Negócios

Eles faturam mais de R$ 200 milhões num setor caótico — e acabam de comprar uma nova empresa

Startup de tecnologia para comércio exterior faz sua primeira aquisição e mira expansão internacional em um dos setores mais instáveis do momento

Helmuth Hofstatter e Carlos Souza, da Logcomex: “Quanto mais caótico o mercado, mais as empresas precisam de inteligência. Nosso papel é transformar esse caos em clareza” (Logcomex/Divulgação)

Helmuth Hofstatter e Carlos Souza, da Logcomex: “Quanto mais caótico o mercado, mais as empresas precisam de inteligência. Nosso papel é transformar esse caos em clareza” (Logcomex/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 17 de setembro de 2025 às 11h30.

Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 14h35.

Pouca coisa está tão instável em 2025 quanto o comércio exterior. Tarifas de última hora, dólar oscilando, guerra comercial entre potências e gargalos logísticos que se acumulam nos portos — o setor virou um campo minado para quem importa e exporta.

No meio desse cenário, a Logcomex tenta fazer o oposto do caos: organizar dados, automatizar decisões e dar insights sobre comércio internacional.

A empresa tem uma plataforma que dá informações em tempo real sobre rotas, fornecedores, movimentação de mercadorias, concorrência e preços de importação e exportação. É quase como um “terminal Bloomberg”, referência do mercado financeiro, mas voltado para o comércio exterior.

Com esse trabalho, a empresa teve uma receita operacional líquida de R$ 122 milhões em 2024, um crescimento de 42% em relação ao ano anterior. Isso a colocou em 48º lugar entre as empresas de R$ 30 a R$ 150 milhões que mais crescem no país, segundo o ranking EXAME Negócios em Expansão, o maior anuário de empreendedorismo brasileiro. Neste ano, o faturamento anualizado é de 200 milhões de reais.

Agora, quer dar um novo passo. A Logcomex acaba de fazer sua primeira aquisição: comprou a UXComex, uma startup focada em agentes de carga e despachantes aduaneiros, numa estratégia para ampliar seu portfólio e se aproximar da operação logística na prática.

“Essa aquisição é um movimento estratégico na construção do nosso sistema operacional para o comércio exterior. Ao unir nossa infraestrutura de tecnologia e IA à experiência da UXComex, criamos produtividade real para toda a cadeia de supply chain global”, afirma Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex.

No horizonte da empresa, estão novos produtos, mais tecnologia e a internacionalização — especialmente no México, onde já começou a operar neste ano.

Qual é a história da empresa

A Logcomex nasceu em 2016, no porto de Paranaguá, no Paraná.

Helmuth, o fundador, já vinha de experiências no setor: trabalhou com exportação na BRF e em empresas de tecnologia portuária.

A ideia surgiu ao perceber um problema recorrente: a falta de acesso à informação confiável no tempo certo.

“As empresas perdem muito dinheiro no comércio exterior por não saberem o que está acontecendo. Tempo é dinheiro nesse setor”, afirma o fundador.

Em 2017, a startup se mudou para Curitiba, foi acelerada pela ACE e começou a captar investimentos.

Vieram rodadas com Caravela, Alexia Ventures e Endeavor Catalyst. A mais recente, uma série B de quase 33 milhões de dólares levantada em 2023, foi o combustível para internacionalizar e fazer sua primeira aquisição.

“A gente sempre cresceu com consistência. Em 2024, aumentamos 50% nossa receita praticamente sem queimar caixa. Agora é hora de dar o próximo passo”, diz Helmuth.

Hoje, a empresa tem cerca de 400 funcionários e uma base de 3.500 clientes, entre indústrias, bancos, operadores logísticos e empresas de transporte aéreo e marítimo. O foco é organizar e transformar dados em decisões estratégicas.

O que faz a Logcomex

O modelo de negócio da Logcomex é SaaS, software como serviço.

Os clientes pagam uma assinatura para acessar um painel com dados e análises do comércio exterior.

Com isso, empresas conseguem, por exemplo, descobrir novos fornecedores, avaliar concorrentes, acompanhar preços médios de importação e exportação e entender rotas logísticas.

“Um fabricante de pneus consegue saber quanto o Brasil importou, de quem, por qual preço, e qual é o market share de cada fornecedor. Isso vale ouro num setor tão volátil”, diz o CEO.

A plataforma também se integra com dados operacionais das empresas, oferecendo visibilidade logística e insights sobre estoque, cadeia de suprimentos e desempenho de embarques.

Mais recentemente, a empresa lançou produtos voltados para organização da própria operação dos clientes — o que abriu caminho para complementar o portfólio com a UXComex.

A nova aquisição e os planos de expansão

A UXComex é uma startup fundada em 2017, com sede em São Paulo.

Ela atende cerca de 300 clientes, com uma equipe de 30 pessoas, e atua como uma espécie de ERP, sistema de gestão, para agentes de carga e despachantes aduaneiros, responsáveis por registrar declarações de importação, cotações de frete e execução da logística documental.

“Eles são quase a espinha dorsal da operação. Enquanto a Logcomex atua mais com dados e inteligência, a UXComex está dentro da operação em si. São modelos complementares”, diz Helmuth.

A aquisição foi estratégica. A Logcomex não pretende integrar os sistemas num primeiro momento — cada empresa seguirá com sua marca e tecnologia separadas. Mas vai usar sua força comercial para escalar o negócio da nova adquirida.

“A ideia é usar nossa máquina de vendas e base de clientes para impulsionar a UXComex. A marca deles continua independente, mas com muito mais fôlego para crescer”, afirma.

Além da fusão, a Logcomex está acelerando sua atuação internacional.

No início de 2025, passou a operar no México, com 90 clientes ativos e um time local de sete pessoas. A meta é replicar a estratégia brasileira em outros países da América Latina.

Os desafios do futuro

Apesar do bom momento, o caminho à frente é turbulento.

O comércio exterior enfrenta pressões como guerra comercial, mudanças abruptas nas tarifas de importação/exportação e um dólar que desafia qualquer planejamento.

“Quanto mais caótico o mercado, mais as empresas precisam de inteligência. Nosso papel é transformar esse caos em clareza”, diz o fundador.

Segundo ele, o cenário também exige resiliência logística: fornecedores redundantes, menos dependência de rotas únicas, e uma visão mais estratégica da cadeia de suprimentos.

Com caixa robusto, crescimento constante e mercado ainda muito analógico, a Logcomex enxerga espaço para mais aquisições — embora não tenha outras negociações avançadas no momento.

“O setor ainda é muito fragmentado. Se conseguirmos provar a tese da UXComex e escalar bem no México, é natural pensar em novos movimentos”, diz.

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