Francisco Forbes, da Prodam: aposta em marketplace de softwares criados pela prefeitura de São Paulo (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 26 de agosto de 2025 às 12h47.
A Prodam, empresa da Prefeitura de São Paulo para desenvolvimento de tecnologia às demais secretarias e autarquias da metrópole de 12 milhões de habitantes, está passando pela fase de maior mudança em 54 anos de história.
Pela empresa passam, basicamente, todos os softwares adotados pela prefeitura na interação com o cidadão. Na conta estão sistemas como o de emissão de nota fiscal, pagamento do IPTU ou aplicativos para marcação de consultas em postos de saúde.
O gigantismo da capital paulista fez da Prodam um negócio também de cifras significativas. Em 2024, a companhia faturou 588 milhões de reais, alta de 27,5% em 12 meses e um volume recorde para a empresa fundada em 1971.Agora, a Prodam quer levar os softwares criados dentro de casa para outros municípios. A empresa está lançando a Prodam Store, um marketplace para oferecer soluções de tecnologia voltadas para a gestão pública.
A proposta é permitir que prefeituras de diversas partes do Brasil acessem as ferramentas digitais que antes estavam restritas à Prefeitura de São Paulo, como o Siga Saúde, de prontuários eletrônicos, e o Tô Legal, uma ferramenta para o dono de um pequeno negócio como um bar ou restaurantes conhecer a legislação municipal que rege sua atividade — e, se for o caso, regularizar a operação.
Como é uma empresa pública, o processo de contratação da Prodam Store tem a vantagem de passar por trâmites simplificados na comparação com o de concorrentes da iniciativa privada, diz Francisco Forbes, CEO da Prodam desde fevereiro deste ano.
A chegada de Forbes, um empreendedor serial com duas décadas de trajetória na iniciativa privada, marca um ponto de virada na história da Prodam. O que até então era uma companhia com desafios de gestão — a começar pela dificuldade de cobrança de dívidas com secretarias da própria gestão municipal paulistana — agora quer se afirmar como referência para empresas públicas de tecnologia Brasil afora.
Com uma carreira marcada pela experiência no setor privado, como empreendedor e investidor, Forbes foi convidado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) para reestruturar a Prodam, empresa pública com uma infraestrutura tecnológica até então defasada e problemas financeiros.
Formado em Arquitetura pela FAAP, Francisco Forbes iniciou sua trajetória profissional na área de comunicação e marketing. Em 2010, fundou a Forbes Comunicação, uma agência digital voltada para soluções para marcas.
Em 2012, Forbes foi um dos fundadores da Infracommerce, empresa de tecnologia pioneira em soluções logísticas para o comércio eletrônico. Após sucessivas rodadas de investimento, ele saiu do negócio em 2016, cinco anos antes de a empresa abrir capital na B3.Além da Infracommerce, Forbes também se envolveu com a Seed Digital, que criou uma plataforma de dados para o varejo. Ele esteve à frente de outras iniciativas, como a ARPAC Drones, focada no agronegócio com uso de drones, e a Greenfield Hops, uma fazenda de lúpulo em Santa Catarina.
Em 2023, ele assumiu a presidência da Whoosh Brasil, uma startup de micromobilidade que trouxe os patinetes elétricos para o Brasil. A chegada à Prodam foi para ele um desafio inédito. "A Prodam tinha caixa para apenas um mês de folha. Eu entrei e vi que a situação era grave", diz.
A empresa, que até então operava com tecnologias desatualizadas, havia passado duas décadas sem investimentos em sua infraestrutura, incluindo seu datacenter, que era responsável por sistemas críticos para a cidade de São Paulo.
Uma das primeiras ações dele foi recuperar as dívidas dos clientes com a Prodam. "Fui atrás de cobrar as dívidas ativamente. Em três meses, recuperamos 105 milhões de reais, e em seis meses chegamos a quase 200 milhões de reais", diz.
Para além de olhar para o caixa, Forbes mudou o jeito como as coisas estavam funcionando por ali. “Implementamos um modelo de demissão por performance, que nunca havia sido feito em uma estatal brasileira", diz.
Ele detalha como a avaliação anual de performance agora serve para avaliar os funcionários, e aqueles com notas abaixo de 3 (em uma escala de 5) precisam passar por um período de recuperação de 90 dias, com possibilidade de realocação ou demissão.
Forbes também enfrentou o desafio de modernizar a infraestrutura da Prodam. "Não podíamos continuar operando com sistemas que estavam lá há 20 anos. A necessidade de renovação era urgente”, diz. Como não havia previsão no orçamento municipal, ele buscou 150 milhões de reais em linhas de financiamento no governo federal para modernizar o datacenter.
Agora, feito o choque de gestão, a atenção de Forbes está no lançamento da Prodam Store. A ideia por trás da plataforma é levar as soluções de tecnologia desenvolvidas pela Prodam para outras prefeituras do Brasil, sem a necessidade de passar pelos processos licitatórios tradicionais, já que, por ser uma empresa pública, a Prodam pode vender diretamente para outras prefeituras.
Neste momento, a Prodam Store vai focar na venda de sistemas em três frentes: arrecadação de impostos, gestão de saúde e licenciamento urbano. Entre esses sistemas estão o Siga Saúde, que gerencia prontuários e medicamentos, e o Tô Legal, que facilita o processo de licenciamento de pequenos negócios."A Prodam Store é um marketplace que permite que as prefeituras de todo o Brasil adquiram as soluções que desenvolvemos para São Paulo”, diz Forbes.
"O modelo de SaaS (Software as a Service) é um caminho natural para a Prodam. Temos soluções robustas que já são usadas na cidade de São Paulo e queremos levar isso para outras prefeituras. A ideia é replicar o que já foi testado e validado aqui", explica Forbes.
No entanto, essa expansão para outros municípios traz desafios. "Sabemos que muitas prefeituras ainda não têm a infraestrutura necessária para adotar soluções mais avançadas. Nosso grande desafio será adaptar essas soluções para que possam ser utilizadas por diferentes tipos de municípios, com realidades orçamentárias e tecnológicas diversas", diz.
Além disso, a concorrência no setor GovTech é feroz, com grandes players globais com presença ativa nas compras públicas. Para Forbes, a grande vantagem competitiva da Prodam é justamente a sua capacidade de vender diretamente para as prefeituras sem passar pelo mesmo processo de licitação destinado às empresas privadas.
"Essa é uma vantagem que as empresas privadas não têm. Mas, claro, isso por si só não é suficiente. A qualidade das soluções e a forma como as entregamos também serão decisivas para o sucesso da Prodam Store", diz.
Ele também destaca o processo de digitalização e modernização das prefeituras como um desafio. "Muitas prefeituras ainda trabalham com sistemas rudimentares ou até manuais. A adaptação a soluções digitais mais complexas pode ser um processo demorado, e o custo para essas cidades é algo a ser levado em conta", diz.
Além disso, a Prodam terá que garantir que a qualidade dos seus serviços não se perca à medida que expande suas operações. "O sucesso da Prodam Store depende não só da nossa capacidade de vender, mas de garantir que as prefeituras consigam implementar e usar as nossas soluções com eficiência. Estamos dando um passo de cada vez, com muito cuidado, para que essa expansão seja bem-sucedida", diz.