Helmuth Hofstatter e Carlos Souza, da Logcomex: “Quanto mais caótico o mercado, mais as empresas precisam de inteligência. Nosso papel é transformar esse caos em clareza” (Logcomex/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 11h30.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 14h35.
Pouca coisa está tão instável em 2025 quanto o comércio exterior. Tarifas de última hora, dólar oscilando, guerra comercial entre potências e gargalos logísticos que se acumulam nos portos — o setor virou um campo minado para quem importa e exporta.
No meio desse cenário, a Logcomex tenta fazer o oposto do caos: organizar dados, automatizar decisões e dar insights sobre comércio internacional.
A empresa tem uma plataforma que dá informações em tempo real sobre rotas, fornecedores, movimentação de mercadorias, concorrência e preços de importação e exportação. É quase como um “terminal Bloomberg”, referência do mercado financeiro, mas voltado para o comércio exterior.
Com esse trabalho, a empresa teve uma receita operacional líquida de R$ 122 milhões em 2024, um crescimento de 42% em relação ao ano anterior. Isso a colocou em 48º lugar entre as empresas de R$ 30 a R$ 150 milhões que mais crescem no país, segundo o ranking EXAME Negócios em Expansão, o maior anuário de empreendedorismo brasileiro. Neste ano, o faturamento anualizado é de 200 milhões de reais.
Agora, quer dar um novo passo. A Logcomex acaba de fazer sua primeira aquisição: comprou a UXComex, uma startup focada em agentes de carga e despachantes aduaneiros, numa estratégia para ampliar seu portfólio e se aproximar da operação logística na prática.
“Essa aquisição é um movimento estratégico na construção do nosso sistema operacional para o comércio exterior. Ao unir nossa infraestrutura de tecnologia e IA à experiência da UXComex, criamos produtividade real para toda a cadeia de supply chain global”, afirma Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex.
No horizonte da empresa, estão novos produtos, mais tecnologia e a internacionalização — especialmente no México, onde já começou a operar neste ano.
A Logcomex nasceu em 2016, no porto de Paranaguá, no Paraná.
Helmuth, o fundador, já vinha de experiências no setor: trabalhou com exportação na BRF e em empresas de tecnologia portuária.
A ideia surgiu ao perceber um problema recorrente: a falta de acesso à informação confiável no tempo certo.
“As empresas perdem muito dinheiro no comércio exterior por não saberem o que está acontecendo. Tempo é dinheiro nesse setor”, afirma o fundador.
Em 2017, a startup se mudou para Curitiba, foi acelerada pela ACE e começou a captar investimentos.
Vieram rodadas com Caravela, Alexia Ventures e Endeavor Catalyst. A mais recente, uma série B de quase 33 milhões de dólares levantada em 2023, foi o combustível para internacionalizar e fazer sua primeira aquisição.
“A gente sempre cresceu com consistência. Em 2024, aumentamos 50% nossa receita praticamente sem queimar caixa. Agora é hora de dar o próximo passo”, diz Helmuth.
Hoje, a empresa tem cerca de 400 funcionários e uma base de 3.500 clientes, entre indústrias, bancos, operadores logísticos e empresas de transporte aéreo e marítimo. O foco é organizar e transformar dados em decisões estratégicas.
O modelo de negócio da Logcomex é SaaS, software como serviço.
Os clientes pagam uma assinatura para acessar um painel com dados e análises do comércio exterior.
Com isso, empresas conseguem, por exemplo, descobrir novos fornecedores, avaliar concorrentes, acompanhar preços médios de importação e exportação e entender rotas logísticas.
“Um fabricante de pneus consegue saber quanto o Brasil importou, de quem, por qual preço, e qual é o market share de cada fornecedor. Isso vale ouro num setor tão volátil”, diz o CEO.
A plataforma também se integra com dados operacionais das empresas, oferecendo visibilidade logística e insights sobre estoque, cadeia de suprimentos e desempenho de embarques.
Mais recentemente, a empresa lançou produtos voltados para organização da própria operação dos clientes — o que abriu caminho para complementar o portfólio com a UXComex.
A UXComex é uma startup fundada em 2017, com sede em São Paulo.
Ela atende cerca de 300 clientes, com uma equipe de 30 pessoas, e atua como uma espécie de ERP, sistema de gestão, para agentes de carga e despachantes aduaneiros, responsáveis por registrar declarações de importação, cotações de frete e execução da logística documental.
“Eles são quase a espinha dorsal da operação. Enquanto a Logcomex atua mais com dados e inteligência, a UXComex está dentro da operação em si. São modelos complementares”, diz Helmuth.
A aquisição foi estratégica. A Logcomex não pretende integrar os sistemas num primeiro momento — cada empresa seguirá com sua marca e tecnologia separadas. Mas vai usar sua força comercial para escalar o negócio da nova adquirida.
“A ideia é usar nossa máquina de vendas e base de clientes para impulsionar a UXComex. A marca deles continua independente, mas com muito mais fôlego para crescer”, afirma.
Além da fusão, a Logcomex está acelerando sua atuação internacional.
No início de 2025, passou a operar no México, com 90 clientes ativos e um time local de sete pessoas. A meta é replicar a estratégia brasileira em outros países da América Latina.
Apesar do bom momento, o caminho à frente é turbulento.
O comércio exterior enfrenta pressões como guerra comercial, mudanças abruptas nas tarifas de importação/exportação e um dólar que desafia qualquer planejamento.
“Quanto mais caótico o mercado, mais as empresas precisam de inteligência. Nosso papel é transformar esse caos em clareza”, diz o fundador.
Segundo ele, o cenário também exige resiliência logística: fornecedores redundantes, menos dependência de rotas únicas, e uma visão mais estratégica da cadeia de suprimentos.
Com caixa robusto, crescimento constante e mercado ainda muito analógico, a Logcomex enxerga espaço para mais aquisições — embora não tenha outras negociações avançadas no momento.
“O setor ainda é muito fragmentado. Se conseguirmos provar a tese da UXComex e escalar bem no México, é natural pensar em novos movimentos”, diz.