Negócios

Em 5 anos, ele comprou 36 empresas e hoje fatura R$ 1 bilhão. O próximo passo: conectar tudo isso

Com mais de 100 soluções no portfólio e 2,3 milhões de motoristas conectados, empresa aposta em efeito rede para reduzir custos e aumentar produtividade no transporte

Vasco Oliveira, CEO da Nstech:“O cliente quer crescer, quer gastar menos, quer reduzir acidentes, quer entregar mais" (Vivian Koblinsky/Divulgação)

Vasco Oliveira, CEO da Nstech:“O cliente quer crescer, quer gastar menos, quer reduzir acidentes, quer entregar mais" (Vivian Koblinsky/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 1 de outubro de 2025 às 09h00.

Última atualização em 1 de outubro de 2025 às 09h36.

O Brasil sofre de um problema logístico crônico. Os custos do setor representam hoje 18,4% do PIB, quase o dobro da média global.

Ao mesmo tempo em que a infraestrutura envelhece e os processos continuam pouco digitalizados, empresas enfrentam o desafio de entregar mais, com menos — em um ecossistema cada vez mais fragmentado.

É nesse contexto que surge a Nstech, uma empresa que nasceu comprando dezenas de negócios do setor para atacar o problema da fragmentação — e que agora encara um novo desafio: fazer tudo isso funcionar como um sistema unificado.

Fundada há cinco anos, a Nstech é hoje a maior empresa de software para supply chain da América Latina, com mais de 1 bilhão de reais em receita recorrente anual.

O grupo é resultado de uma estratégia agressiva de aquisições: foram 36 empresas compradas em meia década, incluindo desde plataformas de monitoramento até soluções para abastecimento, gestão de risco, roteirização e controle de pátio.

O movimento começou quando Vasco Oliveira, executivo com 27 anos de experiência no setor, se uniu à gestora Tarpon para criar uma empresa focada em tecnologia logística.

Oliveira já havia fundado a AGV Logística no final dos anos 1990 — uma das maiores operadoras de armazenagem e transporte do país — e agora investe do outro lado do balcão, com mais de 800 milhões de reais aplicados, via veículos como o Niche Partners, da Tarpon, e o fundo sueco Greenbridge.

“Tudo começou com a aquisição da Buonny, especializada em cargas de alto valor”, afirma Oliveira. A partir dali, a estratégia foi clara: atrair fundadores de negócios relevantes em nichos logísticos, consolidar as operações sob um guarda-chuva único, e preparar o terreno para uma integração mais ambiciosa.

Agora, essa segunda etapa começa a tomar forma com o lançamento da Transportation Network System (TNS) — uma rede que promete unificar a experiência de todos os elos da cadeia.

“A logística tradicional enfrenta inúmeras barreiras, e acreditamos que a integração entre pessoas, processos e tecnologia pode transformar o setor”, diz Oliveira.

No horizonte da empresa, está a consolidação de uma plataforma única, capaz de operar como um verdadeiro sistema nervoso do transporte brasileiro — conectando embarcadores, operadores logísticos, transportadoras, motoristas, seguradoras e postos em tempo real.

Como vai funcionar a TNS na prática

Depois de 36 aquisições e mais de 100 soluções no portfólio, o desafio da NSTech não é mais escala, mas sim orquestração.

E a palavra-chave para a nova fase é “entre”: entre embarcador e operador logístico, entre transportadora e motorista, entre fornecedor e seguradora.

“O grande diferencial da NSTech é que a gente toca todo o ecossistema. Todas as pessoas que tocam a carga, que participam do transporte. A TNS é muito sobre isso: como conectar tudo isso de forma fluida”, afirma Oliveira.

A sigla TNS, de Transportation Network System, vai além do TMS tradicional — sistema de gestão de transporte.

Na prática, a TNS será uma plataforma única, acessada com um login só, que reúne todas as soluções logísticas da NSTech — hoje espalhadas em mais de 100 sistemas.

O cliente não vai mais precisar contratar e integrar ferramentas diferentes para cada etapa da operação. Em vez disso, vai acessar uma única interface que conecta toda a cadeia: da contratação de frete ao monitoramento em tempo real, passando por gestão de risco, abastecimento, roteirização, controle de pátio e até pagamento automatizado de combustível.

“Antes, o cliente precisava lidar com mais de 20 contratos e logins. Agora, ele resolve tudo em um só lugar”, afirma Vasco.

A ideia é que, como em um aplicativo de mensagens, cada novo participante da rede melhore a experiência dos demais — criando um efeito de escala difícil de replicar por sistemas isolados.

A integração acontece em duas frentes. A primeira, já quase concluída, é no backoffice: garantir que todas as soluções adquiridas conversem entre si no nível de dados e operação. A segunda, em construção, é a experiência do usuário.

Na prática, isso significa que o cliente não vai precisar aprender a usar 20 ferramentas diferentes nem ter múltiplos acessos e logins.

“A complexidade atual é uma barreira enorme para a adoção de tecnologia no setor. Resolver isso vai acelerar muito nosso crescimento orgânico”, diz Oliveira.

Em 2023, as plataformas da NSTech processaram 16 bilhões de reais em mercadorias. “É como uma vez e meia o PIB brasileiro passando pelos nossos sistemas. E isso tende a crescer de forma exponencial”, afirma o executivo.

Como serão os próximos passos (e os desafios no caminho)

O crescimento da NSTech até aqui foi impulsionado por fusões e aquisições.

Mas o próximo salto deve vir do uso massivo da TNS por novos e antigos clientes. A empresa já atende 75.000 negócios — de embarcadores a postos de combustível — e reúne dados de mais de 2,3 milhões de motoristas.

“O cliente quer crescer, quer gastar menos, quer reduzir acidentes, quer entregar mais. A gente resolve essas dores com tecnologia”, diz Oliveira. Segundo ele, há mais de 50 maneiras de cortar custo na logística — da economia de combustível à otimização de rotas e manutenção de frota.

Um exemplo concreto disso é a aquisição recente da Gasola, empresa que automatiza a compra e o pagamento de combustível.

“Hoje, combustível representa 35% do custo de um caminhão. Com a Gasola, conseguimos entregar economia de até 40 centavos por litro. É muito dinheiro”, afirma.

Apesar dos avanços, a logística segue como um dos setores menos digitalizados da economia. “Mesmo nos Estados Unidos e na Europa, há muito processo manual. É um setor com décadas de atraso em automação e integração”, diz Oliveira.

No Brasil, o problema é ainda mais agudo. Além da baixa digitalização, o país sofre com infraestrutura precária, envelhecimento da frota e pulverização de entregas. “A gente compra tudo fragmentado. Isso encarece o transporte e reduz produtividade”, afirma.

A NSTech quer ser a espinha dorsal de um novo sistema logístico. Um sistema menos fragmentado, mais eficiente, e com ganhos de escala que hoje não existem no setor.

Mas transformar um mosaico de 36 empresas em uma única plataforma funcional não é trivial — envolve integração de sistemas, culturas, times e modelos de negócio.

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