Dani Fernandes, fundadora da Dani Fernandes Aromas: “Construí a marca e a indústria ao mesmo tempo. Sempre quis ter domínio do processo de ponta a ponta. Isso garante agilidade, capacidade de inovação e controle de qualidade”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 7 de maio de 2025 às 14h00.
Última atualização em 7 de maio de 2025 às 19h35.
A jornada no empreendedorismo da farmacêutica Dani Fernandes, de Catanduva, interior de São Paulo, começou de forma despretensiosa: com a criação de uma lembrancinha para o aniversário do sobrinho, um home spray com o tema fantasia.
Depois de algumas especializações, incluindo um mestrado em Cosméticos, chegou a atuar em farmácia de manipulação. Durante esse período, ao pesquisar mais a fundo o mercado, identificou uma lacuna: em 2013, poucas companhias nacionais produziam itens de perfumaria para casa com qualidade e apelo estético. O que começou como um experimento e um gesto de carinho despertou o interesse de familiares, amigos e lojistas.
“Iniciei na loja de decoração de uma amiga e, em seguida, comecei a mostrar os produtos de loja em loja, realizando todo o processo: da produção e apresentação à entrega”.
Hoje, Dani comanda uma marca que leva seu nome, com mais de 350 itens no portfólio — de difusores a body splashes —, presença em 3.600 pontos de venda no Brasil e quatro lojas físicas em shoppings de São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Uberlândia.
A empresa também se destaca pelas collabs. A primeira, com o Big Brother Brasil, deu visibilidade nacional. Depois vieram parcerias com o MasterChef — com sabonetes voltados à cozinha — e com a National Gallery, que inspirou uma coleção baseada em obras de Monet, Van Gogh e outros mestres da arte.
A novidade do mês é o lançamento de uma nova collab com a marca Cimples, da atriz Carolina Ferraz. A linha de aromas para casa, que foi desenvolvida por Carolina, sua filha Valentina, e Dani Fernandes, chega ao mercado em maio, Mês das Mães.
Em 2024, a empresa faturou R$ 40 milhões. Para este ano, a expectativa é ultrapassar os R$ 50 milhões. Os planos incluem a construção de um novo polo industrial em Itajobi (SP), com mais de 4 mil m², o lançamento de 30 produtos, e uma nova loja no Complexo Cidade Matarazzo, em São Paulo, prevista para julho.
O encanto de Dani por fragrâncias vem da infância, quando observava a avó revender cosméticos. A inspiração veio da família: o pai engenheiro e empreendedor, a mãe com veia artística.
Ao contrário da maioria das marcas, que inicia com produção terceirizada, Dani estruturou desde o começo uma fábrica própria em um barracão alugado. O processo envolveu obtenção de licenças da Anvisa, montagem de equipe e adequações sanitárias.
“Construí a marca e a indústria ao mesmo tempo. Sempre quis ter domínio do processo de ponta a ponta. Isso garante agilidade, capacidade de inovação e controle de qualidade”, afirma.
Sem cursos formais de gestão, buscou capacitações no Sebrae e contou com apoio do pai na fase inicial. “Aprendi na dor de cada processo”, resume.
A estratégia consolidou a marca no mercado B2B, especialmente nos segmentos de cama, mesa, banho e decoração. Participar de feiras especializadas também foi decisivo: começou com um estande de 12 m² e hoje ocupa até 120 m².
A pandemia foi um ponto de virada. Embora tenha nascido no atacado, a marca intensificou a atuação no varejo. “As pessoas passaram a valorizar mais o lar, o conforto, o acolhimento. E o aroma tem tudo a ver com isso”, diz Dani.
A empresa criou um e-commerce e inaugurou lojas físicas. Para acompanhar a demanda crescente, investiu R$ 7 milhões no novo polo industrial, que prioriza sustentabilidade e eficiência: haverá reaproveitamento de água, iluminação natural, bicicletário e produção verticalizada.
“O maior obstáculo hoje é fazer a indústria acompanhar a demanda. Crescemos rápido e precisamos ter capacidade produtiva para não comprometer prazos nem qualidade.”
Com mais de 100 colaboradores, Dani destaca a cultura da equipe como diferencial. Sua irmã atua como diretora e todos são incentivados a participar do desenvolvimento de produtos. “A inovação aqui não é só técnica, é cultural”, afirma.
Mãe de quatro filhos — um deles especial —, Dani precisou criar uma rede de apoio para equilibrar a maternidade com a liderança. “No começo, virava noites trabalhando. Depois, tudo mudou. Precisei reorganizar prioridades e entender o tempo de cada frente.”
Hoje, ela se divide entre os papéis de CEO, diretora criativa e mãe. “Em alguns dias, sou a melhor mãe do mundo. Em outros, a melhor empresária. E tudo bem.”
Apesar dos desafios, nunca pensou em desistir. “Quando amamos o que fazemos, tudo flui melhor. E o meu trabalho é encantador: desenvolvo produtos que despertam memórias, aconchego e bem-estar.”
Para outras mulheres que querem empreender, o conselho é direto: “Não espere o momento perfeito. Esse ideal de perfeição das redes sociais é destrutivo. A vida não é linear. O essencial é dar o primeiro passo e nunca se subestimar.”