Henrique Vaz, Mateus Costa-Ribeiro e Mike Mac-Vicar, da Enter: negócio aberto para resolver duas grandes dores da Justiça brasileira — os custos elevados e a litigância predatória (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 10 de março de 2025 às 15h15.
Última atualização em 10 de março de 2025 às 16h03.
A Enter, uma startup brasileira fundada em 2023, está mudando a forma como empresas lidam com a sobrecarga de processos judiciais, especialmente em ações trabalhistas e de consumo. Com a ajuda da inteligência artificial (IA), a empresa está automatizando defesas jurídicas e gerando resultados rápidos e assertivos.
Recentemente, a Sequoia Capital, um dos maiores fundos de venture capital do mundo, investiu 5,5 milhões de dólares na Enter, marcando seu retorno ao Brasil após 12 anos desde o aporte no Nubank. A Enter se destaca pela sua capacidade de transformar o mercado jurídico e já conquistou clientes de peso, como o Banco BMG e Vivo.
A história da Enter começa com o desejo de seus fundadores de resolver duas grandes dores da Justiça brasileira — os custos elevados e a litigância predatória. Tudo isso sobrecarrega o sistema judicial e prejudica as empresas. O Brasil é conhecido por ter o maior número de advogados per capita no mundo, com mais de 1,3 milhão de advogados no total. Além disso, o país enfrenta mais de 15 milhões de processos judiciais a cada ano, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça.
Mateus Costa-Ribeiro, um dos cofundadores e CEO da Enter, já tinha uma longa trajetória no direito antes de fundar a empresa. “Eu fui o advogado mais jovem a sustentar um caso no STF, com apenas 18 anos. Vi de perto como o sistema jurídico brasileiro precisava de inovação. O Brasil tem um mercado desproporcionalmente grande em relação ao seu PIB, especialmente no setor jurídico, e foi aí que a Enter nasceu”, explica Mateus.
Foi durante sua passagem pelos Estados Unidos que Mateus percebeu como a tecnologia já estava sendo amplamente aplicada ao setor jurídico em mercados mais desenvolvidos. “Quando vi a diferença no uso de tecnologia no direito nos EUA, percebi que poderia fazer algo similar aqui no Brasil. E a inteligência artificial era a chave para otimizar as defesas jurídicas e reduzir os custos”, comenta.
Ao lado de Henrique Vaz, CPO da Enter, e Mike Mac-Vicar, CTO, Mateus deu início ao desenvolvimento de uma solução que usaria IA para automatizar a elaboração de defesas, reduzir a sobrecarga de processos e combater fraudes processuais. Henrique, com formação em Ciência da Computação e experiência na Tesla e na Wildlife Studios, trouxe seu know-how em tecnologia, enquanto Mike, ex-CTO da Wildlife, foi responsável pela criação da infraestrutura tecnológica da Enter.
A Enter oferece soluções de IA para empresas, com foco em defesas jurídicas automatizadas. A tecnologia permite que os agentes de IA da empresa analisem rapidamente grandes volumes de documentos, incluindo áudios, vídeos, jurisprudência e outros dados relevantes, para gerar petições jurídicas personalizadas. A ferramenta consegue interpretar dados processuais complexos, identificar padrões e, principalmente, combater a litigância predatória, um fenômeno que ocupa uma parte significativa do sistema judicial brasileiro.
Segundo Mateus Costa-Ribeiro, a chave do sucesso da Enter está na combinação de machine learning e large language models (LLMs). “A IA aplicada ao direito exige precisão e customização, principalmente quando estamos lidando com grandes volumes de dados. Não é uma tarefa simples, mas a tecnologia nos permite automatizar e melhorar a eficiência das defesas jurídicas”, afirma Mateus.
A empresa também se destaca pela utilização de tecnologias de última geração, como a parceria com a OpenAI. A Enter foi uma das primeiras empresas brasileiras a firmar um acordo de Zero Data Retention (ZDR) com a OpenAI, o que significa que os dados dos clientes não são armazenados nos servidores da OpenAI, garantindo a privacidade e segurança dos dados sensíveis. Esse cuidado com a segurança é fundamental, especialmente no setor financeiro, onde a proteção de dados é uma prioridade.
A Enter já conquistou um portfólio de clientes robusto, incluindo grandes nomes dos setores bancário, telecomunicações e energia. Entre seus clientes estão Banco BMG, Nubank, Vivo, C6 Bank, Inter, SulAmérica, Light Energia e iFood. Essas empresas, por enfrentarem um grande volume de processos judiciais, perceberam a vantagem competitiva de utilizar a IA para reduzir o custo e o tempo envolvidos nas defesas jurídicas.
Luciana Buchmann Freire, Diretora Jurídica do Banco BMG, destaca a importância da tecnologia desenvolvida pela Enter para o setor. “Uma das principais aplicações dessa tecnologia é a elaboração de defesas automatizadas e o combate à litigância predatória, fenômeno que sobrecarrega o Judiciário com demandas repetitivas, muitas vezes sem fundamento legítimo. Nosso projeto com a Enter nos proporciona a utilização da ferramenta para analisar grandes volumes de subsídios, incluindo áudios e vídeos, jurisprudência, identificam padrões processuais e geram petições personalizadas com mais eficiência, reduzindo significativamente o tempo gasto na elaboração de peças processuais, garantindo respostas mais rápidas e assertivas às demandas.”
Com a utilização da IA, o Banco BMG conseguiu reduzir o tempo gasto na elaboração de petições, o que resultou em respostas mais rápidas e, consequentemente, uma redução de custos operacionais.
Em 2024, a Enter recebeu um investimento de 5,5 milhões de dólares da Sequoia Capital, um dos fundos mais respeitados no mundo. Esse aporte não só fortaleceu a Enter financeiramente, mas também abriu portas para novas parcerias e expansão internacional. A Sequoia, que esteve na primeira captação do Nubank, em 2013, na primeira rodada de captação do banco, encontrou na Enter uma oportunidade de apostar em uma tecnologia inovadora com um mercado gigantesco pela frente.
Henrique Vaz, CPO da Enter, explica a importância do apoio da Sequoia: “A Sequoia foi crucial para acelerarmos nossa evolução tecnológica. Com o aporte, conseguimos ampliar nossa equipe e fazer parcerias estratégicas, como a que firmamos com a OpenAI. Esse relacionamento é fundamental para o crescimento da empresa, pois não só melhora a eficiência dos nossos modelos, mas também garante a privacidade dos dados dos nossos clientes.”
A parceria com a OpenAI foi um dos principais frutos desse investimento. A Enter agora é uma das poucas empresas no Brasil com acesso ao modelo GPT da OpenAI sem comprometer a privacidade de seus dados. Isso representa uma vantagem competitiva no mercado jurídico, onde a segurança das informações é uma preocupação constante.
Com o apoio da Sequoia Capital, a Enter planeja expandir suas operações para outros países da América Latina e continuar a melhorar sua tecnologia para atender a diferentes necessidades das empresas além do setor jurídico. O objetivo não é se limitar apenas ao mercado jurídico, mas se posicionar como uma empresa de IA para grandes corporações.
“Nosso foco continua sendo resolver o problema do contencioso de massa no Brasil. Mas o que queremos é transformar a Enter na maior empresa de inteligência artificial da América Latina, com soluções que vão além do jurídico, ajudando grandes empresas a resolverem outras dores com tecnologia”, afirma Mateus.