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Empresários negam possibilidade de reabertura imediata das academias

Executivos que comandam as empresas Smart Fit, Cia Athletica e Bodytech se manifestaram sobre uma possível volta às atividades

Academias: foram diretamente impactadas pela quarentena do coronavírus (Kanawa Studio/Getty Images)

Academias: foram diretamente impactadas pela quarentena do coronavírus (Kanawa Studio/Getty Images)

RL

Rodrigo Loureiro

Publicado em 12 de maio de 2020 às 19h15.

Última atualização em 12 de maio de 2020 às 20h34.

Na segunda-feira, 11, o presidente Jair Bolsonaro editou um novo decreto que inclui academias — além de salões de beleza, cabeleireiros e barbearias — na lista de serviços essenciais que podem funcionar durante a pandemia do novo coronavírus. Mesmo assim, executivos de algumas das principais redes de empresas ligadas às academias de ginástica não têm a expectativa que suas operações sejam normalizadas nos próximos dias.

Com 17 unidades em oito estados brasileiros e 30.000 alunos, a Cia Athletica teve todas as suas unidades fechadas entre os dias 15 e 22 de março. “Vamos completar dois meses sem receita. Tivemos 100% de queda de faturamento”, afirma Richard Bilton, CEO da Cia Athletica. O empresário elogiou a decisão em Brasília que, segundo ele, ajuda os administradores públicos a enxergar melhor o setor.

A reabertura das unidades, porém, não deve acontecer de forma imediata. “Vamos respeitar a legislação. Não vamos peitar prefeitos ou governadores”, afirmou. A expectativa é que as academias voltem a funcionar, ainda com operações diferenciadas, a partir da segunda quinzena de junho. “Só vamos reabrir quando estivermos 100% prontos”, disse o empresário.

Estar pronto, segundo Bilton, significa adequar as operações para manter a segurança dos alunos. A companhia encomendou milhares de máscaras para ser distribuídas, vai trocar o sistema de catracas para um que não exija o toque em aparelho, diminuirá a aglomeração nas salas, entre outras medidas que poderiam minimizar as chances de contágio da covid-19.

Outra medida será avaliar quais unidades serão abertas de acordo com a situação de saúde de cada região. “Não dá para comparar abrir uma academia em Curitiba e em Manaus. Vai depender da realidade local”, disse o empresário. “Quando você tem um quadro como Curitiba e São José dos Campos, é muito tranquilo.”

Terceira maior rede de unidades próprias do mundo no setor, a Smart Fit tem 797 unidades no Brasil e na América Latina. "É importante a inclusão das academias no rol das atividades essenciais", disse Edgard Corona, diretor executivo da Smart Fit. No país, apenas seis delas estão abertas, em Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e não há previsão de quando outras unidades voltarão a funcionar. "Cada caso será estudado individualmente", afirmou.

Segundo a empresa, a situação vai variar de acordo com as legislações locais. “Quando autorizado pelas autoridades competentes, iremos manter rigorosos procedimentos de segurança adotados por ocasião da retomada das atividades em algumas cidades brasileiras”, afirmou Corona. O executivo informou que a companhia, junto com a Associação Brasileira das Academias (Acad), vem “mantendo contato com governos de cada região, assim como autoridades municipais.”

 

Com 8.000 empregados, a companhia atende mais de 2,6 milhões de alunos e teve receita líquida de quase 2 bilhões de reais no ano passado. A empresa tinha planos de abrir mais 238 unidades na América Latina em 2020, graças a um investimento de 1 bilhão de reais. Com a covid-19, porém, os planos foram atrasados e a empresa agora projeta prejuízos superiores a 160 milhões de reais pelos custos da operação e pelo congelamento das mensalidades.

Outra empresa afetada foi a Bodytech. Com apenas três de suas 102 academias abertas, em Santa Catarina e no Mato Grosso, a empresa não espera a normalização das atividades nos próximos dias, mesmo após a fala do presidente Bolsonaro. “O fato de ser um serviço essencial ou não deveria ser separado da discussão sobre a reabertura das unidades”, afirma Luiz Carlos Urquiza, CEO da Bodytech. “A reabertura tem de estar condicionada às situações de cada estado e às decisões dos poderes competentes.”

A companhia que teve receita operacional bruta de 486 milhões de reais em 2019 realizou 700 demissões desde o início da quarentena. É um número expressivo, visto que a companhia empregava 4.500 pessoas no começo do ano. Segundo Urquiza, a Medida Provisória nº 936/2020, que prevê acordos de redução salarial e auxílio do governo, foi um “divisor de águas porque assegurou que empresas que estão tendo receita zero pudessem manter a maior parte dos trabalhadores”, afirmou o executivo. Segundo ele, o prejuízo beira 5 milhões de reais por mês.

Para o empresário, a reabertura das unidades dificilmente deverá acontecer nos próximos dias por conta de legislações locais que impedem o funcionamento e que devem ser respeitadas. “Enquanto a situação não estiver sob controle, em uma curva decrescente, vai ser difícil”, diz Urquiza. Mesmo quando a quarentena for encerrada, ainda levará alguns dias até que os estabelecimentos sejam reabertos. “Vai demorar de seis a 12 meses para voltarmos à normalidade”, afirma o empresário.

A crise também afeta startups que atuam com planos que permitem o acesso às academias de ginástica. É o caso do Gympass, por exemplo. Procurada para se posicionar sobre o assunto e uma possível reabertura das academias mediante ao decreto de Bolsonaro, a companhia que vale mais de 1 bilhão de dólares não atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem.

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