Natalia Martins projeta faturar R$ 70 milhões com sua empresa em 2025. (Nic Filmes)
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 21 de julho de 2025 às 15h32.
Natalia Martins construiu uma potência do setor de beleza sem um plano de negócios robusto, nem capital. Em vez de seguir fórmulas prontas ou esconder suas cicatrizes, usou a própria história – com erros e acertos – como ponto de partida. Fundadora do Natalia Beauty Group, conglomerado que reúne clínica de estética, universidade, e-commerce, franquias, instituto social e projeto infantil, transformou vulnerabilidade em estratégia e autenticidade em cultura corporativa. Atender de pijama rosa – uma de suas marcas registradas – simboliza bem essa filosofia. A empresa, criada em 2016, projeta faturar R$ 70 milhões em 2025, o dobro dos R$ 35 milhões registrados no ano anterior.
Com 11,1 milhões de seguidores no Instagram, a paulistana virou referência em branding, empreendedorismo e posicionamento digital, e viaja o Brasil e o mundo dando palestras, com passagens por países como EUA e Argentina. Entre as novidades está o início das vendas, em 25 de julho, de uma linha de produtos para sobrancelhas, cílios, lábios e pele, em parceria com Ruby Rose – disponível em grandes redes do varejo, como Ikesaki e C&A.
À Exame, Natalia Beauty, como é conhecida, conta o caminho que percorreu até aqui.
A trajetória teve início em meio ao caos. Aos 28 anos, após o fim de um casamento, uma filha de dois anos e R$ 90 mil em dívidas, decidiu voltar a morar com os pais, em São Paulo, e recomeçar. Abalada e sem formação acadêmica, tinha duas opções: trabalhar em restaurantes, onde atuou por anos, ou apostar na micropigmentação de sobrancelhas, técnica que havia aprendido enquanto morava no interior paulista. Mesmo ouvindo frases como “beleza não é profissão”, escolheu a segunda. O fato de ter enfrentado o “fundo do poço”, como costuma dizer, foi o que a libertou do medo do julgamento. “Eu já tinha fracassado, cometido erros, passado vergonha. E quando você perde tudo, ganha coragem”.
Sem recursos, iniciou com atendimentos gratuitos para clientes de algumas lojas. O boca a boca gerou demanda e Natalia alugou um apartamento e uma sala de 30m² para atender. Foi aí que a veia empreendedora começou a surgir. “Entendi que todas as decisões – e suas consequências – eram minha responsabilidade. Para alguém criada por um pai português, rígido e machista, foi transformador”.
Para estruturar o negócio, estudou marketing, vendas e gestão. Ao mesmo tempo, começou a postar nas redes sociais os bastidores do empreendedorismo, sem filtros: com erros, aprendizados, cansaço. “Na época, todo mundo mostrava só perfeição. Fiz diferente e isso criou conexão”, lembra Natalia.
Além do conhecimento técnico, destaca o autoconhecimento. “O crescimento está limitado à nossa consciência e precisei desenvolver habilidades comportamentais ao longo da jornada”, diz. Entre elas a escuta, essencial para reconhecer que, muitas vezes, é preciso abrir mão do ego e de uma opinião pessoal pelo bem da companhia; a empatia, para considerar a perspectiva do outro; a paciência, pois nada acontece do dia para a noite; e a resiliência, indispensável diante das dificuldades.
Ousadia também entra nessa lista. Em 2021, criou uma ação não oficial com participantes do Big Brother Brasil. “Eles saíam do programa à noite e no dia seguinte já estavam na Ana Maria Braga, sem tempo de fazer nada. Eu ia ao hotel com uma maca e fazia os procedimentos”. A iniciativa viralizou, impulsionando o crescimento orgânico.
Hoje, o grupo tem uma sede de 250m² em São Paulo, e unidades em Curitiba (PR) e Lisboa (Portugal). Há ainda a participação na Croma Beauty, joint-venture com BCMED e Cromatic para produção de máquinas de laser, e o projeto de uma beauty tech, para investimento em IA. Conhecida por oferecer serviço de design de sobrancelhas por R$ 12,5 mil, iniciou este ano o projeto de franquias NaBeauty, com tíquete entre R$ 600 e R$ 800, para democratizar o acesso.
Porém, o trabalho da empresária vai além da estética, sendo uma ferramenta de transformação e empoderamento feminino. “Minha maior dor foi ver minha mãe dependente financeiramente do meu pai. Então, luto para que outras mulheres não passem por isso”, afirma.
Além das palestras e dos cursos da universidade, atua na capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade, por meio do Instituto Natalia Beauty, em locais como a Penitenciária Feminina e a Fundação Casa. “Projetos sociais deveriam ser uma condição para as companhias existirem. Se geramos lucro, temos de destinar parte a quem precisa”.
Há, ainda, iniciativas como doação de próteses de aréola para mulheres que passaram por câncer de mama e reconstruções com nanopigmentação em casos oncológicos e de lábio leporino.
O próximo passo é consolidar um ecossistema educacional. A Beauty University já oferece cursos nas áreas de estética e gestão, e a meta é expandir, a partir de 2026, para temas como cabelo, unhas, cílios, finanças e marketing.
Para as mulheres que desejam empreender, Natalia reforça que não existe sucesso imediato. “Eu iniciei com dívida e poucos atendimentos”, diz. O que acontece é que muitas mulheres se sabotam antes mesmo de tentar – sem perceber que esse bloqueio vem de crenças antigas. “Crescemos ouvindo que mulher sozinha não dá conta, que não entende de negócios, mas isso não é verdade. Quando decidimos dar o primeiro passo e paramos de depender da aprovação dos outros, podemos alcançar o que desejarmos”, finaliza.