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Esta empresa torna a vida do cambista um inferno. E vai faturar R$ 30 milhões

Lei que torna o uso de biometria facial como controle de acesso obrigatório em estádios com mais de 20 mil lugares deve alavancar negócio do empreendedor Ricardo Cadar

Ricardo Cadar, da Bepass: "Nossa meta é nos consolidar no Brasil e levar a solução para ligas esportivas internacionais" (Bepass/Divulgação)

Ricardo Cadar, da Bepass: "Nossa meta é nos consolidar no Brasil e levar a solução para ligas esportivas internacionais" (Bepass/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 13h19.

Última atualização em 27 de janeiro de 2025 às 13h31.

Esqueça os cambistas, os ingressos falsos e as filas intermináveis. A partir de junho de 2025, nos estádios brasileiros com mais de 20 mil lugares, a sua cara será o seu ingresso. Isso porque a Lei Geral do Esporte tornou obrigatório o uso de biometria facial como controle de acesso.

A mudança promete segurança, mas também abriu espaço para um novo jogo: o das empresas de tecnologia.

É aqui que entra a Bepass, uma startup brasileira especializada em biometria facial. Fundada em 2022 por Ricardo Cadar, a empresa já tem contratos com grandes estádios, como Allianz Parque, em São Paulo, e Maracanã, no Rio de Janeiro, e eventos de peso, como a Festa do Peão de Barretos.

Agora, com a obrigatoriedade imposta pela nova legislação, a Bepass vive um momento estratégico. Em 2024, a empresa faturou R$ 9 milhões e prevê saltar para R$ 30 milhões em 2025, um crescimento de mais de 200%.

"A Lei Geral do Esporte é uma grande oportunidade para consolidarmos nosso mercado no Brasil", afirma Cadar.

Outro foco para 2025 é a internacionalização. A Bepass está de olho nos mercados do México, Estados Unidos e Europa, onde pretende replicar o modelo que já funciona por aqui.

“Nossa meta é nos consolidar no Brasil e levar a solução para ligas esportivas internacionais", diz. "O potencial dos Estados Unidos, com esportes como NFL, NBA e MLB, é gigantesco.”

De condomínio a estádio: qual é a história da Bepass

A Bepass nasceu em agosto de 2022, mas a trajetória do fundador Ricardo Cadar com biometria facial começou bem antes.

Engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, ele iniciou sua carreira no setor de construção, mas mudou completamente de direção ao passar dois anos nos Estados Unidos, entre 2016 e 2018. Foi lá que ele mergulhou no mundo da tecnologia.

“Eu sempre gostei de tecnologia, mas como usuário. Nos Estados Unidos, vi o potencial da biometria facial e comecei a estudar mais o tema”, afirma Cadar.

Em 2019, ao retornar ao Brasil, ele assumiu uma empresa de soluções de biometria facial voltada para o setor público. O trabalho envolvia escolas e órgãos governamentais, mas, segundo ele, não era o mercado que mais o atraía.

Em 2022, Ricardo fundou a Bepass, inicialmente com foco em condomínios comerciais. A ideia era facilitar o acesso a prédios corporativos: bastaria um cadastro único para entrar em qualquer edifício participante.

“Achei que era um saco ter de fazer cadastro novo em cada lugar que eu visitava. Queria simplificar isso”, afirma o fundador.

Mas os planos mudaram quando Leila Pereira, presidente do Palmeiras, buscava uma solução para acabar com o cambismo no Allianz Parque. A biometria facial parecia ideal para resolver o problema. O contrato com o Palmeiras foi assinado e, ao final de 2022, a Bepass implementou o primeiro sistema 100% biométrico de um estádio no mundo.

“Lançamos uma tecnologia nova e conseguimos resultados rápidos. Eliminamos os cambistas e triplicamos a eficiência na entrada dos torcedores”, diz Cadar.

Hoje, a Bepass é referência no setor, com sistemas instalados em estádios como Arena Fonte Nova, Arena do Grêmio e Vila Belmiro. A startup também atende grandes eventos, como o Jaguariúna Rodeo Festival e a Brasil Game Show.

Como a Bepass funciona

A tecnologia da Bepass é simples para o torcedor, mas extremamente robusta nos bastidores.

O processo começa com o cadastro online, feito pelo celular no momento da compra do ingresso. O usuário tira uma selfie e uma foto de um documento oficial. A tecnologia da Bepass faz o "match" entre a selfie e o documento, verifica a autenticidade dos dados e ainda cruza informações com bases governamentais para checar eventuais pendências, como mandados de prisão.

"Nosso sistema é integrado ao programa Estado Seguro, do Ministério da Justiça. Qualquer problema com o torcedor, como um descumprimento de sentença, é sinalizado e enviado às autoridades", afirma Cadar.

Na entrada do estádio ou evento, o processo é simples: o torcedor passa pela catraca, olha para o leitor biométrico e pronto. Não há necessidade de ingressos físicos ou QR codes. "Eliminamos filas, tornamos os eventos mais seguros e acabamos com problemas como cambismo e falsificação de ingressos", afirma o CEO.

Atualmente, a Bepass atende cerca de 12 estádios de futebol no Brasil e tem 3 milhões de torcedores cadastrados na plataforma. Além disso, eventos como o Carnaval, o Réveillon de Carneiros e grandes festivais de música estão na carteira da startup.

Quais são os planos futuros

Para 2025, a Bepass tem duas grandes apostas. A primeira é o lançamento de um sistema de pagamento por reconhecimento facial, que deve começar a operar no início do ano.

A ideia é simples: o torcedor vincula seu cartão de crédito ao perfil cadastrado na plataforma. Depois, basta olhar para o leitor biométrico para pagar o consumo no estádio. “É algo inédito no Brasil. Estamos desenvolvendo em parceria com a Visa, e será um marco para melhorar a experiência dos torcedores”, diz Ricardo Cadar.

A segunda aposta é a expansão internacional. A empresa está focada em mercados como México e Estados Unidos, onde esportes como basquete, futebol americano e hóquei atraem milhões de espectadores. O mercado global de reconhecimento facial, que deve movimentar US$ 6,61 bilhões em 2024, é um campo fértil para a startup.

“Os problemas de segurança e cambismo que vemos no Brasil também existem em outros lugares. Temos a solução, agora é só adaptar ao contexto local”, afirma Cadar.

Além disso, a Bepass já começou a prospectar clientes na Europa, outro mercado promissor. Segundo projeções, o mercado global de biometria facial deve crescer a uma taxa de 16% ao ano, atingindo US$ 14 bilhões até 2029.

"Queremos ser líderes globais em acesso por biometria facial. A tecnologia está pronta, e a demanda só cresce”, diz o CEO.

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