Foxconn: funcionários em Taiwan usam máscaras em evento da empresa (Yimou Lee/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 12h41.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2020 às 12h45.
Vem aumentando na China o número de empresas privadas que estão cortando, adiando ou suspendendo o pagamento de salários, argumentando que não conseguem cobrir os custos trabalhistas por causa do impacto econômico do coronavírus.
Para frear a propagação do vírus que já matou mais de 2.000 pessoas, autoridades e grandes empregadores pedem que os chineses fiquem em casa. Shopping centers e restaurantes estão vazios, parques de diversões e cinemas estão fechados, é praticamente proibido viajar a menos que seja essencial.
O que é bom para conter a epidemia tem sido péssimo para os negócios. Com o cancelamento das aulas em uma escola de robótica e informática em Hangzhou, os funcionários perderão de 30% a 50% dos salários. O parque temático Lionsgate Entertainment World, em Zhuhai, está fechado. Seus empregados foram instruídos a utilizar o período de férias remuneradas e a se prepararem para férias não remuneradas.
“Uma semana de licença não remunerada é muito dolorosa”, disse Jason Lam, 32 anos, que foi dispensado da função de chef de um restaurante sofisticado no bairro Tsim Sha Tsui, em Hong Kong. “Não tenho renda suficiente para cobrir meus gastos este mês.”
Por toda a China, companhias estão avisando empregados que não têm dinheiro para pagá-los ou que não são obrigadas a pagar funcionários em quarentena que não aparecem para trabalhar. É cedo para calcular quantas pessoas perderam renda devido ao surto, mas em uma pesquisa do website de recrutamento Zhaopin junto a mais de 9.500 profissionais, mais de um terço dos entrevistados se declarou ciente dessa possibilidade.
O congelamento de salários é outra prova do impacto econômico sobre o volátil setor privado da China e especialmente sobre as pequenas empresas. O quadro também sugere que o impacto do coronavírus irá além da saúde, devido às perdas financeiras associadas a demissões e instabilidade salarial. A contratação de novos funcionários praticamente parou: o site Zhaopin estima que o número de currículos enviados na primeira semana após o surgimento da epidemia caiu 83% em relação a um ano antes.
“O coronavírus pode afetar mais o consumidor chinês do que a SARS há 17 anos”, disse Chang Shu, economista-chefe da Bloomberg Intelligence para a Ásia, se referindo à sigla em inglês para a síndrome respiratória aguda grave. “E a SARS abalou severamente o consumo.”
A legislação determina que as empresas cumpram um ciclo de pagamento completo em fevereiro antes de reduzir os salários ao mínimo, explicou Edgar Choi, autor de “Direito Comercial em Um Minuto” (tradução livre) e responsável por uma conta de assessoria jurídica no WeChat. Empresas que não estiverem ganhando o suficiente para cobrir a folha de pagamento podem adiar salários, contanto que os funcionários eventualmente recebam o dinheiro devido.
Segundo Choi, milhares de trabalhadores estrangeiros contam que sua remuneração foi cortada pela metade ou totalmente suspensa este mês. Segundo ele, isso é ilegal. “Muitos desses funcionários são estrangeiros, eles não entendem chinês”, disse o advogado. “Eles aceitam tudo o que o chefe fala. Eles são alvo fácil de intimidação. “
Na fábrica da Foxconn Technology Group em Shenzhen, os funcionários que retornam do feriado do Ano Novo Lunar ficam em quarentena nos dormitórios antes de serem liberados para trabalhar. Eles estão sendo pagos, mas apenas cerca de um terço do que ganhariam se estivessem na ativa.
Com reservas limitadas e sem grandes possibilidades de trabalho remoto, as pequenas empresas que compõem o vasto setor privado da China estão particularmente vulneráveis. Entre os esforços amplos para ajudar na sobrevivência das companhias, autoridades pediram que os bancos estatais liberem empréstimos a juros mais baixos, principalmente para as pequenas empresas.
(Com a colaboração de Colum Murphy, Shirley Zhao, Bei Hu e Yuan Gao)