Maíra Scheid, da Sheid Clínica Veterinária: "Vinculei meu sobrenome ao negócio justamente para criar identificação: eu era desconhecida por muitos, mas a minha família era conhecida na cidade. Em lugares pequenos, isso faz diferença" (Divulgação/Divulgação)
Estímulo
Publicado em 22 de agosto de 2025 às 17h26.
No ano de 2017, a empreendedora Maíra Scheid tomou uma decisão que parecia contraditória: deixar uma carreira recém-iniciada na região metropolitana para abrir uma clínica veterinária em sua cidade natal, Cerro Largo, no interior do Rio Grande do Sul — um município com pouco mais de 14 mil habitantes e nenhum serviço de saúde animal especializado.
“Voltar para minha cidade natal nunca esteve nos meus planos. Eu cresci ouvindo que, para ser alguém na vida, era preciso estudar e trabalhar nos grandes centros urbanos”, lembra.
Após especialização em cirurgia veterinária e uma experiência frustrante no mercado de trabalho, Maíra deu um Google com a pergunta: “Como abrir uma clínica veterinária?” E assim nasceu um negócio promissor.
Na época, não havia serviços veterinários com estrutura mínima em Cerro Largo. Os atendimentos mais complexos exigiam deslocamentos de até 70 km. O cenário, desafiador para quem buscava atendimento, era ao mesmo tempo uma janela de oportunidade. “Foi um projeto ambicioso, principalmente para quem não tinha ‘um real’ no bolso. Houve críticas, incentivos, dúvidas... Mas eu faria tudo de novo, exatamente igual”, afirma.
Nos primeiros meses da Sheid Clínica Veterinária, o maior obstáculo não foi financeiro, mas a confiança da comunidade. “Era um serviço novo, que poucos conheciam. Conquistar os clientes, um a um, foi essencial. Vinculei meu sobrenome ao negócio justamente para criar identificação: eu era desconhecida por muitos, mas a minha família era conhecida na cidade. Em lugares pequenos, isso faz diferença”, relembra a empresária.
Com o aumento da demanda, a estrutura original do negócio se tornou insuficiente. Entre o sexto e o sétimo ano de atuação, veio uma expansão ousada: investimento seis vezes maior que o inicial, com aquisição de novos equipamentos e ampliação da equipe. “Chegamos à nossa capacidade máxima. Sem expandir, não conseguiríamos crescer mais”, ressalta Sheid.
Entre as aquisições que marcaram a nova fase da clínica está o aparelho de raio-x digital. “Era um sonho antigo, que parecia impossível. Antes, o serviço era terceirizado, e a logística dificultava muito. Hoje conseguimos realizar o exame na hora, o que melhora o diagnóstico e o tratamento dos animais”, pontua.
Mas a profissionalização do negócio não veio só da parte técnica. A adoção de um sistema de gestão (GestãoPet) foi outro divisor de águas. “A informatização ajudou a entender melhor os nossos números, precificar com exatidão e analisar o desempenho dos setores. Boa gestão é o que sustenta o crescimento.”
A estruturação também passou por momentos de aperto, mas para viabilizar a expansão, foi necessário recorrer a empréstimos — um processo que, segundo Maíra, exigiu coragem e controle. “Nunca tive medo de não dar conta. Com uma base de clientes fidelizada e fluxo constante de novos atendimentos, bastava seguir trabalhando com consistência.”
Nesse processo, contar com Fundo de Impacto Estímulo, que apoia o micro e pequeno empreendedor brasileiro foi fundamental. “Isso foi peça-chave para viabilizar o financiamento da expansão do negócio, pois os grandes bancos recusavam liberar recursos para quem não tinha renda ou capital próprio. Foi o respiro que precisávamos para nos reorganizar”, conta Maíra.
A Sheid veterinária também se diferencia pelo seu impacto social. A clínica mantém parcerias com ONGs locais e presta atendimento com preços acessíveis a animais de rua e famílias em situação de vulnerabilidade. “Desde que fiz voluntariado na ONG Viva Bicho, em Balneário Camboriú, antes mesmo de ser veterinária, entendi que esse seria o meu papel”, ressalta.Além disso, a clínica participa de licitações para castrações voluntárias promovidas pela prefeitura — uma política de saúde pública e controle populacional que beneficia diretamente a comunidade. “Sou defensora de que os municípios valorizem os prestadores locais. É uma forma de levar um serviço de qualidade para quem mais precisa”, completa a veterinária.
Com as contas equilibradas e a estrutura consolidada, o foco agora é outro: gestão de pessoas. “A prioridade nos próximos dois anos é consolidar a equipe. Hoje, há uma limitação técnica na formação dos profissionais. Então precisamos investir no time, treiná-los e garantir que os valores da empresa sejam mantidos.”
Para quem pensa em empreender fora dos grandes centros, o recado de Maíra é claro: “Arrisquem com responsabilidade e nunca abram mão da qualidade. Nos grandes centros, o mercado está saturado. Aqui, conseguimos nos destacar por competência, e não apenas por preço. E isso faz toda a diferença”, finaliza a empresária.
Este conteúdo foi produzido pelo Fundo de Impacto Estímulo - que apoia pequenos empreendedores brasileiros com crédito facilitado, capacitação e conexões - em parceria com a EXAME. Para saber mais sobre o Estímulo visite estimulo2020.org. Para ler todas reportagens anteriores publicadas clique aqui.