Carlos Jr, da Frango no Pote: “Ainda temos muito chão pela frente. Mas com a cabeça que temos hoje, estamos muito à frente do que esses grandes players eram quando tinham nosso tamanho” (FNP/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 2 de maio de 2025 às 11h42.
Queridinho do fast-food norte-americano, o frango frito começou a conquistar espaço nas mesas brasileiras com força só nos últimos anos. Mas a adaptação do prato ao gosto local – com menos gordura, mais crocância e tempero carregado no alho e na cebola – ainda é um desafio para gigantes globais como o KFC, principal do setor.
Quem está conseguindo vencer essa barreira é uma rede que nasceu numa churrasqueira improvisada, no quintal de um condomínio em Brasília.
Estamos falando do Frango no Pote – ou FNP, como passou a ser chamada após rebranding recente. A marca já tem 100 unidades em operação, em 17 estados, e fechou 2024 com faturamento de 115 milhões de reais.
A previsão para 2025 é chegar a 196 milhões de reais, consolidando a expansão no Centro-Oeste, onde a rede quer abrir mais 30 lojas e inaugurar seu primeiro drive-thru.
Parte dessa expansão vem de uma nova estratégia de crescimento apostando em formatos mais enxutos, padronização operacional e um cardápio mais simples, focado em tirar máximo resultado da operação de delivery – seu maior trunfo desde a pandemia.
“Foi nesse momento que eu assumi como CEO e decidi voltar dos Estados Unidos para fazer o negócio crescer de verdade”, afirma Carlos Jr, filho do fundador da rede e hoje à frente da operação.
No comando desde 2019, Carlos lidera uma guinada estratégica que mira o interior do país, onde redes como KFC e Popeyes têm pouca penetração. “Eles têm dificuldade de tropicalizar o cardápio e alcançar o interior. O Brasil não é só São Paulo e Rio. Tem muito mercado mal atendido”, diz.
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A ideia do Frango no Pote nasceu em 2011, depois de uma viagem da família aos Estados Unidos. Ao provar o frango frito, Carlão, então pedagogo e diretor de escola, teve um estalo: “não tinha nada parecido em Brasília”.
Com 5.000 reais, ele comprou duas fritadeiras, um freezer e começou a operar de casa. Usava baldes de paçoca com adesivo de galinha como embalagem e fazia a divulgação no Orkut. Nos primeiros meses, o negócio passou a render 20.000 reais, mas o entra e sai de motoboys acabou chamando atenção no condomínio onde moravam, em Arniqueiras.
“Investimos 90.000 reais para abrir a primeira loja de verdade, com delivery e salão, em frente ao condomínio. E o faturamento já foi de 90.000 reais no primeiro mês”, diz Carlos Jr.
Na época, Carlos ainda estava na escola, onde já vendia cookies com um esquema de metas e comissões. Aos 17 anos, entrou na faculdade de gastronomia e começou a trabalhar no Frango no Pote como caixa e despachador de pedidos. Mas logo viu que o negócio precisava de mais estrutura. “Cada loja era de um jeito. Não tinha padrão nenhum.”
Com isso, passou a criar as fichas técnicas, padronizar processos e redesenhar o setor de operações. Em 2018, já com 16 lojas abertas, Carlos decidiu ir para os Estados Unidos tentar a vida como chef. Trabalhou como jardineiro, motorista de Uber, cozinheiro – até que recebeu uma ligação do pai: os sócios estavam saindo e o negócio corria risco.
Voltou para o Brasil e, com os aprendizados de fora, reformulou toda a operação de delivery.
Em 2019, o faturamento com pedidos online cresceu 93%. “Meu pai viu que eu tinha cabeça pra isso e me colocou como CEO.”
Com a chegada da pandemia em 2020, o foco total foi no delivery. A marca apostou em manter as lojas abertas e acelerar a expansão. A decisão foi arriscada, mas deu certo: a rede saltou de 20 para 60 unidades em apenas um ano. “A gente redesenhou o processo de expansão, criou um discurso comercial forte e convenceu investidores de que o modelo era perene mesmo na crise.”
Diferente de redes que apostam em dark kitchens, a FNP manteve operação própria, com forte presença em regiões onde os concorrentes internacionais não chegam. “Não acreditamos em dark kitchen como estratégia de marca. No app, ganha quem tem o menor preço. A gente quer fidelizar o cliente.”
Em 2025, o foco é o Centro-Oeste. A empresa quer abrir 30 novas lojas na região e implantar seu primeiro drive-thru. O raio de expansão é de 700 quilômetros a partir de Brasília. “Já mapeamos mais de 1.100 cidades com potencial. Vamos mirar em cidades com no mínimo 80 mil habitantes”, afirma Carlos.
O cardápio foi enxugado para aumentar eficiência. Hoje, o frango segue uma marinada de 24 horas, com base no tempero brasileiro. “O brasileiro não gosta de frango oleoso e não quer melar a mão. Fizemos um frango sequinho, crocante, que viaja bem no delivery.”
A mudança de nome para FNP também foi pensada para abrir caminho para outras marcas do grupo, como hamburguerias e sobremesas.
A carne de frango já ultrapassou a bovina no consumo dos brasileiros. Em 2024, a produção nacional chegou a 15 milhões de toneladas, com consumo per capita de 45,6 kg – e deve subir para 46,6 kg em 2025.
O setor de frango frito no fast-food tem previsão de crescer 72% até 2027. Mesmo assim, representa apenas 1% do mercado nacional, contra 11% nos EUA. Ou seja, há muito espaço para crescer.
Mas o caminho não é simples.
“A gente vive num país onde cada dia aparece uma novidade: inflação, regulamentação, crise. Tem que estar sempre ajustando processo. E somos uma marca jovem, temos só 13 anos”, afirma Carlos.
Mesmo assim, ele acredita que a FNP está no rumo certo: “Ainda temos muito chão pela frente. Mas com a cabeça que temos hoje, estamos muito à frente do que esses grandes players eram quando tinham nosso tamanho”.