Nilma Marinanto, proprietária da Refribus e Soar Autopeças: “Eu superei um câncer e renasci dentro do empreendedorismo. Há dias difíceis, mas é possível avançar com coragem e escutando nossa intuição”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 16h53.
A maranhense Nilma Marinanto deu os primeiros passos no empreendedorismo em 2002, aos 29 anos, movida pela urgência e pela vontade de ter uma vida melhor. Ela e o marido, Francisco de Assis, foram demitidos na mesma época e viram no desemprego uma oportunidade de construir um novo caminho. Com R$ 15 mil, valor das rescisões, abriram a Refribus, que atua com manutenção de carros, caminhões e máquinas. Nascia ali, mesmo sem saberem, o primeiro passo do que viria a se tornar o F de Assis Marinanto, cujo faturamento gira em torno de R$ 4 milhões ao ano.
Com sede em São Luís (MA), o grupo atua no mercado automotivo e reúne as empresas Soar Autopeças e Distribuidora, a própria Refribus e a marca de produtos RS Autoparts. Chegar ao patamar atual, no entanto, não foi simples e exigiu preparo. O ponto de inflexão veio quando a empreendedora entendeu a importância da capacitação e de contar com uma rede de apoio.
“Na abertura do primeiro negócio, não tinha noção do que era ser empresária. Fiz tudo na cara e na coragem”, conta. O medo e a insegurança quase a fizeram desistir, especialmente após experiências anteriores que não deram certo. Tudo começou a mudar quando buscou o suporte do Sebrae. Ela passou a fazer cursos, incluindo o Empretec e capacitações nas áreas de fluxo de caixa e gestão. “Não tem como crescer sem processos bem organizados e planejados”, afirma. Foi assim, aliando conhecimento técnico à experiência prática, que ganhou confiança para impulsionar o crescimento da companhia.
Depois de 10 anos de atuação da Refribus e com mais bagagem profissional, o casal identificou uma nova oportunidade: abrir uma distribuidora de peças, considerando a alta a demanda por materiais como compressores e eletroventiladores era grande. Diante disso, Nilma realizou o programa Conexões para a Inovação, uma parceria entre o Sebrae e a Petrobras. Com o acompanhamento de um consultor, realizou estudos de mercado, analisou o perfil dos clientes e traçou estratégias de marketing e logística. “O plano foi tão bem estruturado que sabia, até, em quanto tempo teríamos retorno.”
De lá para cá, o negócio só cresceu. No início de 2025, com a criação da RS Autoparts, o grupo passou a fabricar peças com marca própria. A ideia é ampliar a verticalização da operação, aumentar a margem e gerar mais empregos. Um novo galpão está nos planos. “Inovar é essencial. Até para que os colaboradores sintam que estamos em movimento.”
Para Nilma, o crescimento do grupo está diretamente ligado à construção de uma gestão sólida. Isso inclui equipes engajadas, setores organizados e foco no longo prazo. Outro pilar fundamental é o propósito, que precisa ser claro e permear todas as ações e decisões. “Abrir um empreendimento não pode estar relacionado apenas a uma forma de escapar da CLT. É preciso ter uma ideia que faça sentido, gere impacto e transforme realidades.”
Atualmente, 15 famílias dependem diretamente da estrutura da F de Assis Marinanto. Além disso, a maranhense destaca os profissionais que já passaram por lá e seguem no mercado mais preparados. Todos que ingressam na companhia têm acesso a treinamentos, cursos e incentivo à educação. “O empreendedorismo mudou a minha vida, a da minha família e a de muitas pessoas do bairro onde estamos.”
Ela também destaca a importância de contar com uma liderança centrada nas pessoas, com disposição para ouvir e entender necessidades, assim como opiniões diferentes. “É preciso olhar para o outro como um ser humano, e não como uma máquina”, afirma.
Desde 2011, por exemplo, há iniciativas voltadas ao bem-estar dos profissionais e um olhar atento à saúde mental. “Ser empresário não é só uma palavra bonita, precisamos fazer a diferença na vida das pessoas.”
Esse modelo de gestão estruturado e humanizado levou Nilma à segunda colocação na etapa estadual do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2022, reconhecimento que marcou um novo capítulo. “Ali eu entendi que estava no caminho certo. Foi um divisor de águas”, diz.
Em meio à expansão da companhia, Nilma enfrentou seu maior desafio: o diagnóstico de câncer de mama, em 2017. “Foi no início, graças aos check-ups que sempre fiz”, lembra. Dois anos depois, já recuperada, voltou com ainda mais energia. Participou do Sebrae Delas – programa de capacitação e aceleração – e fez sua primeira viagem com a Rede Mulher Empreendedora. “Foi emocionante ver tantas mulheres empreendendo, mesmo diante de jornadas duplas e obstáculos. Aquilo me deu gás para continuar.”
A experiência despertou a vontade de criar redes de apoio e espaços de acolhimento. “O percurso pode ser exaustivo e, se não cuidarmos de nós mesmas, a vontade de desistir aparece”, afirma. Desde então, ela se dedica a projetos voltados a mulheres que desejam retornar ao mercado de trabalho, mas não se sentem prontas ou têm medo. Em parceria com o Sebrae e a Associação Comercial, tem desenvolvido ações para fortalecer a autoconfiança e ampliar o acesso a oportunidades.
“Nenhuma mulher deveria trilhar essa jornada sozinha. Quando nos conectamos, ganhamos fôlego para seguir em frente”, diz. E conclui: “Eu superei um câncer e renasci dentro do empreendedorismo. Há dias difíceis, mas é possível avançar com coragem e escutando nossa intuição.”