Negócios

Eles têm lojas sem funcionário. Agora se uniram para faturar R$ 150 milhões

Nova estrutura deve abrir 40 unidades até o fim do ano e dobrar participação no mercado

Giovani Grignani Pereira (CMO) e Eduardo Blasio Perez (CEO), da Vendify: “Nós acreditamos que o que vai pautar o crescimento desse setor nos próximos anos é a consolidação. Sem isso, não tem como escalar” (Elias Aftim/Divulgação)

Giovani Grignani Pereira (CMO) e Eduardo Blasio Perez (CEO), da Vendify: “Nós acreditamos que o que vai pautar o crescimento desse setor nos próximos anos é a consolidação. Sem isso, não tem como escalar” (Elias Aftim/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 7 de maio de 2025 às 14h42.

Última atualização em 7 de maio de 2025 às 15h12.

O setor de mercados autônomos dentro de condomínios entrou em ritmo de cruzeiro no Brasil.

Com cerca de 10 mil unidades espalhadas pelo país e faturamento entre R$ 1,5 bilhão e R$ 3 bilhões por ano, o modelo que opera sem atendentes e funciona 24 horas ainda arranha a superfície: menos de 10% dos 400 mil condomínios brasileiros têm um minimercado desse tipo.

Olhando para esse mar de oportunidades (e de concreto, por que não) e a necessidade de escala, duas empresas de São Paulo estão passando por fusão.

Trata-se da Vendify e da Mercadomínio, que decidiram unir forças para brigar por protagonismo num setor que começa a deixar de ser novidade e vira, de fato, alternativa real de consumo.

Sob a marca Vendify, a nova operação concentra cerca de 300 lojas em condomínios residenciais e corporativos e pretende disputar com players como Market4u, Minha Quitandinha e SmartStore, todos de olho nos mesmos corredores de apartamento.

“Nós acreditamos que o que vai pautar o crescimento desse setor nos próximos anos é a consolidação. Sem isso, não tem como escalar”, afirma Eduardo Blasio Perez, CEO da Vendify.

A empresa projeta faturar R$ 150 milhões em 2025, abrir 40 lojas ainda neste ano e, no médio prazo, criar uma estrutura para incorporar outras empresas. Tudo isso, por enquanto, sem capital externo.

Da vending machine ao galpão de 5.000 m²

Eduardo já tinha duas décadas de experiência com vending machines quando vendeu sua antiga empresa para o grupo Grand Coffee, investido pelo Pátria.

Em 2018, durante uma feira nos Estados Unidos, ele viu o futuro: mercados autônomos dominando o espaço das vending machines.

“Cheguei e falei: é isso. Mas tava no meio da venda da minha empresa, então o projeto ficou na gaveta.”

Depois de concluir a venda, retomou a ideia. Fundou a Vendify com dois ex-sócios e começou atendendo escritórios. Até que chegou a pandemia. “Em março de 2020, olhamos um para o outro e falamos: onde tá o cliente? Tá em casa. Em abril, abrimos a primeira loja dentro de um condomínio”, conta.

Giovani Grignani Pereira, agora sócio e diretor de marketing, veio por outro caminho. Trabalhou em empresas como Fleury e Coca-Cola Femsa, até decidir empreender. “Em 2017, já tinha fornecedor, preço e cardápio. A primeira loja foi em outubro de 2018. Quando chegou a pandemia, entendi que era hora de acelerar. Senão, ia ser engolido.”

A primeira loja de Giovani tinha sete funcionários e padaria própria. Com a pandemia, virou uma operação autônoma. “A gente já tava dentro da casa do cliente. Era só virar a chave.”

Aposta em lojas próprias

Enquanto o setor abraça o modelo de franquias como solução de expansão, a Vendify prefere o caminho mais difícil: crescimento orgânico, lojas próprias e capital 100% próprio. “Tem hora que a gente não sabe como consegue”, diz Eduardo. “Mas loja robusta traz receita maior. E isso nos ajuda a financiar a operação.”

O modelo não é replicável para qualquer perfil de prédio. “Nosso corte hoje é condomínio com mais de 300 apartamentos. Abaixo disso tem muito potencial, mas não posso errar. Cada loja precisa ser um acerto”, afirma.

O faturamento mensal por loja varia, mas costuma superar o de players que operam modelos mais enxutos.

“A gente não chama de mercadinho nem de lojinha. Isso aqui é para ser uma alternativa real ao supermercado. Não é só pão e refrigerante.”

Os desafios da operação autônoma

O maior problema do setor não é o que parece. Não é falta de cliente nem concorrência. É gestão. E ela é afetada diretamente pelo que o time da Vendify chama de “desvio”.

“Quando o cliente leva algo sem registrar, a gente não sabe que aquele item saiu. Não conseguimos repor. E quando ele volta, o sistema mostra que o produto ainda está lá. Ele não compra, e eu perco a venda de novo”, explica Eduardo.

A empresa tem equipe dedicada de monitoramento, além de inventário frequente e sistemas integrados para tentar mitigar a perda. Mas o fator-chave continua sendo comportamento. “É como se o Pão de Açúcar estivesse sem internet. O caixa vai pedir para voltar depois. Aqui, quem tem de fazer isso é a consciência do cliente.”

Como será a expansão

Por enquanto, a operação da Vendify está concentrada na capital, Grande São Paulo, ABC e Sorocaba. “Tem um diamante para ser lapidado aqui”, diz Eduardo. Mas Campinas, Jundiaí e Indaiatuba já estão no radar. “Não dá para pensar em escalar nacionalmente sem dominar o maior mercado do país.”

Mesmo com a volta da rotina presencial, o modelo continua performando. Só mudou o pico de vendas. “Agora é mais no fim do dia, quando o pessoal chega do trabalho. Antes, era mais constante.”

A Vendify quer ser alternativa real, não só um tapa-buraco. “A loja tá no térreo, você tá de chinelo, manda o filho, passa ali antes de subir. Em São Paulo, com essa segurança, ninguém quer parar o carro na rua para comprar leite.”

E o impacto vai além do consumo. “Prédio que tem mercado vende mais fácil, aluga mais rápido. Mesmo quem não usa quer ter. É comodidade. E comodidade virou valor concreto.”

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