Bruno Simantob, da Transfer English:
Repórter de Negócios
Publicado em 8 de março de 2024 às 08h30.
Você está preparado para se inscrever naquela vaga ideal, mas uma pedra aparece no meio do caminho. Ou melhor, “stands in the way”: o segundo idioma. Mais precisamente, o inglês.
Um levantamento da British Consul mostra que no Brasil, cerca de 5% da população fala inglês -- e apenas 1% é fluente no idioma, tão requisitado em vagas e em viagens mundo afora.
Há tempos, porém, escolas de idioma exploram esse mercado no país. Veja o exemplo do mercado de franquias, por exemplo: de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias de ensino de idiomas faturaram impressionantes 35 bilhões de reais no Brasil.
Nos últimos anos, edtechs e escolas online também apareceram para pegar uma fatia do mercado, principalmente para aquelas pessoas que não têm tanto tempo assim para aprender inglês.
Foi mirando nessa oportunidade, de ensinar inglês rápido e online, que a Transfer English foi criada em 2021, com um investimento de 125.000 reais.
A startup usa um método chamado de transferência linguística para ensinar o idioma. Nele, o português é todo usado como base para o aprendizado do inglês. Por exemplo, palavras semelhantes, como computer e computador são ensinadas dessa forma, para que o aluno faça conexões com a língua-mãe.
“Na Alemanha, desde a escola-base os alunos já utilizam o idioma-mãe como trampolim para poder aprender outra língua”, diz o CEO e fundador Bruno Simantob. “Aqui no Brasil, as escolas fazem o oposto, desde a primeira aula, parece que é proibido falar português. Nós desconstruimos isso e criamos a metodologia em que o português ajuda no aprendizado do inglês”.
Com essa metodologia e com as aulas online, a Transfer English faturou 35 milhões de reais em 2023, um crescimento de 25% em relação a 2022. Crescimento que deve se manter neste ano, quando a escola quer atingir os seus primeiros 100.000 alunos. Como novidade, está apostando cada vez mais em inteligência artificial.
Com formação em empreendedorismo pela Escola de Negócios de Tel Aviv, Simantob já trabalhava com algumas ed techs quando surgiu a oportunidade de atuar com idiomas.
“Eu e meus sócios sempre tivemos interesse e percebemos que era um mercado engessado”, diz. “São os mesmos players que estão no mercado há 30, 40 anos, e mesmo assim, mais de 90% da população brasileira não fala inglês”.
Na pesquisa de mercado, perceberam um movimento que ganhava força em países como Canadá, Colômbia e Alemanha: o de transferência linguística. Foi assim que desenvolveram o Transfer English, inicialmente com um investimento de 125.000 reais.
“Quando o aluno é posto em uma situação de desconforto e estresse, sendo forçado a pensar em um idioma que ele ainda não domina, é comum que ele se sinta desestimulado em função da dificuldade”, afirma. “Por outro lado, quando entendemos as diversas semelhanças estruturais das duas línguas, conseguimos utilizar o nosso repertório, já desenvolvido em português, para executar uma transferência linguística para o inglês, encurtando muito o processo de operacionalização da língua”.
Hoje, a plataforma funciona numa estrutura de streaming. Por ali, as pessoas assinam, em pacotes anuais com possibilidade de pagamento mensal, e têm direito a várias trilhas de ensino, algumas delas específicas para engajar o estudante. É possível aprender, por exemplo, com músicas ou filmes.
“A ideia é que o conteúdo seja “on demand” para que o aluno tenha a opção de diferentes trilhas de aprendizagem”, diz. “À medida que os alunos avançam, novos conteúdos são produzidos e desbloqueados”.
Para ganhar ainda mais escala, os produtos terão cada vez mais inteligência artificial. Ela está sendo usada, por exemplo, para desenvolver novos conteúdos de ensino e também para reconhecer a voz dos estudantes, ajudando-os na parte de pronúncia das palavras e frases.
Outra alternativa para ganhar escala é apostar num conceito chamado de “double learning”. Nele, a pessoa aprende inglês junto a outro assunto, por exemplo, culinária.
“Queremos trazer o inglês cada vez mais para perto das pessoas, e ultrapassar os 100.000 alunos. Quem sabe, chegar aos 120.000”.
Hoje, a Transfer English tem cerca de 70.000 estudantes.
Diversificar a metodologia é fundamental para uma startup que enfrenta um mercado tão competitivo e espraiado como o de escolas de idiomas. Nos últimos anos, ganhou força no setor, por exemplo, aplicativos como o Duolingo.
“Nós vamos além de um game de idiomas”, diz o executivo. “Somos, realmente, uma escola, com metodologia, com professores, aulas assíncronas. E nosso objetivo é que ele tenha contato com o inglês de forma perpétua”.
Para expansão, a startup já trabalha com a América Latina, aplicando a transferência linguística entre o espanhol e o inglês. “Vamos focar na dor do latino também que não fala inglês”.
Para se estruturar ainda mais, a empresa também está abrindo um escritório físico, o primeiro do negócio, em São Paulo.