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Eles têm menos de 30 e transformam até áudio e figurinha em pedidos de vendas

A Sharpi quer digitalizar o caos das vendas informais no B2B brasileiro — e já levantou US$ 1 milhão com investidores como MAYA e fundadores da Stone, Vtex e iFood

Alexandre Philippi e Kim Rawicz, fundadores da Sharpi: mais de R$ 250 milhões já foram processados pela plataforma

Alexandre Philippi e Kim Rawicz, fundadores da Sharpi: mais de R$ 250 milhões já foram processados pela plataforma

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 25 de novembro de 2025 às 05h59.

A startup brasileira Sharpi acaba de levantar US$ 1 milhão para descomplicar as vendas via WhatsApp. Hoje, o aplicativo de mensagens é quase sinônimo de celular brasileiro: é estimado que 96% da população tenha o app (que hoje conta com ferramentas de vendas, vitrines digitais, contas comerciais e comunidades) instalado no smartphone.

Liderada pelo fundo MAYA Capital, a rodada contou com a participação dos fundadores da Stone, da Vtex e um dos cofundadores do iFood. O fundo Hypersphere, feita pelos fundadores da Hyperplane, startup adquirida pelo Nubank, também entrou na rodada.

A Sharpi criou um copiloto digital que acompanha silenciosamente as conversas no WhatsApp entre vendedores e clientes. Hoje, as PMEs representam 95% dos usuários do WhatsApp Business no Brasil.

Esse sistema é capaz de entender pedidos feitos de maneira informal — com áudios, gírias, imagens ou até figurinhas com CNPJ — e transformar tudo em dados organizados. Com isso, economiza-se até três horas por dia de trabalho manual e acelera processos em até oito vezes, segundo a empresa

Quando o sistema erra, aprende com a correção do vendedor. Esse aprendizado automático, feito com uso real, cria um modelo de inteligência artificial treinado sem custo adicional para a empresa. “É como se o próprio time comercial ensinasse a tecnologia, só por continuar trabalhando do jeito que já fazia”, diz Kim Rawicz, cofundador.

Como tudo começou?

Segundo Rawicz e Alexandre Philippi, fundadores da empresa, a Sharpi foi construída com base em mais de 200 dias acompanhando vendedores no campo, dentro de escritórios ou em trajetos de ônibus. Mas antes disso, os dois já tinham percorrido jornadas diferentes do habitual.

Hoje com 23 anos, Kim começou a empreender aos 8. Criou uma produtora de documentários com o amigo, publicou um livro de ficção sobre a Segunda Guerra Mundial aos 10 e, na adolescência, construiu uma pequena fábrica de brownies que chegou a afetar o faturamento da cantina da escola.

Saiu do ensino tradicional, formou-se em confeitaria pelo Le Cordon Bleu e abriu a Quintinhas, confeitaria delivery que vendia centenas de doces por dia no Rio. A limitação geográfica, porém, incomodava.

“A confeitaria não era escalável. Entrei na tecnologia porque queria algo mais desafiador.” Em 2022, percebeu que restaurantes preferiam comprar por WhatsApp, mesmo com todos os erros e retrabalhos, e decidiu resolver esse problema.

Já Philippi engenheiro de 28 anos, passou pela Apple Developer Academy, ganhou hackathons, fundou uma empresa de tecnologia aos 21 e trabalhou com startups no Vale do Silício. De volta ao Brasil, decidiu criar uma “big tech para engenheiros brasileiros”, mas conheceu Kim e se juntou à Sharpi em 2023, estruturando o produto atual.

Como funciona a Sharpi?

A Sharpi automatiza a venda informal feita via WhatsApp. O copiloto escuta silenciosamente as conversas, interpreta os pedidos — mesmo quando escritos de forma errada ou com termos regionais — e lança no sistema da empresa em segundos.

Vendedores que antes passavam de duas a quatro horas por dia só digitando pedidos em ERPs antigos agora ganham esse tempo de volta. Em algumas empresas, pedidos que levavam 8 horas passaram a ser feitos em 30 minutos.

Outro diferencial é que a adoção não exige treinamento. A ferramenta aprende com o uso, reconhecendo padrões e erros conforme o próprio time comercial interage com ela. O sistema também enxerga áudios, fotos, e até figurinhas. “Tem gente que manda só o emoji do cliente ou um sticker com CNPJ. A gente entende”, diz Alexandre.

Além do copiloto, a empresa oferece um CRM autônomo que lê as conversas e atualiza o funil de vendas sem qualquer ação manual. A gestão comercial se torna automática: cada cotação, pedido ou reativação é organizada com base no comportamento real do cliente no WhatsApp.

“A Sharpi é uma daquelas raras empresas em que o produto simplesmente funciona e os usuários se tornam instantaneamente viciados”, diz Monica Saggioro, sócia da MAYA Capital. “Um dos clientes nos disse que, se a ferramenta fosse retirada, haveria um motim”.

O que vem por aí?

Hoje, a empresa atende nomes como Mantiqueira (do grupo JBS), Bold Snacks e Casas Pedro. Já foram processados R$ 250 milhões pela plataforma, com previsão de chegar a R$ 1 bilhão até o fim de 2026.

No setor, a Sharpi compete indiretamente com empresas como Yalo e Idwall. Mas enquanto essas ferramentas oferecem agentes de vendas ou ferramentas de identificação digital, a Sharpi atua nos bastidores: uma infraestrutura silenciosa, que não muda o comportamento de vendas nem exige que o cliente aprenda algo novo.

Em paralelo, existem negócios brasileiros que se apoiam no WhatsApp surgindo todos os dias. O banco digital Magie funciona diretamente pelo aplicativo. A Friday, que ajuda no pagamento de contas, também.

Com os recursos da nova rodada, a empresa quer acelerar o desenvolvimento de ferramentas proativas de venda. Isso inclui mensagens automáticas de reativação, sugestões de pedido com base no histórico e — no futuro — camadas de pagamento.

A meta é atingir R$ 6 milhões em receita recorrente anual (ARR) até o fim de 2026.

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