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Ele construiu um império de carros elétricos "anti-Tesla". E agora tem R$ 680 milhões para investir

Com uma abordagem mais prática e menos polêmica, a Rivian quer ocupar o espaço deixado pelos desiludidos da Tesla

RJ Scaringe, da Rivian: "Estamos redesenhando tudo para produzir mais com menos” (Patrick T. Fallon/Getty Images)

RJ Scaringe, da Rivian: "Estamos redesenhando tudo para produzir mais com menos” (Patrick T. Fallon/Getty Images)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 6 de maio de 2025 às 10h26.

Última atualização em 7 de maio de 2025 às 10h31.

O mercado de carros elétricos vive uma transição turbulenta. Enquanto a Tesla perde fôlego nos Estados Unidos, uma nova leva de concorrentes tenta preencher o vazio — com menos polêmica, mais engenharia, e muito dinheiro em jogo.

A Rivian é hoje o nome mais promissor entre eles.

Fundada em 2009 por RJ Scaringe, engenheiro formado pelo MIT, a Rivian fabrica SUVs e picapes elétricas com um apelo diferente: menos “futurismo” e mais funcionalidade. O plano da empresa é simples — e ambicioso: “Queremos ser a escolha de quem cansou da conversa e só quer um bom carro”, afirmou Scaringe à Bloomberg.

Agora, a Rivian acaba de anunciar um investimento de 120 milhões de dólares (cerca de 680 milhões de reais) para construir um novo parque de fornecedores no estado de Illinois.

A medida faz parte da reestruturação industrial da companhia, que também transferiu para o mesmo estado a produção do seu SUV de entrada, o R2, antes prevista para a Geórgia.

“Temos que entregar carros que o consumidor quer, e isso inclui preço acessível, design único e zero enrolação com promessas de carro autônomo que nunca chegam”, disse Scaringe.

O futuro imediato da empresa passa por destravar a produção em massa.

Com o novo parque industrial e o reaproveitamento de uma antiga fábrica da Mitsubishi, a meta da Rivian é começar a produzir o R2 no primeiro semestre de 2026. A promessa é um modelo mais barato, prático e, ainda assim, com o DNA robusto da marca.

Leia também: Vendas voltam a desabar e Tesla perde mercado para BYD e Volks na Europa

Um "anti-Tesla" com seguidores fiéis

Em vez de memes e polêmicas nas redes sociais, os fãs da Rivian trocam dicas sobre pneus e barracas de teto. São motoristas que cansaram, principalmente, das polêmicas da Tesla.

Um deles, Chris Hilbert, contou à Bloomberg que trocou seu Model X por um Rivian R1S — e não se arrepende.

“A Rivian é o oposto da Tesla. O carro é bom, entrega o que promete e a comunidade é saudável. Ninguém aqui está investindo em ações, estamos só curtindo dirigir.”, disse.

A Rivian virou refúgio de ex-tesleiros desiludidos com Musk. Gente que não quer mais ouvir sobre “robô-táxi” ou “inteligência artificial revolucionária”, e só quer um SUV para levar os filhos para a escola — de preferência, sem precisar parar num posto de gasolina.

Bilhões em jogo e pouco espaço para erro

Apesar da base fiel e dos novos investimentos, a empresa ainda opera no vermelho.

Em 2022, perdeu 6,8 bilhões de dólares, e já passou por três rodadas de demissões. Os custos altos vieram de um erro clássico: querer fazer o melhor carro possível antes de escalar a produção.

“Nosso custo por veículo era inviável. Agora estamos redesenhando tudo para produzir mais com menos”, contou Scaringe à Bloomberg.

O modelo de software também é uma aposta estratégica. Em vez de comprar sistemas prontos, a Rivian projeta seus próprios computadores e softwares embarcados.

Essa tecnologia chamou a atenção da Volkswagen, que firmou no ano passado uma parceria que pode render até 5 bilhões de dólares à startup — e abrir um novo negócio de licenciamento com outras montadoras.

Produção e novos incentivos

A decisão de mudar a produção do R2 para Illinois foi estratégica — e também política. Com isso, a Rivian garantiu um pacote de incentivos de 827 milhões de dólares do estado. “Tivemos que escolher onde era possível começar mais rápido e mais barato”, explicou Scaringe.

A fábrica planejada na Geórgia foi adiado, e o governador local classificou o atraso como “decepcionante”. Além disso, a empresa resiste à sindicalização — um ponto sensível em negociações com o governo federal, especialmente com os fundos previstos pela Lei de Redução da Inflação.

Se a Rivian vai decolar ou repetir o destino de outras “anti-Teslas” ainda é incerto. Mas há uma coisa que Scaringe não quer repetir: a persona de Elon Musk.

“Queremos construir uma marca de confiança, não um culto à personalidade”, diz.

Enquanto a Tesla aposta tudo em promessas de autonomia total e carros sem volante, a Rivian mira o essencial: vender um SUV elétrico que seja bom, confiável e — quem sabe — barato.

Qual é a história da Rivian

A Rivian nasceu em 2009 com outro nome — Mainstream Motors — e uma proposta inicial bem diferente: criar um SUV esportivo elétrico. O plano não deu certo. Mas o fundador RJ Scaringe, engenheiro mecânico formado pelo MIT, percebeu que havia um buraco no mercado: ninguém fazia SUVs e picapes elétricas para quem queria acampar, explorar trilhas ou simplesmente carregar a família sem gastar gasolina.

Foi aí que a empresa, hoje sediada em Michigan e com operação central em Illinois, mudou o foco. Em 2018, apresentou os protótipos do R1T (uma picape) e do R1S (um SUV de três fileiras).

A proposta chamou atenção de gigantes como a Amazon, que encomendou 100 mil vans elétricas de entrega, e da Ford, que investiu meio bilhão de dólares.

O IPO veio em 2021, com um pico de valorização que colocou a Rivian acima de montadoras tradicionais. Mas o hype virou pressão: em 2022, a empresa viu as ações despencarem e teve que cortar custos. Ainda assim, o R1S terminou 2023 como o SUV elétrico mais vendido nos EUA na sua faixa de preço, segundo a Kelley Blue Book.

Scaringe continua no comando. Nascido na Flórida e apaixonado por carros e natureza, ele criou a Rivian para resolver um dilema pessoal: como dirigir sem destruir o planeta. E, ao que tudo indica, ainda é isso que o move.

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