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Empresas só avançarão com diversidade, diz VP da Microsoft Brasil

Além de avanços sociais, a diversidade racial e de gênero traz resultados palpáveis nos balanços das companhias

Microsoft (REUTERS/Pichi Chuang)

Microsoft (REUTERS/Pichi Chuang)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 26 de novembro de 2016 às 09h00.

Última atualização em 26 de novembro de 2016 às 09h01.

São Paulo – Aumentar a diversidade étnica e de gênero nas empresas não é uma discussão que deveria estar restrita aos departamentos de recursos humanos. Para Rodney Williams, vice-presidente e diretor de negócios corporativos da Microsoft Brasil, ter uma equipe plural é essencial nas empresas para inovar e se manter relevante num mundo em constante mudança.

Além de avanços sociais, a inclusão traz resultados palpáveis nos balanços das companhias. Empresas com maior diversidade de gênero têm 15% mais chances de performar bem e companhias com diversidade étnica têm 35% mais chances de terem bons resultados do que aquelas mais restritas, indica um estudo da consultoria McKinsey chamado “Por que diversidade importa?”.

Mulheres em altos cargos também trazem resultados financeiros: as companhias têm resultados melhores na bolsa, segundo pesquisa.

No entanto, as empesas ainda têm um longo caminho pela frente. Ainda há muito mais homens brancos em cargos de liderança nas empresas do que mulheres, negros ou minorias.

Muitas já desenvolveram iniciativas para aumentar a participação de mulheres, como a Monsanto, Pfizer, BHP Billiton, Unilever, Groupon e Avon, entre outras.

Já a diversidade racial é um assunto menos presente nas discussões sobre diversidade em empresas. Para Williams, um dos motivos é a falta de empatia e dificuldade para conversar sobre o assunto. Negro, ele é um dos responsáveis pelas políticas na Microsoft em direção à igualidade racial na companhia. Para quebrar essa barreira, a Microsoft realiza eventos e encontros internos sobre diversidade na companhia.

Segundo ele, gestores, líderes e recrutadores precisam ser treinados e o assunto deve ser discutido para testar e descobrir as melhores práticas de inclusão e reconhecer possíveis discriminações que ainda possam existir. O executivo foi premiado com o Troféu Raça Negra, organizado pela ONG Afrobras e encabeça as iniciativas da Microsoft no Brasil para promover a diversidade.

Ele conversou com Exame.com em um evento da Semana da Consciência Negra na Microsoft sobre iniciativas para aumentar a pluralidade nas empresas. Confira a entrevista abaixo.

Exame.com - Por que as empresas têm discutido mais e feito mais para aumentar a diversidade de gênero do que a diversidade racial?

Rodney Williams - Isso é interessante. Eu acredito que é porque mais pessoas entendem diversidade de gênero e a vivenciam. Essa é a razão principal. Por exemplo, todo mundo tem uma mãe ou irmã, mas nem todos têm parentes negros. Eu acho que isso torna um pouco mais difícil para as pessoas entrarem nessa discussão. Também acredito que falar sobre raça e racismo é desconfortável para muitas pessoas.

Exame.com – Como convencer uma empresa da importância dessa questão?

Rodney Williams - Eu acredito firmemente na diversidade dos pensamentos e das experiências. Nesse mundo de transformação, essa diversidade de experiências de vida irá ajudar a desenvolver a economia. Se você quer ter os melhores produtos, como uma empresa de tecnologia como a Microsoft, as melhores ideias vêm de pessoas com experiências diferentes.

As melhores inovações não vêm de um monte de pessoas brancas resolvendo problemas, mas sim em conjunto com negros, indianos, asiáticos, porque a cultura e as experiências de todos são diferentes.

Exame.com – Como fazer com que esse assunto deixe der estar restrito à área de recursos humanos e se torne uma preocupação de toda a empresa?

Rodney Williams - Falar abertamente sobre o assunto. Fazemos eventos internos e essa é a primeira vez que abrimos para o público. Também permitimos que as pessoas falem sobre o assunto livremente. E eu sei que não posso levar isso para o lado pessoal. Sei que pessoas tem um viés inconsciente contra mim, porque vivenciei essas coisas. Por isso o diálogo é crítico para essa questão.

Fizemos uma campanha durante uma semana chamada de IMU (nome que lembra Eu Sou Você, em inglês). É uma iniciativa de diversidade para olhar todas as experiências diversas, em termos de orientação sexual, religião, classe social. Significa que, mesmo vindo de contextos diferentes, somos todos iguais.

Exame.com – Criar cotas ou instituir uma porcentagem obrigatória de mulheres ou minorias nas empresas pode ser uma solução?

Rodney Williams - É um começo. Mas precisamos quebrar o medo de conversar sobre esses assuntos e, assim, descobrir as melhores formas de aumentar a diversidade.

Eu sou um produto de ações afirmativas para aumentar a inclusão em empresas. Mas seria muito arrogante da minha parte pensar que as formas como essas questões são resolvidas nos Estados Unidos podem ser copiadas para o Brasil ou outro país. Precisamos testar, aprender com os erros e ir em frente, para criar as melhores soluções.

Exame.com – E o que a Microsoft no Brasil tem feito nesse sentido?

Rodney Williams - Em toda entrevista para uma vaga de emprego, a Paula [Bellizia, CEO da Microsoft Brasil] e eu requisitamos que tenha diversidade entre os candidatos concorrentes.

Requisitamos aos gerentes que entrevistem mulheres e pessoas de cor. Nós sempre recrutaremos o melhor, mas queremos que essas pessoas participem do processo. Reavaliamos os currículos e o processo seletivo para ter certeza que o melhor candidato foi escolhido.

Em algumas ocasiões, falamos pessoalmente com esses candidatos, para ver se eles têm o perfil Microsoft. E, às vezes, desafiamos o recrutador para saber por que ele não contratou um certo candidato. Precisamos também ser professores, mentores dos nossos entrevistadores.

Isso é muito importante. Porque, quando eu olho para o meu time de diretores, ele está ficando mais diversificado. Algumas pessoas já ficaram espantadas quando eu fui entrevistá-las pessoalmente, por eu ser uma pessoa de cor.

Outra iniciativa são os nossos treinamentos. Um deles se chama Viés Inconsciente. O time inteiro faz um exercício para identificar se tem algum viés. Podemos falar livremente sobre esse tema e é incrível poder fazer isso, ouvir as experiências dos outros. Vai demorar um bom tempo para eliminar esses preconceitos, mas é um trabalho que precisamos fazer.

Exame.com – Por que decidiu se engajar nessa discussão?

Rodney Williams - Para mim, sempre foi uma paixão pessoal. Mas não tinha me atingido com tanta força até chegar ao Brasil.

Do meu contexto, nos Estados Unidos, temos pessoas como Jesse Jackson [pastor batista e ativista político norte-americano pelos direitos civis dos negros ao lado de Martin Luther King Jr.], como o presidente Barack Obama, como John Thompson, chairman da Microsoft. Eles estão fazendo esse trabalho há mais tempo do que eu estou vivo.

Quando eu vim para o Brasil, não vi isso. Nos ambientes que entrei, com as pessoas com quem conversei, não vi tanto isso. Sei que, pela minha posição, posso ser alguém em quem outras pessoas podem buscar inspiração. Mas ao chegar aqui, reconheci que tinha uma responsabilidade maior.

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