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Esta empresa capta R$ 12 milhões para triplicar efetivação de jovens aprendizes

A projeção é alcançar 30 milhões de reais em faturamento e saltar de 90 para 300 empresas clientes

Matheus Fonseca, Daniel Almeida e Marlon Wanderllich, da Leapy: “Queremos que o aprendiz cresça, vire liderança e, com isso, mude o mercado de dentro para fora.” (Leapy/Divulgação)

Matheus Fonseca, Daniel Almeida e Marlon Wanderllich, da Leapy: “Queremos que o aprendiz cresça, vire liderança e, com isso, mude o mercado de dentro para fora.” (Leapy/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 17 de julho de 2025 às 07h40.

Apesar de ser uma obrigação legal para empresas, o programa Jovem Aprendiz ainda é tratado como um custo de conformidade, ou como uma burocracia, por uma boa parte do mercado.

O resultado aparece nos dados: só 15% dos jovens aprendizes são efetivados após o contrato, segundo o Ministério do Trabalho. A consequência? Rotatividade alta, desperdício de dinheiro e pouca renovação qualificada dos times.

É esse problema que a Leapy, plataforma de gestão e desenvolvimento de jovens aprendizes, quer resolver com tecnologia, dados e personalização.

Criada em 2022, a edtech já impactou 1.600 jovens e atinge uma taxa de efetivação de 48% — praticamente três vezes a média nacional.

Agora, a startup acaba de captar 12 milhões de reais numa rodada Seed liderada pela Astella, fundo de venture capital conhecido por investir em negócios de tecnologia com alto potencial de escala, como Omie, RD Station e Zenvia.

O novo investimento marca uma virada de fase. Com os recursos, a Leapy pretende levar seu modelo para 15.000 jovens até 2026.

“O Brasil desperdiça 11 bilhões de reais por ano com rotatividade de aprendizes”, diz Matheus Fonseca, cofundador da empresa. “Queremos transformar essa obrigação legal em uma máquina de formação de talentos.”

“Nosso objetivo é simples, mas ambicioso: fazer com que o jovem não apenas entre no mercado de trabalho, mas permaneça e cresça dentro dele”, afirma Fonseca. “Não dá mais para esperar que a universidade ou o governo façam tudo. As empresas precisam assumir a responsabilidade pela formação dos talentos que elas mesmas vão precisar.”

A visão da Leapy é de longo prazo. Até 2030, o plano é formar 100.000 talentos e se tornar a principal infraestrutura de desenvolvimento de carreira de entrada no país. Por ora, o foco está em escalar a operação com qualidade, começando por São Paulo, onde está 30% da base de aprendizes do Brasil.

Qual é a história da Leapy

A história de Matheus Fonseca se confunde com a da empresa que fundou.

Filho de pais sem ensino formal e criado em Tupã, no interior paulista, ele entrou no mercado de trabalho como jovem aprendiz aos 14 anos, em uma estação da Sabesp. Com o salário, pagou um cursinho pré-vestibular — e se tornou o primeiro universitário da família.

“Eu sempre estudei em escola pública e me enfiava em tudo quanto era curso. De Java a torneiro mecânico. Meus pais não tiveram estudo, mas sempre deixaram claro que educação era o único caminho”, afirma.

A vivência o levou a uma trajetória sólida em RH. Ele passou oito anos na Movile, dona do iFood, onde chegou a gerente de RH, e criou a Fundação 1Bi, que impactou 150.000 jovens com bots educacionais no WhatsApp.

Em 2022, decidiu empreender.

“A minha jornada, infelizmente, ainda é exceção. A maioria dos jovens aprendizes é desligada no fim do contrato. Não tem desenvolvimento, não tem plano. É desperdício para o jovem e para a empresa”, afirma. A partir dessa indignação, Fonseca se uniu a Daniel Almeida e Marlon Wanderlich para criar uma plataforma com foco em resultados reais.

Desde o início, o trio queria algo mais ambicioso do que apenas intermediar contratações.

“A gente entendeu que havia um buraco crescente entre as competências que o mercado exige e o que os jovens têm a oferecer. E que esse buraco só aumenta para jovens de grupos sub-representados”, diz Fonseca.

A resposta foi focar na política pública de aprendizagem, que passou por uma mudança em 2022 e passou a permitir a atuação de escolas técnicas. “A gente viu uma brecha para trazer um modelo de qualidade muito superior ao que existia. Com metodologia relevante para o que as empresas precisam.”

A principal formação oferecida pela Leapy hoje é em análise de dados.

O conteúdo vai além do obrigatório e usa inteligência artificial para personalizar a trilha de cada jovem. A ideia, diz Fonseca, é simples: “Fazer o jovem saltar para o próximo nível”.

Como funciona a tecnologia da Leapy

O diferencial da Leapy está na combinação de plataforma de aprendizagem com ferramentas de gestão baseadas em dados. De um lado, o jovem acessa trilhas personalizadas com base em suas lacunas de conhecimento. Do outro, o RH acompanha em tempo real o desempenho e o potencial de cada aprendiz.

“Nossa tecnologia atua em dois eixos principais: desenvolvimento e acompanhamento. A gente ajuda o jovem a entender onde ele precisa melhorar e ao mesmo tempo dá ao RH ferramentas para acompanhar a evolução desse talento”, afirma Fonseca.

Os dados coletados vão além do desempenho escolar. A plataforma também identifica interesse de carreira, aderência à cultura da empresa e até áreas com maior potencial de efetivação.

Do lado do jovem, o curso obrigatório é complementado com conteúdos adaptativos. Um tutor virtual, chamado FeLeapy, ajuda a tirar dúvidas e a guiar o aprendizado. “Se o Matheus precisa reforçar Excel e o Daniel está indo bem, o Matheus recebe mais estímulo nessa área. É conteúdo sob medida, não pacote genérico.”

Outro foco é ampliar o horizonte dos aprendizes. Muitos não sabem o que faz um analista de dados ou um assistente de FP&A. “A gente ajuda a mapear competências e mostrar caminhos de carreira. Isso faz diferença na motivação e no desempenho”, afirma Fonseca.

O resultado aparece nos números: 80% dos jovens aplicam no trabalho o que aprendem nas trilhas, e 95% das lideranças afirmam que recontratariam os mesmos talentos. A taxa de efetivação de 48% é o principal indicador da tese.

Como é o modelo de negócio

A Leapy compete diretamente com instituições tradicionais. Mas enquanto o modelo de cobrança é o mesmo — a empresa paga pela formação, e o jovem não desembolsa nada —, o foco está em oferecer uma experiência mais integrada e tecnológica.

“Desde o começo, sabíamos que era preciso ir além da obrigação legal. Não dá para formar jovens em pacotes genéricos e esperar resultados diferentes”, diz Fonseca. “A gente entrega um produto que o RH realmente usa para tomar decisão.”

As empresas conseguem abrir vagas e receber recomendações de candidatos via plataforma. Mas o diferencial aparece no pós-contratação: dashboards com presença, desempenho, engajamento e proficiência ajudam o RH a identificar quem vale a pena efetivar.

O jovem também pode se cadastrar diretamente na Leapy e ser direcionado para uma trilha preparatória, com conteúdos básicos antes de entrar numa vaga. “É um jeito de nivelar conhecimento antes mesmo do início do contrato”, afirma Fonseca.

Esse processo ajuda a reduzir o custo por contratação efetiva. Segundo a Leapy, as empresas economizam até 60 mil reais por vaga quando conseguem reter um jovem formado pela plataforma, em vez de abrir uma nova contratação.

Como são os planos de expansão

Hoje, a operação da Leapy está concentrada em São Paulo, estado que concentra 30% dos aprendizes do Brasil. A estratégia é ganhar densidade no maior mercado do país antes de partir para a expansão nacional.

“Queremos criar muitos cases aqui, testar, validar e só depois levar o modelo para outras regiões”, diz Fonseca.

Segundo ele, a empresa já está se preparando para essa próxima etapa, mas sem perder o foco na qualidade. “Escalar com impacto é o desafio.”

Com os 12 milhões de reais do novo aporte, a startup quer atingir 10 mil jovens até 2026 — nove vezes mais que a base atual. A projeção é alcançar 30 milhões de reais em faturamento e saltar de 90 para 300 empresas clientes.

Boa parte do investimento será alocada em tecnologia e produto. Mas há também planos de ampliar o time e investir em marca e relacionamento com o RH. “A gente precisa estar mais presente no dia a dia das lideranças. Mostrar que isso é estratégico, não social”, afirma Fonseca.

A métrica que continuará sendo prioridade é a efetivação.

Nossa obsessão é manter a taxa acima de 48%. É o que garante retorno para todos os lados: o jovem ganha futuro, a empresa ganha talento.”

Geração Z e os desafios do RH

Um dos pontos de atrito mais sensíveis hoje é a diferença de expectativa entre jovens e empresas. Mais do que um choque geracional, Fonseca vê um ruído na comunicação.

“Hoje temos cinco gerações trabalhando juntas. Quando a gente coloca todo mundo no mesmo ambiente e fala ‘conversem aí’, o conflito é inevitável.”

Na visão dele, o problema não está na geração Z — e sim na falta de estrutura para que ela floresça. “Se você abre espaço para escutar, para entender o que move esse jovem, o potencial aparece. Mas precisa de intenção dos dois lados.”

Segundo Fonseca, os jovens querem flexibilidade, autonomia e propósito. Mas também sabem que o mercado de trabalho impõe regras. “Eles têm consciência de que não é tudo do jeito deles. O que falta é mediação para fazer esse encontro acontecer.”

A Leapy atua também nesse campo. Ajudando o RH a entender os jovens, e os jovens a entenderem as empresas. “Queremos que o aprendiz cresça, vire liderança e, com isso, mude o mercado de dentro para fora.”

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