Hidrelétricas: demolição das estruturas, bem como a logística para destinação final dos materiais remanescentes pode causar danos socioambientais. (Wirestock/Freepik)
Colunista
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 18h25.
Última atualização em 8 de novembro de 2024 às 19h32.
A remoção de aproveitamentos hidrelétricos cuja vida útil tenha terminado é uma alternativa para usinas que sejam obsoletas e não tenham mais benefícios à sociedade, ou que tenham problemas de segurança sem solução viável.
A demolição das estruturas, bem como a logística para destinação final dos materiais remanescentes, confere uma complexidade à operação equivalente à de uma obra, trazendo assim diversos impactos socioambientais.
No início do século XX, duas usinas hidrelétricas, com menos de 15 megawatts (MW) cada, foram construídas no rio Elwha, na costa oeste dos Estados Unidos. Nessa época, os projetos não passavam por processos de licenciamento participativos, e tampouco previam sistemas de transposição de peixes.
Desse modo, esses barramentos acabaram bloqueando a passagem de salmões, que são peixes que se reproduzem em água doce e se desenvolvem no mar.
Embora a aprovação da lei de restauração desse ecossistema tenha ocorrido em 1992, esses dois aproveitamentos começaram a ser removidos somente a partir de 2011. Como resultado, houve não só o retorno de uma enorme diversidade de flores nativas, como também de árvores coníferas, cuja recuperação não era esperada tão cedo.
Outra consequência positiva foi a restauração do delta do rio em sua foz, compreendendo áreas de lagoas e praias que haviam desaparecido. Por outro lado, um efeito indesejado foi o alagamento de estradas e áreas de acampamento do Olympic National Park .
No ano passado foi iniciada a remoção de quatro barragens no rio Klamath, na fronteira da Califórnia com o Oregon. Trata-se de usinas originalmente construídas a partir de 1903, com potência instalada total de 163 MW. Sua remoção trouxe preocupação às comunidades locais, devido a alguns efeitos ambientais tratados como catastróficos por opositores dessas retiradas.
De fato, era esperado que a liberação súbita de sedimentos acumulados nos reservatórios afetasse a qualidade da água, ainda que temporariamente. A mortandade de peixes, em contrapartida, tem causado mais polêmica. Principais prejudicados com a construção das barragens, os salmões ficaram confinados durante tantos anos nos reservatórios que estariam sofrendo agora com a descompressão provocada pela mudança do regime de escoamento.
O tabu envolvendo a remoção de aproveitamentos hidrelétricos vem sendo derrubado em situações muito específicas. Ainda há poucos exemplos, sobretudo de barragens de maior porte. No entanto, mesmo que pontuais, eles trazem a oportunidade de uma melhor compreensão não só da velocidade que a natureza precisa para se recuperar, mas também dos impactos negativos imediatos que podem decorrer dessa decisão.