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Entenda a crise do Espírito Santo, maior banco de Portugal

Pivô das mudanças na fusão entre Portugal Telecom e Oi, banco anunciou que não é capaz de pagar dívidas e pode pedir proteção judicial nos próximos dias


	Banco Espírito Santo: crise pode afetar mais do que o império da família que leva seu nome
 (Mario Proenca/Bloomberg)

Banco Espírito Santo: crise pode afetar mais do que o império da família que leva seu nome (Mario Proenca/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2014 às 16h08.

São Paulo – Há um ditado em Portugal que diz: “se não pertence ao Estado, pertence ao Espírito Santo”. A brincadeira é feita não com a entidade cristã, e sim com a família que dá nome ao maior conglomerado do país, o Grupo Espírito Santo.

A holding, que tem 144 anos, é dona de empresas em diversos setores da economia, que vão desde o turismo, com a rede de hotéis Tivoli, até prestadoras de serviços especializados em saúde. Entre suas posses está o Banco Espírito Santo (BES), o maior em valor de mercado de Portugal e que agora passa por uma das maiores crises de sua história.

Os sinais de desgaste começaram a surgir no fim de 2013, quando a família, conhecida por sua discrição, passou a ocupar espaço nos jornais locais por disputas de sucessão. Aparentemente, Ricardo Espírito Santo Salgado, que comanda o grupo, e seu primo, José Maria Riccardi, divergiam sobre quem deveria assumir os negócios.

Salgado era também presidente executivo do BES, que cuidava dos negócios de todas as demais empresas do grupo. No início de 2014, o Banco de Portugal, equivalente ao Banco Central no Brasil, exigiu que os ativos dessas empresas que não fossem ligados ao setor financeiro fossem separados do banco.

A medida foi um reflexo do aumento das fiscalizações aos órgãos financeiros, imposto tanto pelas organizações europeias quanto nacionais após a crise de 2008. E foi aí que os problemas começaram a aparecer.

Uma auditoria pedida pelo Banco de Portugal no Espírito Santo International (ESI), que controla o BSE e tem base em Luxemburgo, constatou que o banco havia ocultado das contas de 2012 dívidas de 1,2 bilhão de euros. O banco apresentava prejuízos de 2,5 bilhões de euros, o que o colocaria em falência técnica.

No fim de junho, descobriu-se também que o ESI atrasou pagamentos de juros de dívidas de curto prazo e que não teria condições de pagar as próximas que viriam. Pouco depois, o BES anunciou que não pagaria os 897 milhões de euros emprestados pela Portugal Telecom, o que causou mudanças na fusão entre a companhia e a brasileira Oi.

Consequências

Para tentar aplacar os ânimos, o Banco de Portugal exigiu, no fim de junho, que a família fosse afastada do comando do banco e substituída por administradores do mercado. O nome escolhido foi João Moreira Rato, que estava à frente do Instituto de Gestão da Tesouraria e Dívida Pública (IGCP). Tarde demais.

Após anunciar que não seria capaz de pagar a dívida com a Portugal Telecom, que venceu no fim desta terça-feira, a Rio Forte, empresa do grupo que controla o BES, está se preparando para pedir concordata.

As descobertas abalaram a confiança da economia portuguesa e chegaram a afetar toda a zona do Euro, que viu, nas últimas semanas, suas bolsas reagirem negativamente às notícias. A chanceler Ângela Merkel chegou a usar o exemplo do banco português para mostrar as fragilidades da zona do Euro.

O Banco de Portugal, que ainda tenta acalmar os investidores, descartou a possibilidade de resgate por parte do governo e afirmou que o BES “tem capital suficiente para acomodar possíveis impactos negativos”. O banco possui capital de 2,8 bilhões de euros, 1,5 bilhão de euros em dívidas e passa hoje por uma reestruturação. O órgão regulador teme que a crise cause uma debandada de acionistas e clientes do BES, o que agravaria ainda mais o problema.

Para Portugal, a situação também é séria. O apelido de Ricardo Salgado por lá é DDT – dono de tudo isto. O grupo tem negócios nos setores financeiro, de turismo, agropecuário, de energia, saúde e outros.

O BES ainda possui títulos de todas as companhias do império. Caso ele caia, teme-se um efeito cascata que pode, em último caso, gerar falências em cadeia e aumentar o desemprego.

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