Cledistonio Salvador, da CSM Engenharia: "Goiás virou o novo Cajamar", em referência à cidade na Grande São Paulo que concentra galpões logísticos para o e-commerce (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 10h08.
Última atualização em 27 de outubro de 2025 às 11h19.
A logística no Centro-Oeste vive um ponto de virada. A expansão das vendas online, o crescimento do agronegócio e o movimento de empresas saindo dos grandes centros urbanos estão mudando o mapa dos investimentos em infraestrutura. Goiás, no centro do país, virou ponto estratégico para armazenagem, distribuição e atendimento ao consumidor. Mas falta espaço para isso tudo acontecer.
É nesse cenário que atua a CSM Engenharia, fundada em 2000 pelo empresário goiano Cledistonio Salvador.
A empresa saiu das pequenas reformas e obras pontuais para assumir projetos de construção de galpões industriais e logísticos de grande porte. Desde 2019, quando foi reativada com foco nesse nicho, já movimentou cerca de 45 milhões de reais em contratos e agora mira alcançar 100 milhões de reais por ano até 2028.O empurrão veio da chegada de grandes empresas de e-commerce, como Mercado Livre, Shopee e Amazon, que passaram a investir em centros de distribuição na região. A CSM, que atua com obras privadas e sob demanda, percebeu que a nova demanda por infraestrutura pesada exigiria estruturas maiores, mais bem localizadas e com foco em tecnologia e sustentabilidade.
“A estrutura que está sendo construída agora é o que o presente já precisa para funcionar”, diz Salvador. Ele acredita que os investimentos em logística em Goiás ainda estão no começo.
“O que vemos aqui é um gargalo de armazenagem real. O Estado bate recorde de produção no agro, cresce no comércio eletrônico, mas não investiu na mesma proporção em galpões e silos.”
A meta da empresa é ampliar a participação do setor logístico no portfólio — hoje, os galpões representam 30% do faturamento. O plano é passar de construtora de obras industriais para uma marca forte na área de infraestrutura logística. “Estamos indo para onde tem oportunidade, não para onde está a dificuldade”, afirma.
A CSM começou no ano 2000, com foco em reformas e pequenas obras no Tocantins. O negócio foi pausado e retomado em 2019 com nova estratégia e um portfólio mais ambicioso. Desde então, entregou projetos como a fábrica de armas da DFA (única do tipo no Brasil), retrofit para a transportadora Gabardo e unidades industriais para empresas como Trusfield, Vitamedic e RG LogG.
Na prática, a empresa atua desde o projeto até a entrega final, incluindo estrutura metálica, fundações e até instalação de sistemas de energia solar e captação de água. A proposta é entregar o galpão pronto para operação.
“O cliente chega com uma ideia, e muitas vezes propõe algo pequeno. A gente orienta a investir em galpões maiores, que são mais absorvidos pelo mercado e geram mais rentabilidade”, explica.
Hoje, a CSM tem cerca de 50 pessoas na equipe interna e complementa com prestadores terceirizados. O conselho consultivo inclui nomes com passagens por grandes empresas como Pepsi, Danone e Votorantim.
O motivo principal está no custo e na eficiência. Enquanto cidades como Cajamar, na Grande São Paulo, já estão saturadas e com terrenos caros, Goiás oferece localização central, acesso rodoviário e ferroviário e custo de terreno mais baixo.
“Investimento em galpão é de longo prazo. E em lugares como Cajamar ou o sul de Minas não dá mais para expandir. Os incentivos fiscais vão acabar em 2027, e as áreas estão super carregadas”, diz.
Outro diferencial apontado pelo empreendedor é a segurança pública no estado. “O custo com segurança em Goiás é muito menor do que em São Paulo ou Rio. O índice de roubo de carga aqui é muito baixo. Isso reduz o custo operacional das empresas”, afirma. Segundo ele, esse fator tem pesado na escolha por Goiás na hora de definir investimentos de longo prazo.
O crescimento do agronegócio também pressiona a demanda por armazenagem. Goiás colhe safras recordes de soja e milho, mas a capacidade de armazenamento não acompanhou esse avanço. A CSM já projeta seus primeiros contratos para construção de silos.
“Hoje, o que mais ouvimos é que não tem onde guardar. O pessoal investiu em plantar, mas não investiu em guardar. Isso vale tanto para grãos quanto para carne. A indústria frigorífica tem limitação porque não há estrutura de congelamento suficiente”, afirma o empresário.
Já no varejo digital, a presença de empresas como Mercado Livre, Shopee e Shein aumenta a necessidade de galpões bem localizados para entrega rápida. “O mercado está absorvendo galpões maiores. Não dá mais para pensar em depósito de rua. Quem quer rentabilidade precisa pensar grande desde o início”, diz.
O portfólio da CSM hoje se divide entre galpões logísticos (30%) e obras industriais (70%). Mas a previsão é que esse percentual mude nos próximos anos, com os novos contratos em fase de negociação.
O empreendedor também tem fechado contratos em São Paulo e planeja expandir para outros estados. Uma das obras mais recentes é para a cooperativa Comigo. Além disso, ele é sócio de um projeto de mineração de fosfato em Fortaleza.
A empresa não trabalha com obras públicas, e todo o foco está em atender empresas privadas. “Não fazemos obra para governo. É tudo com recurso privado e cliente definido”, afirma.
O discurso da CSM se apoia em duas frentes: eficiência técnica e proximidade com o cliente. A proposta da empresa é atuar com solução completa, desde a fundação até o mobiliário. “Tem projeto que a gente entrega com energia solar, captação de água pluvial e estrutura para o cliente já operar no dia seguinte”, explica.
Foi o que aconteceu com a transportadora Gabardo, que conseguiu o selo verde de sustentabilidade após a instalação dos sistemas propostos pela CSM. “A gente não faz o que o cliente pede exatamente como ele quer. A gente propõe o que ele precisa para ter retorno”, afirma.
Com a pressão de tempo dos projetos e a concorrência acirrada, o empresário acredita que a flexibilidade e o conhecimento de mercado são os principais ativos da empresa. “Tem muito player grande. A gente compete com gente que fatura 1,5 bilhão de reais. Mas o cliente não quer só tamanho. Quer resultado.”A meta para os próximos anos é atingir 100 milhões de reais em faturamento anual. Para isso, a empresa aposta no aumento da demanda por estruturas logísticas, no movimento de descentralização dos centros de distribuição e na força da construção civil no Centro-Oeste.
Além dos projetos em andamento, a CSM já desenvolve uma área interna dedicada à prospecção de novos negócios e ao atendimento de clientes que vêm de fora da região. “A gente não fica esperando a demanda chegar. Vai atrás do cliente que quer investir e precisa de alguém que conheça a região”, diz.