Criado pelos próprios alunos, o Projeto Porto Disconnect estimula momentos offline e de convivência no Colégio Visconde de Porto Seguro (Divulgação/Colégio Porto Seguro)
Redatora
Publicado em 20 de outubro de 2025 às 16h46.
Última atualização em 20 de outubro de 2025 às 17h39.
Ansiedade, isolamento, excesso de telas e falta de vínculos reais. Esses são alguns dos desafios que a geração atual de crianças e adolescentes enfrenta e que têm exigido das escolas um papel que vai muito além do ensino cognitivo.
O Colégio Visconde de Porto Seguro, uma das instituições de ensino mais tradicionais do país, tem olhado de frente para essa transformação. A resposta veio com a Academia da Família, um projeto que aproxima pais, alunos e educadores em torno do mesmo objetivo: reconstruir vínculos e fortalecer o desenvolvimento socioemocional dentro e fora da escola.
A iniciativa surgiu de um diagnóstico simples, mas profundo. “Percebemos que os pais precisavam de ajuda para compreender como educar os filhos na contemporaneidade”, conta Meire Nocito, diretora institucional educacional do Porto Seguro e responsável pelo projeto.
Meire Nocito, diretora institucional educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro e responsável pela Academia da Família (Divulgação/Colégio Porto Seguro)
“Hoje, a infância e a adolescência são atravessadas por influências externas das redes sociais aos criadores de conteúdo, que, muitas vezes, não refletem os valores familiares. Os pais se perguntam como intervir, estabelecer limites e acompanhar os filhos diante desse novo cenário”, revela.
A partir dessas inquietações, nasceu um espaço de formação parental. A Academia da Família promove palestras, workshops e encontros dialógicos com especialistas em áreas como psiquiatria, psicologia e tecnologia.
“O diferencial é que o foco está nos pais e não nas questões pedagógicas. É um momento para que eles se revisitem, reflitam sobre o vínculo afetivo com os filhos e aprendam ferramentas de comunicação e escuta ativa”, explica Nocito.
Entre os temas mais procurados pelos participantes estão saúde mental na infância e adolescência e uso responsável das telas.
“Essas são as maiores preocupações das famílias hoje”, afirma a diretora. “Por isso, oferecemos formações em comunicação não violenta e disciplina positiva, além de orientações sobre controle parental e convivência saudável no ambiente digital”, diz. A proposta é que o aprendizado comece dentro de casa e reverbere nas salas de aula.
“Quando os pais participam da vida dos filhos, aprendem a se aproximar, a conversar, a jogar junto, assistir a um filme juntos, o relacionamento muda. O filho se sente ouvido e o risco de vulnerabilidade diminui”, alerta Meire.
Esse cuidado é compartilhado também entre educadores, que participam de fóruns e comitês internos sobre bem-estar e convivência. “Hoje, toda a comunidade escolar se vê corresponsável pelo desenvolvimento socioemocional dos alunos”, resume a diretora.
Entre os frutos dessa cultura está o Projeto Porto Disconnect, criado pelos próprios estudantes para estimular momentos offline e de convivência no colégio.
Gabriela Kvint Patti, de 13 anos, aluna do oitavo ano do Porto Seguro, viu na prática o efeito dessa mudança. “Eu era muito viciada em tela”, assume. “Depois das atividades do Disconnect, comecei a usar menos o celular e a conversar mais com meus amigos. Agora a gente joga vôlei, participa de oficinas, conversa nas rodinhas. Ficou muito mais leve”, conta.
A aluna Gabriela Kvint Patti viu na prática o impacto da Academia da Família (Divulgação/Colégio Porto Seguro)
Os pais de Patti também participaram das palestras da Academia da Família. “Eles entenderam mais sobre ansiedade e sobre como o uso de telas afeta o desempenho escolar", afirma a aluna.
“Hoje, a gente conversa muito mais. Jantamos juntos todos os dias e falamos sobre o que aconteceu. Eu não tenho medo de contar nada para eles”, diz a aluna. Para ela, estudar em um colégio que prioriza o emocional “é revolucionário”.
Além da Academia da Família, o Porto Seguro mantém políticas institucionais de convivência, como as políticas antibullying, antirracista, de educação inclusiva e de uso consciente de telas.
“Todos os colaboradores são capacitados para identificar sinais de vulnerabilidade e acolher os alunos. Do porteiro ao gestor, todos fazem parte da rede de cuidado”, afirma Nocito. “É assim que fortalecemos nossa cultura institucional: com diálogo, empatia e corresponsabilidade.”
O colégio também promove projetos em que os alunos desenvolvem iniciativas próprias de apoio emocional, como a Caixinha dos Sentimentos, criada por Patti e colegas.
A proposta é que cada estudante possa deixar bilhetes anônimos sobre emoções, pressões ou conquistas, que depois são lidos e discutidos em grupo. “É uma forma de tirar a pressão e valorizar as coisas boas que acontecem na escola”, diz Patti.
Participação dos pais em palestra sobre Parentalidade Positiva e atividades propostas na Academia da Família (Divulgação/Colégio Porto Seguro)
Mais do que uma tendência, o cuidado socioemocional tem se tornado pilar essencial da educação contemporânea.
No Porto Seguro, essa visão está integrada às disciplinas, projetos e à própria cultura de convivência. “Queremos formar adultos com senso crítico, empatia e compromisso com o bem comum”, resume Nocito.
“Porque educar não é apenas ensinar a pensar, é ensinar a sentir, conviver e construir juntos”, afirma.