como frenagem autônoma e assistência de faixa nos próximos anos.

Para o consumidor final, isso representa uma tendência clara: em breve, ter um carro sem esses sistemas será como dirigir sem cinto de segurança. “Antes, controle de estabilidade era opcional. Hoje é padrão. Com as câmeras, vai acontecer a mesma coisa”, afirma Casante.

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