Kavin Mittal, fundador do Hike: mesmo valendo milhões, empresa 'pivotou' três vezes (Mohd Zakir/Hindustan Times via Getty Images)
Repórter
Publicado em 14 de setembro de 2025 às 19h45.
A Hike, que já foi um dos nomes mais promissores do setor de tecnologia na Índia, encerrou as atividades em setembro de 2025. A decisão veio após a proibição federal dos jogos de aposta em dinheiro real, medida que derrubou parte da nova geração de unicórnios do país asiático.
O fundador e CEO, Kavin Bharti Mittal, afirmou que manter a operação nos Estados Unidos exigiria uma reestruturação completa da operação global. "Não vale o investimento de tempo ou capital", escreveu.
A startup, que nasceu como um rival local do WhatsApp em 2012, passou por múltiplas transformações ao longo dos últimos anos. A mais recente aposta foi a Rush, plataforma de jogos de aposta, que gerou mais de US$ 500 milhões em receita bruta entre 2021 e 2025.
No entanto, a sanção do Promotion and Regulation of Online Gaming Act, em agosto deste ano, impediu esse modelo de operação em toda a Índia.
A história da Hike ajuda a entender o ciclo de ascensão e queda de algumas startups na Índia. A empresa foi fundada por Kavin Mittal, filho de Sunil Bharti Mittal, bilionário e fundador da operadora Airtel.
Desde cedo, a companhia atraiu investidores de peso como Tencent, SoftBank, Tiger Global e Foxconn. Em 2016, alcançou o status de unicórnio após levantar US$ 175 milhões e atingir uma avaliação de mercado de US$ 1,4 bilhão.
Com o aporte chinês, a Hike adotou a estratégia que levou o WeChat ao sucesso: integrar serviços ao redor da mensagem. Entre 2016 e 2019, o aplicativo indiano oferecia jogos, serviço de notícias, cupons, figurinhas personalizadas e pagamentos. A audiência jovem era seu alvo: 90% dos usuários estavam abaixo dos 30 anos.
Apesar da variedade de funcionalidades, a Hike nunca conseguiu se consolidar como concorrente real do WhatsApp, que na época ultrapassava 450 milhões de usuários ativos na Índia.
Em 2021, a empresa encerrou o app de mensagens e anunciou um reposicionamento completo para focar em produtos sociais e jogos digitais. O foco passou a ser na monetização por meio de jogos com recompensas em dinheiro, uma tendência crescente na Índia (e no mundo) até a recente regulação.
A Rush acumulou mais de 10 milhões de usuários. Agora, com o fim da operação, entra para a lista de baixas provocadas pela nova legislação — ao lado de empresas como MPL e Dream Sports.
A mudança central aconteceu em agosto de 2025, quando o governo indiano sancionou o Promotion and Regulation of Online Gaming Act, uma lei que proíbe completamente os jogos de aposta online. A medida foi justificada como uma resposta a casos crescentes de endividamento, vício e suicídios relacionados a esse tipo de aplicativo.
Diferente do Brasil, que discute regras para permitir, tributar e fiscalizar as apostas online, a Índia optou por um caminho oposto: a interdição total. A decisão tem gerado polêmica e ainda será analisada pela Suprema Corte do país, que recebeu vários pedidos para revisar ou suspender a nova lei.
A regulação pegou o setor de surpresa e teve efeito imediato. Segundo o portal Tech Crunch, estimativas iniciais apontam que mais de 2 mil pessoas foram demitidas no setor apenas nas primeiras semanas após a nova legislação.
A queda da Hike se explica por uma série de fatores acumulados:
Hoje, sem a plataforma de mensagens, sem a receita de jogos e sem novo produto validado, Mittal encerra a jornada de 13 anos da Hike com uma frase em tom definitivo: "Pela primeira vez em 13 anos, minha resposta é não. Não vale a pena."