Vinícius Motta, CEO da Minha Casa Financiada: empresa terá lojas físicas para ajudar na venda de operações com as máquinas 3D (Minha Casa Financiada/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de novembro de 2023 às 19h12.
No início dos anos 2000, imprimir um papel era uma dificuldade que só. Você até podia ter uma impressora em casa, mas tinha que torcer para ela funcionar, para ter tinta, para ela não engasgar e para que ela imprimisse certinho. Era uma jornada — e, em algumas situações, dependendo do equipamento, ainda é.
A tecnologia avançou bastante de lá pra cá. Hoje, você pode mandar uma página imprimir direto do celular, rapidamente, sem conectar sequer um cabo. Também evoluíram outras tecnologias, como da impressão 3D, que já é usada na indústria automobilística e médica, por exemplo.
Por isso, se, no início dos anos 2000, você ouvisse que uma impressora poderia imprimir uma casa inteira - já no terreno onde ela ficará -, provavelmente não acreditaria.
Mas é isso que a pernambucana Minha Casa Financiada vai trazer para o Brasil a partir do ano que vem. A empresa investiu 5,5 milhões de reais para comprar uma máquina desenvolvida nos Estados Unidos pela Apis Cor que imprime as casas já no terreno onde elas devem ser construídas.
“Do mesmo modo que você vê a impressão de plástico, você faz isso com concreto”, diz Vinícius Motta, CEO da Minha Casa Financiada. “O formato é o mesmo: instrução de areia, cimento, aditivo. Coloca na máquina e a máquina vai construindo, fazendo a parede, as formas da casa. Ela cria um eixo x, y, z e vai imprimindo”.
Até agora, já houve projetos feitos com equipamentos da Apis Cor nos Estados Unidos e em Dubai.
A empresa de Motta, que está trazendo a tecnologia para o Brasil, é a Minha Casa Financiada. Fundado há cinco anos, o negócio nasceu em Pernambuco para financiar projetos da construção civil, principalmente casas, pela internet.
O empresário tinha identificado que, diferente da compra de apartamentos ou residências já prontas, quem queria construir uma casa do zero tinha dificuldade de acessar crédito.
“O maior problema da construção civil é o dinheiro”, afirma. “Foi assim que nasceu a Minha Casa Financiada, para dar crédito a quem quisesse construir”.
Agora, com a máquina de impressão de casas, a Minha Casa Financiada quer dar um passo além. Mais do que só oferecer crédito, também quer dar novas soluções para quem quer construir, inclusive a possibilidade de levantar a casa com ajuda da empresa.
“Com a entrada dessa máquina, a gente volta a ser o construtor do parceiro”, diz. “Meu objetivo é que uma pessoa que queira construir a casa, se direcione a uma loja física, e em seis horas, resolva tudo para solução da casa. Tenha os recursos financeiros, o desenho da casa, o projeto pronto para ser impresso, ficando só sob o aguardo do licenciamento da prefeitura”.
Com a capacidade de imprimir uma casa de 200 metros quadrados com apenas um operador e em um período de 48 horas, a Minha Casa Financiada visa atender clientes de médio e alto padrão, com um intervalo de preços entre 800.000 reais e 30 milhões de reais.
A máquina recebe os produtos para criar o concreto e vai desenhando e direcionando o produto na forma da casa, usando os eixos de impressão. Elas simulam os blocos de concretos, e são entrelaçadas, o que evita, por exemplo, a necessidade de vigas.
“Diferente das casas modulares feitas com blocos de ferro, aqui continua sendo concreto”, diz Motta. “A parede ficará igual àquela construída com tijolo ou bloco de cimento. É no formato que o brasileiro já está acostumado”.
Inicialmente, o robô de impressão 3D e a loja física da Minha Casa Financiada estarão disponíveis no estado de São Paulo. A máquina deve chegar ao Brasil no segundo trimestre do ano que vem. Apesar de faltar alguns meses ainda, já há uma lista de espera de seis casas para impressão em São Paulo, com Valor Geral de Venda (VGV) de cerca de 7 milhões de reais.
A expectativa da empresa é faturar 104 milhões de reais ano que vem, contando o braço financeiro e a parte de construção com a impressora.
Imprimir a casa é só uma das novas modalidades de construção que estão chegando - ou começando a ascender - no Brasil recentemente. Tem se popularizado, também, a construção de casas modulares, feitas por blocos construtivos. São as casas de Lego em tamanho real.
Uma das empresas que faz isso, por exemplo, é a catarinense Brasil ao Cubo. A Braskem, inclusive, já investiu 60 milhões de reais na startup, adquirindo parte do negócio.
As novas modalidades de construção chegam num momento em que a própria habitação, a velocidade e a sustentabilidade das construções são discutidos no mercado. Moradias por módulos (ou então impressas) podem ser mais rápidas e custam menos, o que pode ser um diferencial para obras populares, por exemplo.
Por enquanto, porém, o foco dessas tecnologias está em residências mais caras. É o que dá para atender com o alto valor de investimento que as empresas precisam para adquirir essas tecnologias.
Por aqui, dois desafios, então, que estão interligados. Um deles é popularizar a tecnologia para baixar o preço dela. O outro é cultural, de criar uma entendimento por parte dos clientes de que se trata de construções seguras e duradouras.
Desafios que devem ser superados a médio prazo, mas não tão rapidamente como a impressão de uma casa.