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EaD para adolescentes e educação bilíngue: a Kroton no ensino básico

O maior grupo de ensino do planeta, em queda na bolsa, volta as atenções à educação básica, com a integração da Somos

Imagem de arquivo: as ações da empresa, antes considerada uma queridinha dos investidores, caíram 42% este ano (Reprodução/Thinkstock)

Imagem de arquivo: as ações da empresa, antes considerada uma queridinha dos investidores, caíram 42% este ano (Reprodução/Thinkstock)

AJ

André Jankavski

Publicado em 16 de outubro de 2018 às 06h50.

Última atualização em 16 de outubro de 2018 às 20h29.

O grupo de ensino Kroton escolheu o dia do professor (15/10), para marca o início da gestão das operações da Somos Educação, empresa focada em colégios e escolas de educação básica. O negócio foi fechado em abril, por cerca de 6,3 bilhões de reais, mas só agora passou por todos os trâmites do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e também pelos processos internos das empresas.

Mais do que o primeiro dia de trabalho com o novo ativo, a compra da Somos deve representar um hiato da Kroton em aquisições multibilionárias. A ordem na Kroton, Conhecida por ser uma consolidadora em série, agora é focar no crescimento orgânico. “Não estamos fechados para compras, nem em ensino superior e nem no básico, mas temos um grande trabalho para ganhos de sinergia”, afirma Rodrigo Galindo, presidente da companhia.

Ele lembra que a nova empresa, mesmo sendo a líder, terá menos do que 1% de participação do ensino básico privado. No Brasil, há 40.000 colégios e a Saber conta com 46 colégios próprios de educação básica, além de 17 escolas de idiomas, o que totaliza 32.000 alunos.

Um dos desafios da educação básica é a falta de ativos graúdos à venda. Grandes concorrentes, como o Grupo SEB, do empresário Chaim Zaher, e Eleva, que tem o bilionário Jorge Paulo Lemann como um dos acionistas, não se mostram abertos para propostas. No ensino superior, a negativa do Cade em aprovar a fusão com a Estácio, no ano passado, fechou algumas portas para a estratégia de crescimento acelerado via aquisições. Logo, sobram os ativos menores – que não vão fazer a Kroton dar saltos de crescimento como em anos anteriores. De 2010 até 2017, a empresa saiu de uma receita líquida de 640 milhões de reais para 5,5 bilhões.

A prioridade, agora, será na integração das companhias, que nasce com um faturamento de 7,4 bilhões de reais. Segundo Galindo, deve levar dois anos para ocorrer a junção integral das operações e as sinergias podem chegar a 300 milhões de reais. Nesse tempo, a Kroton, por meio de sua holding de ensino básico Saber, terá algumas missões. Uma delas será fazer uma oferta pública de ações (OPA) até o dia 12 de novembro aos investidores minoritários da Somos. O fundo de investimentos Tarpon tinha 74% da empresa e recebeu 4,6 bilhões por sua fatia.

A ideia é fechar o capital da Somos até maio de 2019 para a empresa se tornar uma subsidiária da Saber. A integração começará com os trâmites financeiros. Comandada pelo executivo Mário Ghio, que acumula os cargos de diretor-presidente de educação básica da Kroton e de CEO da Saber, a companhia buscará logo as sinergias de redução de custos, principalmente os gastos ligados à operação, quanto com a geração de novas receitas.

Uma das maiores oportunidades, segundo Galindo e Ghio, está na extensão do aprendizado da criança além do horário de aula. A Saber irá focar especialmente em segmentos mais tradicionais, como o ensino bilíngue, mas pretende estender para outras áreas de estudo no futuro como robótica e desenvolvimento de códigos. “Isso representa um ganho de receita sem aumento de gastos administrativos”, diz Ghio.

EaD no ensino básico?

Essa, aliás, deve ser a tônica de investimentos em educação básica. A empresa pretende ser uma solução integrada para apoio à escola. Atualmente, 67% da receita da Saber vem das escolas. Outros 25% vêm dos livros didáticos feitos para escolas públicas por meio das editoras Scipione, Ática e Saraiva. O faturamento dessa área, no entanto, deve cair. Não por diminuição das vendas, mas pela substituição por soluções tecnológicas, como materiais didáticos digitais – que apresentam margens superiores aos livros físicos.

Um outro fator que chama a atenção da Kroton é a possibilidade de o ensino básico público ter disciplinas a distância, como aventado pelo candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) em sua campanha. Galindo não acredita que o ensino seria eficiente para alunos mais novos, mas não descarta a metodologia no ensino médio, por exemplo. “Um aluno pode começar a ter contato com matérias de alguns cursos em específico ainda no ensino médio para escolher a sua graduação”, diz o presidente. “De qualquer forma, estamos preparados para oferecer o ensino a distância em colégios.” O plano ainda não está formatado, ressalta.

As ações da empresa, antes considerada uma queridinha dos investidores, caíram 42% este ano. No terceiro trimestre de 2018, a base de alunos no ensino superior teve uma queda de 2,8% em comparação ao mesmo período do ano passado. Por isso, o mercado de 60 bilhões de reais do ensino básico pode representar uma injeção de ânimo que está faltando para os acionistas da Kroton.

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