Rafael Bagolin, CEO da Jusfy: “Advogado normalmente abomina receber áudio" (Jusfy/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 15 de dezembro de 2023 às 14h19.
Há quem ame e quem odeie, mas fato é: todo mundo tem uma opinião sobre os áudios de WhatsApp. Muitas vezes, eles são uma mão na roda para quando se está com pressa ou para quando o assunto é muito complicado de ser dito por texto. Em outros casos, eles podem ser o oposto disso: dificultar ou atrasar a comunicação, principalmente quando o receptor da mensagem não está com tempo para parar o que está fazendo e ouvir a mensagem.
Para além da comunicação pessoal, a conversa em áudio também está presente no dia a dia dos prestadores de serviços, principalmente aqueles que lidam com vários clientes, como lojistas, médicos e advogados.
Para essa última categoria, a lawtech Jusfy pensou numa solução. A empresa, criada por um advogado gaúcho em São Paulo, desenvolveu um robô que escuta o áudio do WhatsApp, transcreve, resume em tópicos e já propõe encaminhamentos jurídicos para o caso.
“Advogado normalmente abomina receber áudio e, muitas das vezes, é algo que envolve o trabalho, então não tem como pular”, diz o CEO da Jusfy, Rafael Bagolin. “Desta maneira, fomos atrás de elaborar uma IA que possa ajudar o advogado no seu dia a dia com muito mais do que uma simples transcrição”.
A empresa usa uma tecnologia de inteligência artificial proprietária que dá recomendações baseadas em áreas do direito, como direito familiar ou direito tributário. O limite da transcrição é alto, cerca de 100 megabytes. Ou seja, dá até para gravar uma reunião.
Cada usuário pode usar o recurso 10 vezes por dia gratuitamente. O objetivo da Jusfy com a ferramenta é aproveitar o engajamento para divulgar a startup em si, que oferece outras soluções para advogados.
A EXAME testou a tecnologia da Jusfy, simulando uma cliente que pede aconselhamento jurídico para seu advogado sobre falta de pagamento de pensão alimentícia. Em poucos segundos, o robô transcreveu o áudio e entregou um resumo assim, por WhatsApp mesmo:
“No contexto técnico-jurídico, o cliente relata que seu ex-marido não está pagando pensão alimentícia. Essa questão envolve a área do Direito de Família, mais especificamente a obrigação legal de um dos cônjuges em fornecer sustento financeiro ao outro após a separação”.
Depois, listou seis orientação, como avaliar a situação financeira do marido para ver se ele tem condições de arcar com o pagamento, verificar se há algum acordo ou decisão judicial, analisar a possibilidade de requerer a execução da pensão na Justiça e requerer a inclusão do marido nos cadastros de restrição de crédito.
No final, há um aviso importante. “Esta resposta é apenas uma orientação inicial e cada caso deve ser avaliado individualmente pelo advogado para garantir as melhores estratégias no contexto jurídico adequado”.
O investimento em inteligência artificial faz parte do projeto de expansão tecnológica da Jusfy, após receber um aporte de 7 milhões de reais no final do ano passado, tendo grandes nomes envolvidos como a SaaSholic, Harvard Angels, Norte Ventures e investidores anjo como João Costa, da KOVI e Victor Lazarte da Wildlife.
Quase metade da vida de Rafael Bagolin está relacionada ao direito. Com 36 anos, há 15 trabalha com advocacia, num escritório em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul.
Trabalhando com direito bancário, sentia falta de uma ferramenta capaz de calcular, com mais facilidade, os juros bancários para colocar nos autos dos processos.
“A dificuldade estava em recalcular o contrato com taxa média”, diz. “Achar a parcela revisada, comparada com a parcela paga, e amortizar. Um cobrador chegava a nos cobrar 1.500 reais por cálculo”.
Lá em Santa Maria mesmo, encontrou o engenheiro de computação Juliano Lima, que o ajudou a desenvolver uma plataforma para fazer esses cálculos automaticamente. O sistema viralizou. “Quando me dei por conta, tinha mais de 142 pessoas usando nossa tecnologia”, afirma.
Foi o início da Jusfy. Hoje, a startup é uma plataforma online por assinatura onde o advogado tem um leque de ferramentas para resolver dores diárias, como cálculos e hubs de inovação.
“O Brasil tem 1,4 milhões de advogados”, diz. “É o país com a maior proporção de advogados por habitante do mundo. Temos um mercado grande para explorar e crescer”.
O robô do WhatsApp vai ajudar nisso, levando a marca da empresa para mais advogados pelo país.
“Queremos que todo advogado brasileiro saiba o que estamos fazendo”, afirma. “A ferramenta é gratuita porque queremos que os advogados tenham uma palinha do que estamos desenvolvendo na nossa plataforma, que tem ainda mais tecnologia”.
Desde a criação da empresa, em junho de 2021, até agora, a empresa saiu de zero para 13.000 assinantes pagos. Mensalmente, fatura cerca de 800.000 reais. A meta para 2024 é bater os 15 milhões de reais em faturamento.
“Vamos dobrar o faturamento e crescimento para ano que vem”, afirma. “Queremos desenvolver e ter interligação com todos os tribunais, para que todos os tribunais estejam interligados. Queremos que o advogado abra nosso site e advogue totalmente por dentro da Jusfy”.