Jaana Goeggel e Erica Fridman, da Sororitê: cheques de R$ 500 mil para empresas fundadas por mulheres (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 30 de abril de 2025 às 10h20.
Última atualização em 30 de abril de 2025 às 13h28.
Startups lideradas por mulheres têm se mostrado mais lucrativas e resilientes, com estudos apontando que equipes fundadoras diversas geram retornos superiores e maior inovação. No entanto, a desigualdade de gênero ainda persiste no acesso a capital, o que limita o crescimento desse potencial.
No Web Summit Rio de Janeiro, em 2025, as sócias fundadoras da Sororitê Ventures, Erica Fridman e Jaana Goeggel, compartilharam suas visões sobre como o investimento em startups fundadas por mulheres não só fortalece o ecossistema empreendedor, mas também representa uma oportunidade estratégica e rentável para o mercado.
Em 2024, o fundo Sororitê Fund 1 foi lançado com um objetivo claro: investir em startups em estágio inicial fundadas por mulheres. O foco é oferecer cheques de R$ 500 mil para empresas de setores como fintechs, healthtechs, agritechs e retailtechs. A meta do fundo é captar R$ 25 milhões.“O nosso foco é em inovação e no potencial que as mulheres têm de gerar negócios disruptivos. Queremos que essas fundadoras recebam o apoio e o capital necessários para alcançar seu potencial", explica Erica Fridman, cofundadora da Sororitê.
O fundo é um reflexo de uma jornada que começou há alguns anos, quando as fundadoras do Sororitê perceberam que as mulheres eram sub-representadas tanto como investidoras quanto como fundadoras de startups.
Dados de 2020 indicavam que somente 3% dos fundos de VC tinham equipes fundadoras compostas apenas por mulheres. Enquanto isso, startups compostas exclusivamente por times femininos receberam apenas 0,04% do capital aportado durante o período.
“Quando olhamos para o mercado, vemos que o problema não é a falta de mulheres empreendedoras, mas a falta de recursos que chegam até elas. O que nos motivou a criar o Sororitê foi justamente essa barreira invisível para o financiamento de startups fundadas por mulheres”, comenta Jaana Goeggel, também cofundadora do fundo.
A Sororitê Ventures não é apenas um fundo de investimento, mas uma rede. Inicialmente criada como a Sororitê Angel Network, o projeto envolvia um grupo de mulheres investidoras anjo, com o propósito de fomentar a participação feminina no ecossistema de capital de risco.
Ao longo do tempo, a rede se expandiu e amadureceu, o que levou à criação do fundo, que agora conta com um capital inicial de R$ 25 milhões, com a ambição de realizar investimentos em cerca de 22 startups nos próximos cinco anos.“A ideia de ter mulheres investindo em mulheres é uma mudança de mindset no ecossistema. Queremos transformar esse mercado e mostrar que, quando investimos em diversidade, o retorno é maior", afirma Erica. Para Jaana, o impacto dessa mudança é claro. “Investir em mulheres é também investir no futuro, porque a diversidade traz resultados mais sustentáveis e inovadores."
O Sororitê entende que o apoio à diversidade não é apenas uma questão de números. A proposta do fundo é estruturar uma rede que vá além do simples investimento.
A Sororitê organiza almoços mensais em São Paulo, onde investidoras e fundadoras podem interagir de maneira mais próxima e dinâmica. “A ideia é criar um espaço onde a mulher se sinta confortável para pedir e oferecer favores, trocando experiências e fortalecendo o networking”, afirma Erica.
Esses encontros, junto com eventos como o "Show Her the Money", que reúne discussões sobre o papel das mulheres no venture capital, são importantes para criar uma rede de apoio sólida, não apenas entre investidoras, mas também envolvendo advogadas, contadoras e outras profissionais que fazem parte do ecossistema.
“Temos que criar espaços onde as mulheres não só se sintam acolhidas, mas também empoderadas para fazer as conexões certas. Quando você coloca as mulheres no centro da conversa, os resultados aparecem”, diz Jaana.
A fundadora destaca que, muitas vezes, as mulheres não se sentem preparadas para participar do processo de networking de maneira assertiva, uma situação que é exacerbada pela falta de visibilidade das mulheres no topo de estruturas corporativas ou de fundos de investimento.
Por isso, a Sororitê se propõe a oferecer a infraestrutura necessária para que essas mulheres possam não só investir, mas também se inserir de forma mais ativa e estratégica no ecossistema de startups.
A evolução do Sororitê Angel Network para o Sororitê Ventures reflete uma mudança importante na forma como o fundo vê o mercado de venture capital no Brasil. "Queremos que o Sororitê seja visto como uma casa de investimentos que coloca o capital em empresas de alto impacto, lideradas por mulheres, sem abrir mão da rentabilidade", diz Jaana.
O objetivo do fundo é atingir uma rentabilidade de 3 vezes o capital investido ao longo de 10 anos, com foco em startups no estágio inicial.
Em sua primeira rodada de investimentos, o fundo já aportou R$ 500 mil em startups como a Quill, uma empresa que utiliza inteligência artificial para automatizar transações imobiliárias. Além disso, o Sororitê mantém 30% do capital do fundo reservado para follow-on, permitindo novos investimentos nas startups que se destacarem no portfólio.“Acreditamos que a verdadeira inovação vem da diversidade. Quando você investe em fundadoras que estão mudando a dinâmica do mercado, você está investindo em algo muito maior”, afirma Erica.
Para Jaana, a combinação de um mercado crescente e as mulheres liderando essa transformação é a chave para o sucesso. “Nosso foco é em construir soluções para os grandes problemas da sociedade e, ao mesmo tempo, ajudar essas empreendedoras a crescerem de maneira sustentável”, diz ela.
No Web Summit 2025, realizado nesta semana no Rio de Janeiro, Erica e Jaana compartilharam suas perspectivas sobre como a diversidade de gênero no ecossistema de startups pode ser uma alavanca para o crescimento econômico.
O evento, que reuniu algumas das maiores mentes de tecnologia e inovação do mundo, foi o palco perfeito para destacar a importância de fundos como o Sororitê Ventures, que, segundo as fundadoras, não só preenche uma lacuna de gênero, mas também ajuda a impulsionar setores cruciais da economia, como fintechs e healthtechs.
"É importante não só falar sobre o que está sendo feito, mas também mostrar os resultados. As mulheres fundadoras têm se mostrado resilientes, inovadoras e com um alto potencial de crescimento", conclui Erica.
A Sororitê segue crescendo com o objetivo de estabelecer seu modelo de negócios como um ponto de referência na indústria de venture capital.
A iniciativa, que começou com uma ideia simples de alavancar o potencial de empresas lideradas por mulheres, agora caminha para se consolidar como um hub de inovação, conectando mulheres fundadoras e investidoras, e provando que, com os incentivos certos, as mulheres podem ser líderes transformadoras no ecossistema de startups.