Negócios

Ela fugiu da crise na Venezuela e criou um negócio no Brasil com R$ 30

Conheça a história de Norelis Falcon, fundadora da ProCriArt Awekü, que conseguiu reconstruir a vida por meio do artesanato e hoje atua para inspirar outras mulheres imigrantes

Norelis Nathalie Madriz Falcon, fundadora da ProCriArt Awekü: “Minha história é real, com erros e acertos, e sempre fui transparente em relação a tudo"

Norelis Nathalie Madriz Falcon, fundadora da ProCriArt Awekü: “Minha história é real, com erros e acertos, e sempre fui transparente em relação a tudo"

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 18 de fevereiro de 2025 às 09h43.

Muita determinação, resiliência e coragem fazem parte da trajetória de Norelis Nathalie Madriz Falcon, fundadora da ProCriArt Awekü, uma loja que comercializa peças feitas por artesãos venezuelanos e indígenas da etnia Taurepang. Formada em engenharia industrial, ela atuava no setor de turismo e artesanato em Santa Elena de Uairén, uma cidade da Venezuela a cerca de 15 km da fronteira com o Brasil.

No entanto, com a crise econômica e humanitária que assolava o país, viu sua carreira desmoronar. Como se as dificuldades econômicas não bastassem, também teve que enfrentar a perda de sua filha de três anos, Natasha Awekü. Assim, em 2019, tomou uma das decisões mais difíceis de sua vida: deixar a terra natal e buscar uma nova oportunidade em solo brasileiro.

Com apenas R$ 30 e US$ 20, três peças de roupa e sua outra filha Maria Paula, decidiu cruzar a fronteira rumo a Boa Vista (RR). “Sabia que por trás de tanta dor, havia um propósito e eu tinha que fazer algo com isso. A arte é uma maneira de imortalizar uma história e um lugar”, diz.

Atualmente, mora em João Pessoa (PB) e vende as peças – criadas por ela e mais 10 artesãos – em feiras particulares e realizadas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e pelo Instagram. Como reconhecimento do seu trabalho, conquistou o segundo lugar no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2023 na categoria Microempreendedora Individual (MEI).

"Essa vitória não é apenas minha, mas de todos que acreditaram e fazem parte desse projeto", afirma. Para Norelis, o reconhecimento representa um incentivo para seguir e inspirar outras mulheres imigrantes a acreditarem em seus sonhos.

A empreendedora também atua como palestrante e já compartilhou sua história no abrigo da Operação Acolhida, no Dia Internacional do Imigrante, e fez apresentações sobre economia criativa em locais como UFPB e Sebrae-PB. “Sempre vi o artesanato como uma terapia e uma maneira de reconstruir minha vida”.

Apoio emocional e técnico

Para consolidar a empresa, no entanto, teve de enfrentar desafios como a barreira do idioma e a instabilidade financeira. Mas encontrou o apoio de outras mulheres da área de artesanato e de pessoas que a conheciam quando estava à frente de uma agência de turismo na Venezuela. “Cheguei a morar na casa de amigos e, aos poucos, ganhei independência e a força que precisava para recomeçar”.

Foi justamente o networking que abriu as primeiras portas para Norelis. Por meio de um sindicato, conseguiu um espaço no Centro de Artesanato da Orla Taumanan, onde fundou a ProCiArt Awekü em 2021. Hoje, a empresa não apenas garante seu sustento, mas também ajuda artesãos venezuelanos e indígenas a manterem suas tradições vivas. Ela também fez um curso de português voltado a refugiados para conseguir se comunicar melhor com os clientes e buscou o Sebrae-RR para formalizar o negócio.

No Sebrae Delas, projeto voltado a incentivar, apoiar e fortalecer o empreendedorismo feminino, recebeu consultorias em finanças, marketing digital, gestão e inovação. Mais do que conhecimento técnico, encontrou apoio emocional e uma rede de empreendedoras que a inspiraram a continuar sua jornada. "Não foram apenas capacitações, mas uma verdadeira ajuda psicológica e emocional", afirma.

Propósito claro e disciplina como propulsores

Norelis destaca que sua trajetória é sustentada por muito estudo, organização, fé e propósito. “Minha história é real, com erros e acertos, e sempre fui transparente em relação a tudo. Esse posicionamento gerou muitas possibilidades e fez com que eu conseguisse apoio de pessoas que já conheciam meu trabalho”, diz.

Na parte técnica, além das capacitações, a artesã destaca uma competência oriunda de sua formação em Engenharia Industrial. “Sempre fui metódica e disciplinada, características importantes para estruturar um negócio e que me ajudaram a identificar as prioridades de cada momento, como a hora de me dedicar mais às vendas e o momento de intensificar os estudos”. Na visão da empreendedora, a priorização é essencial.

O que ela quer agora? Que sua história seja uma inspiração para outras mulheres que desejam empreender. “Se eu consegui, elas também conseguem", conclui Norelis, com a certeza de que seu legado está apenas começando. Entre os planos está desenvolver programas de arte como terapia, criar mais canais de negócios e palestrar em outras regiões do Brasil.

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