Negócios

Eles faturam R$ 25 milhões ajudando varejistas como Carrefour e Prezunic a terem marcas próprias

A Amicci recebeu aporte de R$ 40 milhões no ano passado, valor que está sendo usado para melhorar a tecnologia e oferecer o serviço a novos mercados

Antônio Sá, Danusa Tavares e Johnny Reitzfeld, da Amicci: podemos ir muito além das redes varejistas (Amicci/Divulgação)

Antônio Sá, Danusa Tavares e Johnny Reitzfeld, da Amicci: podemos ir muito além das redes varejistas (Amicci/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 29 de maio de 2023 às 16h18.

Última atualização em 29 de maio de 2023 às 18h41.

Os perrengues de intercambistas são contados a torto e a direito nas redes sociais hoje em dia. Longe de casa, estudantes vivem sem muito dinheiro ou sem saber o que fazer para comer e dividindo apartamento ou casa com outras em semelhante situação.

Esse era um retrato da vida de Johnny Reitzfeld quando conheceu o universo das marcas próprias, aos 18 anos. Morando na Austrália e dividindo um imóvel com outros dois intercambistas, ele percebeu que a compra de itens próprios de redes de atacadistas poderia representar um respiro nas contas no fim do mês de 20%. Logo, cerca de 95% dos produtos consumidos na casa teriam essa origem.

A economia do garoto que entregava pizza na Domino’s marcaria o futuro do hoje CEO da Amicci, um marketplace que conecta redes varejistas e distribuidoras a cerca de 25 mil fornecedores e fabricantes, 4 mil no Brasil e mais de 20 mil fora do país.

Como o negócio surgiu no mercado

Em 2022, o GMV dos clientes com as marcas desenvolvidas usando a estrutura da empresa superou R$ 1,5 bilhão, montante projetado para avançar acima de R$ 2 bilhões ao longo deste ano. A Amicci tem mais de 6 mil SKUs (unidades de produto) sob gestão, de empresas como Carrefour, Petz, Daki, Ultragaz, Prezunic, Grupo Koch e Sumirê.

Quando adotam a estratégia de marcas próprias, as empresas comercializam os produtos somente em suas lojas e normalmente usam o mesmo nome do grupo varejista, caso da marca Carrefour e da Prezunic. Em outros casos, os negócios optam por não ter essa associação tão direta, como o GPA, com a Qualitá, e a RaiaDrogasil, com Needs.

Hoje com 36 anos, Reitzfeld criou o negócio em 2017, após passagens pelo mercado financeiro em instituições como Itaú BBA e Goldman Sachs e uma primeira investida frustrada no mundo do empreendedorismo, como sócio de uma rede de academias. “Eu falei: ‘Vou voltar para o que eu acredito que é o tema do private label e vou tentar construir alguma coisa aqui nesse negócio’”, afirma.

A inquietação do executivo partia de uma premissa simples: como um país com uma população tão empobrecida como o país tem números tão baixos de marcas próprias, um modelo que pode trabalhar com preços até 20% mais em conta do que as marcas originais.

Na média global, este segmento representa em torno de 19% das vendas. Na Europa, 32%, percentual que por aqui fica em torno de 2%, de acordo com dados da NielsenIQ.

Para colocar o projeto de pé, ele convidou Antônio Sá e Danusa Tavares para a sociedade que começou com capital próprio. Os dois são ex-profissionais do Walmart e lideraram a operação de marcas próprias da rede varejista, conhecendo na linha de frente os meandros deste tipo de operação. 

Qual é a estrutura de negócios da Amicci

O modelo foi estruturado com uma plataforma em que as redes varejistas enviam as informações do tipo de produto que precisam e a ferramenta dispara o pedido para todos os fornecedores capazes de atender aquele tipo de demanda.

A Amicci faz também o processo de gestão e acompanhamento dos produtos, analisando a qualidade com testes em laboratório próprio, realização de teste cego, padrão das informações em embalagens e por aí.

Como modelo de remuneração, a empresa recebe um percentual das vendas dos produtos que ajuda a colocar na rua. Hoje, os itens pertencem a mais de 200 categorias, desde as mais básicas como alimentos e artigos de limpeza a coisas como elevador automotivo.

Em muitos casos, os fornecedores são empresas que estão com capacidade ociosa e usam o modelo de white label como uma estratégia para manter o negócio girando — e crescer o faturamento.

Quais são as novas janelas de crescimento

Por outro lado, esses empresários enxergaram que poderiam usar o mesmo caminho das varejistas para ampliar o portfólio de produtos. Nessa linha, há casos de fabricantes de massa desenvolvendo com outros fornecedores produtos como queijo ralado, azeitonas, molhos etc.

O movimento criou uma nova fonte de receita para a Amicci e segue em linha com que a empresa quer fazer: ampliar os clientes para além das redes varejistas.

“A gente entendeu que consegue ir muito além do varejo em si. São empreendedores, marcas, grandes multinacionais e assim por diante”, afirma. Esta nova estratégia começou a ser implementada nos últimos 18 meses e representou em torno de 10% do faturamento de R$ 25 milhões registrado em 2022. O restante vem do modelo raiz do negócio.

Outra janela de crescimento observada pela empresa é a da exportação. Ainda pequena, a unidade tem na Europa e nos Estados Unidos os principais mercados com a comercialização de produtos para pets.

Capitalizada com R$ 40 milhões obtidos no ano passado em rodada série A liderada pela gestora Astella e contou com participação da DGF Investimentos e da Scale Up Ventures, fundo da Endeavor, a empresa pretende acelerar o passo. Nos últimos sete anos, expandiu em um ritmo de 120% ao ano. Agora, quer fazer mais.

Para isso, está aumentando os investimentos em tecnologia para entrar em novas categorias e indústrias. “Esse capital ajuda a gente a expandir as personas e mercado de uma forma agressiva e exponencial. Hoje eu tenho uma limitação de clientes muito grande”, diz.

É da soma dessa ações que Reitzfeld sonha alto: transformar a Amicci no Alibaba da América Latina, resgatando a origem da companhia chinesa fundada por Jack Ma que nasceu como um site B2B, conectando fabricantes chinesas a compradores internacionais

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