Junior Selbach, CEO da Selbetti: "Somos viciados em aquisições" (Selbetti/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de setembro de 2025 às 11h04.
Quando a família Selbach criou a Selbetti, em 1977, não imaginava que um dia o negócio familiar de Joinville seria o que é hoje. Também não dava para prever: na época, o auge da tecnologia era o que eles vendiam — máquinas de escrever da italiana Olivetti. O nome da empresa veio daí mesmo, da junção de Selbach com Olivetti.
Hoje, quase 50 anos depois, a Selbetti é dona de uma estrutura com 20 filiais físicas, 2.300 funcionários e oito unidades de negócio em tecnologia.
Além da liderança no mercado de impressão corporativa, a empresa atua com aluguel de notebooks, automação de processos, segurança da informação, atendimento digital e mídia em pontos de venda.
Agora, a companhia acaba de concluir sua 44ª aquisição desde 2014 — e a quarta só em 2025.
A nova comprada é a MD2 Consultoria, especializada em dados, inteligência artificial e cibersegurança.
A MD2 será integrada à unidade IT Solutions, mas deve ser o embrião de uma nova frente de negócios da Selbetti.
"Eles têm soluções próprias de IA, trabalham com governança de dados, cibersegurança e automação. Foi uma grata surpresa", afirma Junior Selbach, CEO da Selbetti. "Conhecemos os fundadores num evento da IBM, e vimos que fazia total sentido trazer para dentro. A partir disso, devemos criar uma nova unidade de negócio, focada em dados e inteligência artificial".
Com a aquisição, a Selbetti espera somar uma receita incremental de 50 milhões de reais já em 2026 — e encerrar 2025 com um faturamento consolidado entre 750 e 800 milhões de reais, crescendo num ritmo de 20% ao ano.
A Selbetti nasceu em Joinville, Santa Catarina, em 1977, como uma revendedora de máquinas de escrever da Olivetti.
A família Selbach, que já atuava com móveis para escritório, viu nas máquinas de datilografia uma oportunidade de acompanhar a modernização dos ambientes corporativos.
Nos anos seguintes, a empresa passou a vender outros produtos da marca italiana — calculadoras, máquinas registradoras, telex e, principalmente, impressoras. Foi com a popularização das copiadoras multifuncionais que a Selbetti começou a mudar de patamar.
“Quando as copiadoras viraram multifuncionais, entendemos que podíamos entregar mais: fazer uma gestão completa da impressão nas empresas”, diz Junior, membro da segunda geração da família fundadora.
Hoje, a Selbetti é uma das maiores gestoras de impressão corporativa do país.
Aluga equipamentos, monitora o uso e oferece sistemas de controle para as empresas.
“A gente entrega desde a instalação até a manutenção, e o cliente consegue saber quem imprimiu, onde e quando. Isso traz eficiência e segurança para os fluxos”, diz o executivo.
Mesmo com a diversificação recente em tecnologia, a impressão segue como a principal fonte de receita. “Devemos fechar o ano com 57% da receita vindo de impressão. E ainda vemos espaço para crescer, porque é um mercado que precisa de gestão especializada”, afirma.
A compra da MD2 é parte de uma estratégia que já virou assinatura da Selbetti.
Desde 2014, a empresa mantém um ritmo quase mensal de aquisições, sempre com foco em complementar seu portfólio.
“Somos viciados”, brinca Junior. “Não estamos comprando empresa para matar produto. A gente traz para agregar soluções. É uma transfusão de sangue que vamos fazendo ao longo do tempo.”
Nos últimos 18 meses, a empresa fez 14 aquisições. Só em 2025, foram quatro negócios fechados.
Em março, comprou a Euax, consultoria de gestão e transformação digital. Em maio, foi a vez da Unirede, especializada em monitoramento e segurança. Em junho, a Eiprice entrou para reforçar a frente de varejo com inteligência de precificação.
A Selbetti evita comprar o CNPJ. Em vez disso, adquire os ativos, contratos e carteira de clientes — o que reduz burocracias e acelera a integração.
“A vida começa com a virada de chave. A gente assume a operação no dia seguinte. Não tem due diligence. A velocidade é parte da nossa vantagem competitiva”, afirma Junior.
Segundo o executivo, outro cuidado é não interferir demais nas culturas das empresas adquiridas.
“Se você quebra a cultura, perde o que eles fazem de bom. Os founders ficam conosco. A gente quer acelerar junto, não engolir.”
A aquisição da MD2 marca uma mudança no centro de gravidade da Selbetti.
Apesar de ainda gerar a maior parte da receita com impressão, a empresa quer reequilibrar as fontes de faturamento e investir em áreas de maior valor agregado.
“Com a vinda da MD2, a gente quer abrir uma nova unidade de negócio voltada só para dados e IA. Depois, uma décima unidade voltada para cibersegurança. Esse é o próximo passo”, afirma Junior.
A MD2 é parceira IBM e tem soluções próprias em inteligência artificial generativa, governança e segurança de dados.
Um dos diferenciais, segundo o CEO, é permitir que os clientes usem IA de forma privada, com controle e auditoria — algo cada vez mais demandado por grandes empresas.
“O cliente não quer só um modelo de IA. Ele quer um ambiente confiável: dados descobertos, catalogados, classificados, limpos, enriquecidos, com regras robustas e um pipeline orquestrado do dado à ação. É isso que a MD2 reforça dentro da Selbetti”, diz Junior.
A Selbetti opera hoje com oito unidades de negócios e mais de 100 produtos.
Embora a vertical de impressão continue relevante, o restante do portfólio já responde por 43% da receita — e crescendo.
A empresa atua em todos os estados do Brasil, com 20 filiais físicas e dois centros de distribuição: um em São Paulo e outro em Joinville, onde também está a sede.
“Hoje é praticamente 50% orgânico e 50% via aquisição”, explica Junior. “A gente cresce com as filiais também, principalmente nas capitais. Mas ainda vemos espaço para crescer em impressão, que é nosso core histórico.”
A Selbetti está presente em segmentos variados, mas o maior ainda é o de saúde, com cerca de 23% da receita.
Segundo o CEO, a diversificação setorial e a estrutura por BU ajudam a dar previsibilidade e equilíbrio à operação.
“Nosso desenho por unidades permite equilibrar margens e ciclos diferentes. Isso nos dá resiliência e aumenta a previsibilidade. E, com esse modelo, a gente está no caminho para ultrapassar o primeiro bilhão”, afirma.