Negócios

Eles transformaram uma loja de máquina de escrever num negócio de R$ 800 milhões comprando empresas

Com a compra da MD2, especializada em dados e inteligência artificial, empresa catarinense chega à sua 44ª aquisição e prepara uma nova unidade de negócios voltada a IA corporativa

Junior Selbach, CEO da Selbetti: "Somos viciados em aquisições" (Selbetti/Divulgação)

Junior Selbach, CEO da Selbetti: "Somos viciados em aquisições" (Selbetti/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 26 de setembro de 2025 às 11h04.

Quando a família Selbach criou a Selbetti, em 1977, não imaginava que um dia o negócio familiar de Joinville seria o que é hoje. Também não dava para prever: na época, o auge da tecnologia era o que eles vendiam — máquinas de escrever da italiana Olivetti. O nome da empresa veio daí mesmo, da junção de Selbach com Olivetti.

Hoje, quase 50 anos depois, a Selbetti é dona de uma estrutura com 20 filiais físicas, 2.300 funcionários e oito unidades de negócio em tecnologia.

Além da liderança no mercado de impressão corporativa, a empresa atua com aluguel de notebooks, automação de processos, segurança da informação, atendimento digital e mídia em pontos de venda.

Agora, a companhia acaba de concluir sua 44ª aquisição desde 2014 — e a quarta só em 2025.

A nova comprada é a MD2 Consultoria, especializada em dados, inteligência artificial e cibersegurança.

A MD2 será integrada à unidade IT Solutions, mas deve ser o embrião de uma nova frente de negócios da Selbetti.

"Eles têm soluções próprias de IA, trabalham com governança de dados, cibersegurança e automação. Foi uma grata surpresa", afirma Junior Selbach, CEO da Selbetti. "Conhecemos os fundadores num evento da IBM, e vimos que fazia total sentido trazer para dentro. A partir disso, devemos criar uma nova unidade de negócio, focada em dados e inteligência artificial".

Com a aquisição, a Selbetti espera somar uma receita incremental de 50 milhões de reais já em 2026 — e encerrar 2025 com um faturamento consolidado entre 750 e 800 milhões de reais, crescendo num ritmo de 20% ao ano.

Qual é a história da Selbetti

A Selbetti nasceu em Joinville, Santa Catarina, em 1977, como uma revendedora de máquinas de escrever da Olivetti.

A família Selbach, que já atuava com móveis para escritório, viu nas máquinas de datilografia uma oportunidade de acompanhar a modernização dos ambientes corporativos.

Nos anos seguintes, a empresa passou a vender outros produtos da marca italiana — calculadoras, máquinas registradoras, telex e, principalmente, impressoras. Foi com a popularização das copiadoras multifuncionais que a Selbetti começou a mudar de patamar.

“Quando as copiadoras viraram multifuncionais, entendemos que podíamos entregar mais: fazer uma gestão completa da impressão nas empresas”, diz Junior, membro da segunda geração da família fundadora.

Hoje, a Selbetti é uma das maiores gestoras de impressão corporativa do país.

Aluga equipamentos, monitora o uso e oferece sistemas de controle para as empresas.

“A gente entrega desde a instalação até a manutenção, e o cliente consegue saber quem imprimiu, onde e quando. Isso traz eficiência e segurança para os fluxos”, diz o executivo.

Mesmo com a diversificação recente em tecnologia, a impressão segue como a principal fonte de receita. “Devemos fechar o ano com 57% da receita vindo de impressão. E ainda vemos espaço para crescer, porque é um mercado que precisa de gestão especializada”, afirma.

Como é a fórmula de crescer comprando

A compra da MD2 é parte de uma estratégia que já virou assinatura da Selbetti.

Desde 2014, a empresa mantém um ritmo quase mensal de aquisições, sempre com foco em complementar seu portfólio.

“Somos viciados”, brinca Junior. “Não estamos comprando empresa para matar produto. A gente traz para agregar soluções. É uma transfusão de sangue que vamos fazendo ao longo do tempo.”

Nos últimos 18 meses, a empresa fez 14 aquisições. Só em 2025, foram quatro negócios fechados.

Em março, comprou a Euax, consultoria de gestão e transformação digital. Em maio, foi a vez da Unirede, especializada em monitoramento e segurança. Em junho, a Eiprice entrou para reforçar a frente de varejo com inteligência de precificação.

A Selbetti evita comprar o CNPJ. Em vez disso, adquire os ativos, contratos e carteira de clientes — o que reduz burocracias e acelera a integração.

“A vida começa com a virada de chave. A gente assume a operação no dia seguinte. Não tem due diligence. A velocidade é parte da nossa vantagem competitiva”, afirma Junior.

Segundo o executivo, outro cuidado é não interferir demais nas culturas das empresas adquiridas.

“Se você quebra a cultura, perde o que eles fazem de bom. Os founders ficam conosco. A gente quer acelerar junto, não engolir.”

Dados e IA viram prioridade

A aquisição da MD2 marca uma mudança no centro de gravidade da Selbetti.

Apesar de ainda gerar a maior parte da receita com impressão, a empresa quer reequilibrar as fontes de faturamento e investir em áreas de maior valor agregado.

“Com a vinda da MD2, a gente quer abrir uma nova unidade de negócio voltada só para dados e IA. Depois, uma décima unidade voltada para cibersegurança. Esse é o próximo passo”, afirma Junior.

A MD2 é parceira IBM e tem soluções próprias em inteligência artificial generativa, governança e segurança de dados.

Um dos diferenciais, segundo o CEO, é permitir que os clientes usem IA de forma privada, com controle e auditoria — algo cada vez mais demandado por grandes empresas.

“O cliente não quer só um modelo de IA. Ele quer um ambiente confiável: dados descobertos, catalogados, classificados, limpos, enriquecidos, com regras robustas e um pipeline orquestrado do dado à ação. É isso que a MD2 reforça dentro da Selbetti”, diz Junior.

A estrutura por trás da máquina de aquisições

A Selbetti opera hoje com oito unidades de negócios e mais de 100 produtos.

Embora a vertical de impressão continue relevante, o restante do portfólio já responde por 43% da receita — e crescendo.

A empresa atua em todos os estados do Brasil, com 20 filiais físicas e dois centros de distribuição: um em São Paulo e outro em Joinville, onde também está a sede.

“Hoje é praticamente 50% orgânico e 50% via aquisição”, explica Junior. “A gente cresce com as filiais também, principalmente nas capitais. Mas ainda vemos espaço para crescer em impressão, que é nosso core histórico.”

A Selbetti está presente em segmentos variados, mas o maior ainda é o de saúde, com cerca de 23% da receita.

Segundo o CEO, a diversificação setorial e a estrutura por BU ajudam a dar previsibilidade e equilíbrio à operação.

“Nosso desenho por unidades permite equilibrar margens e ciclos diferentes. Isso nos dá resiliência e aumenta a previsibilidade. E, com esse modelo, a gente está no caminho para ultrapassar o primeiro bilhão”, afirma.

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