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Ele construiu um negócio milionário com o cacau e o guaraná da Amazônia

Italiano Luca D'Ambros é o fundador da Guaraná de Maués. Há 20 anos ele transforma matérias-primas em produtos vendidos no Brasil inteiro

Luca D'Ambros, da Guaraná de Maués: conhecimento europeu com tecnologia digital e valorização da floresta (Divulgação/Divulgação)

Luca D'Ambros, da Guaraná de Maués: conhecimento europeu com tecnologia digital e valorização da floresta (Divulgação/Divulgação)

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Publicado em 5 de novembro de 2025 às 06h01.

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Na cidade de Maués, no Amazonas, a 20 horas de barco da capital Manaus e conhecida como a “terra do guaraná”, um empreendedor europeu decidiu transformar ativos naturais da floresta em negócio escalável.

Com produção de guaraná, cacau, cumaru e tucumã, ele quer mostrar que é possível empreender sem desmatar.

Natural de Cernusco sul Naviglio, a 10 quilômetros de Milão, Luca D’Ambros chegou ao Brasil há mais de 20 anos, movido pela curiosidade sobre a Amazônia.

Em Maués, onde vive até hoje, viu a oportunidade de criar um negócio com base em recursos florestais e valorização do produtor local.

Foi assim que nasceu a Guaraná de Maués, indústria que fatura com a produção e venda de ingredientes amazônicos de alto valor agregado.

A empresa fechou 2024 com R$ 1,8 milhão em receita e prevê ultrapassar os R$ 2 milhões até dezembro deste ano.

A projeção vem da diversificação de portfólio, que hoje inclui derivados de guaraná, chocolates com ingredientes da floresta e uma nova linha funcional inspirada no Encontro das Águas.

“Uno o conhecimento europeu com tecnologia digital e a valorização da floresta em um único ecossistema produtivo”, afirma Luca.

Para 2026, o plano é escalar a marca Toiro, linha de chocolates artesanais que mistura ingredientes nativos como guaraná, castanha, cacau e cumaru.

O foco é consolidar o modelo de negócios que reinveste na floresta e amplia a rede de fornecedores da região.

A história por trás da Guaraná de Maués

O primeiro produto foi o guaraná orgânico em grão, vendido para a indústria de extratos. Mas os preços baixos e o desperdício de valor levaram Luca a mudar de estratégia.

Em 2017, lançou sua própria operação digital para vender o produto já moído em pó.

A iniciativa foi pioneira na região. Ele criou um e-commerce próprio, estruturou uma base logística em São Paulo e passou a atender consumidores em todo o Brasil com menor custo e tempo de entrega.

Em 2018, se tornou o primeiro produtor da Amazônia a certificar guaraná em pó orgânico. Dois anos depois, incorporou o selo de Indicação Geográfica do Guaraná de Maués, reconhecido pelo INPI.

Hoje, a empresa movimenta cerca de 30 toneladas de guaraná orgânico com origem certificada, em parceria com cooperativas e produtores individuais da região.

A virada com o chocolate amazônico

Durante viagens às comunidades ribeirinhas, o empreendedor identificou outra matéria-prima desprezada: o cacau selvagem.

Aprendeu a extrair manteiga, pó e fabricar chocolate com técnicas autodidatas, usando vídeos e pesquisas. Assim nasceu a Toiro, marca de chocolates funcionais com identidade amazônica.

Uma barra de 25 gramas equivale a 2 gramas de guaraná em pó, considerada a dose diária recomendada.

Os produtos combinam sabor e funcionalidade com subprodutos como torta desengordurada de castanha, usada na formulação de chocolates sem lactose e farinhas proteicas.

O lançamento mais recente é um chocolate de duas cores, inspirado no Encontro das Águas, símbolo de Manaus. O produto será apresentado oficialmente no aniversário da cidade, em 24 de outubro.

Crescer sem sair da floresta

O crescimento ainda depende de acesso a capital e escala produtiva. No segundo semestre deste ano, Luca obteve um crédito orientado de R$ 90 mil do Fundo de Impacto Estímulo, voltado a pequenos negócios com foco socioambiental.

O valor garantiu a compra da nova safra de guaraná, insumos e embalagens para os novos produtos.

Apesar da experiência internacional, o empreendedor enfrenta o desafio estrutural de quem atua na Amazônia: custos logísticos altos, escassez de mão de obra especializada e dificuldade de acesso a capital de giro.

Mesmo com esses obstáculos, ele aposta no modelo descentralizado, que conecta floresta, comunidade e tecnologia para gerar valor.

A meta é ampliar a produção e ganhar musculatura com novos canais de venda e distribuição nacional.

A empresa também quer desenvolver novos produtos com cumaru, conhecido como “baunilha amazônica”, e óleo de tucumã, aproveitado na formulação de chocolates.

Com um portfólio funcional e 100% rastreável, Luca acredita que o diferencial está em unir inovação com impacto real.

“Quanto mais ingredientes da floresta a gente aproveita, mais renda a gente gera e mais árvores ficam de pé”, diz.

Este conteúdo foi produzido pelo Fundo de Impacto Estímulo - que apoia pequenos empreendedores brasileiros com crédito facilitado, capacitação e conexões - em parceria com a EXAME. Para saber mais sobre o Estímulo visite o site do projeto. Leia aqui todas as reportagens já publicadas.

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