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Ele contraiu uma dívida de R$ 2 milhões para abrir o negócio. Agora, aos 38, fatura R$ 78 milhões

Aos 38 anos, Sthefano criou um negócio bilionário oferecendo o que falta à maioria dos processos no Brasil: provas

Sthefano Cruvinel, da EvidJuri: “Todo mundo me chamou de maluco. Eu abri mão de uma carreira estável, botei todo o dinheiro que tinha no negócio e ainda me endividei. Fiquei cinco anos no prejuízo. Mas eu sabia que existia uma dor que ninguém estava resolvendo” (Sthefano Cruvinel /Divulgação)

Sthefano Cruvinel, da EvidJuri: “Todo mundo me chamou de maluco. Eu abri mão de uma carreira estável, botei todo o dinheiro que tinha no negócio e ainda me endividei. Fiquei cinco anos no prejuízo. Mas eu sabia que existia uma dor que ninguém estava resolvendo” (Sthefano Cruvinel /Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 25 de abril de 2025 às 12h14.

Última atualização em 25 de abril de 2025 às 15h30.

Em 2020, Sthefano Cruvinel tomou uma decisão arriscada: contraiu uma dívida de 2 milhões de reais para fundar uma empresa que ninguém sabia exatamente do que se tratava.

Sem registro na OAB ou título de perito judicial, ele queria criar um novo tipo de serviço no Brasil — um escritório que não fosse de advocacia, mas que ajudasse empresas a vencer disputas milionárias na Justiça com base em auditorias, provas técnicas e análise estratégica dos processos.

“Todo mundo me chamou de maluco. Eu abri mão de uma carreira estável, botei todo o dinheiro que tinha no negócio e ainda me endividei. Fiquei cinco anos no prejuízo. Mas eu sabia que existia uma dor que ninguém estava resolvendo”, diz.

O tempo mostrou que ele estava certo. A EvidJuri, empresa fundada com esse dinheiro emprestado, faturou 78 milhões de reais em 2024, audita processos que somam mais de 1,5 bilhão de reais em valor de causa e atingiu um valuation superior a 800 milhões de reais.

Hoje, é referência em um segmento que ainda engatinha no Brasil: a inteligência probatória — ou, em linguagem simples, o uso de provas técnicas robustas para mudar o rumo de uma disputa judicial.

O que a EvidJuri faz

Imagine que sua empresa compra um sistema de 100.000 reais prometido para reduzir custos com funcionários. O software não funciona, os prejuízos se acumulam e, anos depois, você decide entrar na Justiça.

Na maioria dos casos, o processo começa com um advogado redigindo uma petição longa, cheia de argumentos jurídicos. Mas sem provas concretas, a ação vira um tiro no escuro — e o cliente pode acabar saindo da Justiça devendo mais do que quando entrou.

É justamente aí que entra a EvidJuri.

A empresa trabalha como um cérebro técnico nos bastidores de grandes disputas judiciais. Ela analisa contratos, documentos, sistemas, movimentações financeiras e extrai dali as provas que podem virar a chave de um processo.

“É como se o cliente tivesse uma caixa de peças soltas e nós ajudássemos a montar o quebra-cabeça da verdade”, diz Sthefano.

O método se baseia em um conceito conhecido no mercado jurídico americano: a cultura da prova. Lá, ninguém entra com um processo sem antes reunir evidências robustas — e é isso que a EvidJuri tenta importar para o Brasil.

“Aqui, o normal é entrar com a ação e só depois correr atrás de laudo, perícia, prova. Quando se faz isso ao contrário, a chance de perder é altíssima.”

Qual é a história de Sthefano

A trajetória de Sthefano é tudo menos convencional.

Natural de Sacramento, interior de Minas, ele começou a trabalhar aos 13 anos vendendo kits de revistas da Editora Abril. Tinha 250 clientes e tirava o equivalente, hoje, a R$ 50 mil por mês. Aos 15, comprou o primeiro carro. Aos 18, escrevia colunas sobre economia e direito em um jornal local. “Eu era o estranho da cidade. Sempre achei que dava para fazer diferente.”

Ele se formou em Direito, mas nunca se registrou na OAB. Também nunca atuou como perito judicial nomeado por um juiz. O que fez, em vez disso, foi criar algo novo.

“Nunca quis concorrer com advogado. Quis colaborar. Meu foco sempre foi a prova — e não a argumentação jurídica.”

Antes da EvidJuri, Sthefano fez carreira no setor de tecnologia. Passou por empresas como TOTVS, SAP e Microsoft. Lá, ficou incomodado com a forma como sistemas eram vendidos sem garantia de resultado.

“Muitas dessas big techs só queriam bater meta. Vendiam o que sabiam que não funcionava. Eu me senti cúmplice disso — e decidi sair.”

Com uma equipe formada por especialistas contratados por projeto, muitos deles com pós-doutorado, a EvidJuri atua principalmente em disputas contra grandes empresas — especialmente do setor de tecnologia. A empresa já auditou mais de 30 mil processos, tem 600 clientes na fila de espera e atende hoje cerca de 120 por ano.

Qual é o tamanho do mercado

No Brasil, existem hoje mais de 130 milhões de processos em andamento. Segundo Sthefano, cerca de 40% deles envolvem algum tipo de discussão técnica — seja sobre software, finanças, contratos, entregas.

“Só que a maioria entra com a ação sem saber se tem razão. E o advogado, às vezes, também não sabe.”

A EvidJuri atua de forma proativa: ela escolhe os casos que quer assumir e, antes de aceitar, faz uma análise técnica da situação.

“Não é o cliente que escolhe a gente. A gente escolhe o cliente. Precisamos saber se o caso tem fundamento técnico, senão não adianta seguir”, afirma.

O modelo de remuneração também é diferente. Em alguns casos, a empresa cobra por hora — valores que podem passar de R$ 1.500. Em outros, trabalha com modelo de êxito, ficando com uma porcentagem da indenização recebida.

Depois de cinco anos operando no vermelho, a EvidJuri virou o jogo. Agora, o desafio é crescer — sem perder o nível de excelência. Para 2025, a meta é quintuplicar o número de atendimentos: passar de 120 para 600 clientes por ano. Para isso, Sthefano está investindo em robotização de processos, contratando inteligência artificial e até estudando captar recursos com investidores por meio da cessão de créditos judiciais.

Ele também estuda vender uma fatia minoritária da operação.

“Hoje sou sócio único. Mas, para escalar, talvez faça sentido trazer capital novo. Só com os créditos que temos a receber, já temos mais de R$ 1 bilhão em ativos”, diz.

Um propósito que veio da infância

Mais do que um negócio, a EvidJuri é, para Sthefano, uma missão pessoal. O avô dele, um dos maiores produtores de café do Triângulo Mineiro, perdeu tudo depois de ser enganado por maus investimentos.

“Isso me marcou muito. Cresci com essa sensação de injustiça. E hoje, cada vez que a gente ajuda uma empresa pequena a vencer um gigante, eu sinto que estou devolvendo algo para a minha história.”

Aos 38 anos, com o negócio consolidado, ele ainda trabalha até 16 horas por dia. E diz que não pretende parar tão cedo.

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