Raphael Mattos: originalmente do Recife, empreendedor busca por negócios escaláveis para investir (RAFAELJONPFOTOGRAFO)
Repórter
Publicado em 28 de janeiro de 2025 às 07h00.
Última atualização em 29 de janeiro de 2025 às 11h00.
O investidor pernambucano Raphael Mattos conhece bem os altos e baixos do empreendedorismo. Após enfrentar conflitos societários, ser rejeitado no Shark Tank Brasil e transformar ideias simples em negócios milionários, ele agora usa sua experiência para apoiar outros empreendedores.
Com um fundo de R$ 3 milhões, Mattos pretende investir em 10 negócios nas áreas de alimentação e serviços. Ele vai oferecer não apenas dinheiro, mas também mentoria estratégica, conexões e visibilidade, ajudando empresas a ultrapassarem o que chama de “joelho da curva” – o momento em que o modelo de negócios está validado, mas precisa de escala.
A meta do fundo é ambiciosa: fazer com que cada empresa apoiada atinja R$ 20 milhões de faturamento em até três anos. "A escala é a chave para transformar pequenas ideias em grandes negócios", diz o empreendedor.
'Beleza digital': B4A capta R$ 15 milhões para acelerar crescimento com publicidadeRaphael começou sua jornada nos Estados Unidos, onde estudou administração com uma bolsa esportiva de vôlei em 2007. No último ano da faculdade, um professor pediu aos alunos que criassem um plano de negócios baseado em ideias inovadoras.
Inspirado pela You Break I Fix, rede americana de assistência técnica de iPhones, Raphael investiu 50 dólares em um iPhone quebrado, aprendeu a consertá-lo no YouTube e começou a atender clientes em casa.
A Apple, na época, não oferecia reparos oficiais e muitos consumidores ficavam sem opções acessíveis. Mattos logo percebeu o potencial de trazer o modelo para o Brasil, onde ainda não havia serviços especializados do tipo.
Quando ele retornou ao Brasil, em 2011, foi morar em Porto Alegre e abriu sua primeira loja. Porém, enfrentou problemas com o sócio, o que o levou a vender sua participação no negócio. "Foi uma lição importante sobre como uma sociedade mal estruturada pode prejudicar um negócio. Aprendi a importância de contratos e regras claras", diz.
Do interior de Goiás, esta gestora de FDICs apostou no agro e já movimentou R$ 700 milhõesSem a loja, mas com sangue no olho, Raphael tinha certeza que queria continuar a empreender. Depois de muita procura, decidiu apostar em uma franquia de publicidade em saquinhos de pão. No entanto, logo percebeu que a operação era uma "fraude": segundo ele, os contratos não seguiam as regras do mercado e o suporte era inexistente.
Em vez de desistir, ele decidiu criar sua própria rede e fundou a PremiaPão com o sócio, Diego Castro, em 2015. O modelo era simples e inovador: empresas locais compravam espaços publicitários nos saquinhos de pão, que eram distribuídos gratuitamente para padarias.
Portanto, há baixo custo para os anunciantes (a partir de 400 reais), mídia ecológica e segmentada, e ofertas e descontos para atrair os consumidores. "Queria oferecer suporte de altíssimo nível e democratizar o acesso ao empreendedorismo", explica. Apesar do entusiasmo, nem todos enxergaram a PremiaPão como Mattos.
Em 2017, Mattos foi com o sócio apresentar a PremiaPão no Shark Tank Brasil em busca de 1 milhão de reais por 5% da empresa. O que ele não esperava é que todos os tubarões ficariam receosos com a proposta.
Inicialmente, os sharks reconheceram o potencial do negócio, mas demonstraram insegurança ao serem apresentados a margem de lucro. O valor parecia inconsistente em comparação com o faturamento total de R$ 4,9 milhões, e os investidores questionaram a estratégia de investir em uma fábrica própria de embalagens.
Moove, fintech africana apoiada pela Uber, compra a KoviPara alguns, o foco deveria estar em expandir as microfranquias para várias cidades pequenas pelo Brasil, e não em controlar a produção diretamente de uma fábrica. Além disso, o ceticismo sobre o futuro da mídia em papel pesou contra o negócio.
Mattos e Castro, então, foram rejeitados por todos os megainvestidores. "Aquilo foi um baque. Eu acreditava demais no meu negócio e não entendia por que eles não enxergavam o mesmo potencial", relembra o pernambucano.
Hoje, a PremiaPão continua em pé e com Mattos como CEO. São 127 unidades que faturam, em média, R$ 16.000 por mês. Ao todo, a rede faturou R$ 1,9 milhões em 2024. Apesar do "não", ele saiu do programa com uma meta clara: voltar um dia ao Shark Tank, mas sentado na cadeira dos sharks.
Cinco anos após levar um "não" no Shark Tank, Raphael lançou o próprio reality show no YouTube. O pernambucano acumula cerca de 300 mil inscritos e, ao todo, 23 milhões de visualizações no canal. Os vídeos costumam ser dicas de franquias e negócios.
Mattos decidiu criar o "Negócios em Choque" em 2022. O programa coloca empreendedores em situações reais para testar seus negócios: os participantes enfrentam desafios como vender produtos na rua, criar estratégias de marketing e estruturar operações do zero.
"Quero mostrar o empreendedorismo como ele realmente é: cheio de desafios práticos e decisões difíceis", explica.
No meio disso tudo, Mattos já ajudou pequenos negócios a se transformarem em franquias de sucesso. A Docecleta, que começou com brownies vendidos em bicicletas, se expandiu para mais de 10 unidades em shoppings e quiosques.
Já a Coxinha no Pote saiu de 10 para 50 unidades ao adotar um modelo de franquia, com coxinhas frescas servidas em porções práticas.
Agora, ele pretende fazer o mesmo através do próprio fundo de investimento com as seguintes pequenas empresas: