São Paulo - O escândalo de corrupção na Petrobras continua a se espalhar e afugentar investidores.
O último episódio envolve a petroquímica Braskem, maior fabricante de plásticos da América Latina, acusada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff de pagar propina em troca de contratos mais vantajosos com a estatal.
Diante das denúncias, os títulos de dívida de emissão da Braskem com vencimento em 2024, no valor total de US$ 750 milhões, registraram uma perda de 7,9% na semana passada, a maior entre empresas de mercados emergentes com grau de investimento.
As acusações contra a Braskem sugerem como o pagamento de subornos era generalizado na Petrobras.
A operação Lava Jato, que investiga os crimes na estatal, já envolveu as maiores construtoras e fabricantes de sondas do país, causando prejuízos aos detentores de dívida de bancos, governo e até mesmo de um fundo de pensão estatal.
“O escândalo está prejudicando mais e mais empresas brasileiras de todos os segmentos, e a Braskem pode ser vista como o exemplo mais recente”, afirma Leonardo Kestelman, gerente de recursos da Dinosaur Securities, em São Paulo. “As pessoas preferem apenas apertar o botão de venda em vez de esperar”.
A Braskem negou qualquer irregularidade em suas relações com a Petrobras.
‘De forma transparente’
“Todos os pagamentos e contratos da Braskem com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança das duas empresas”, declarou a companhia em nota no dia 11.
A Braskem afirmou ainda, em e-mail enviado no dia 13, que a oscilação no preço dos bonds "não reflete sua qualidade de crédito" e que os mais de R$ 6 bilhões em caixa e linhas de crédito comprometidas são suficientes para cobrir os vencimentos da dívida pelos próximos 47 meses.
A Braskem pagou propinas anuais, inicialmente fixadas em US$ 5 milhões, entre 2006 e 2012, para comprar derivativos de petróleo como nafta e propeno a preços mais baixos do que os praticados pelo Petrobras, Costa e Yousseff afirmaram em depoimentos publicados no site do Supremo Tribunal Federal no dia 6 de março.
Os acordos de delação premiada de Costa e Yousseff proíbem que eles e seus advogados comentem as investigações sobre supostos pagamentos de propina na Petrobras.
A Petrobras não respondeu a um e-mail em busca de comentário sobre as acusações.
A Braskem compra nafta, que responde por metade de seus custos de produção e é o principal insumo para fabricação de produtos petroquímicos no Brasil, por meio de contratos de longo prazo com a Petrobras.
A estatal supre cerca de 70% das necessidades da Braskem.
Acionistas da Braskem
Os maiores acionistas da Braskem são a Petrobras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Odebrecht SA, maior empresa de infraestrutura do Brasil.
A própria Odebrecht é uma das 16 construtoras que estão sendo investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público pela participação em um suposto cartel para fechar contratos inflados com a Petrobras.
A Odebrecht afirmou, em um comunicado enviado por e-mail, que nega as “alegações caluniosas” feitas pelo ex-diretor da Petrobras, especialmente em relação a pagamentos indevidos a qualquer executivo, ex-executivo ou pessoas relacionadas à empresa controlada pelo Estado.
O comunicado diz que a Odebrecht não participa e nunca participou de nenhum cartel.
Impossível saber
“A composição acionária da Braskem está muito concentrada nas mãos de Odebrecht, BNDES e Petrobras”, disse Michael Roche, estrategista da Seaport Global Holdings LLC, em Nova York. “Essas revelações levam a uma disseminação rápida desse tipo de risco”.
Os bônus da Braskem para 2024 caíram para 93,32 centavos de dólar na sexta-feira, nível mais baixo desde sua emissão, em janeiro de 2014.
Com isso, o rendimento (yield) do papel subiu a 7,49%, 2,7 pontos porcentuais a mais que a média das empresas de mercados emergentes com grau de investimento.
“As preocupações relacionadas à Petrobras e à corrupção engoliram muitas empresas e nós podemos ver claramente que a Braskem é uma delas neste momento”, disse Klaus Spielkamp, chefe de vendas de renda fixa na Bulltick LLC em Miami, por telefone.
“As pessoas não sabem o que pode vir a seguir”.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)