Negócios

É possível disputar títulos devendo R$ 900 mi? O Corinthians diz que sim

Dono da segunda maior torcida do Brasil, clube contrata a consultoria Falconi para reestruturar a gestão. Sem investimentos, o desempenho esportivo pode cair

Arena Corinthians, no bairro de Itaquera, São Paulo: a dívida do clube chegou a 900 milhões de reais em 2020 (Rodrigo Coca/Agência Corinthians/Divulgação)

Arena Corinthians, no bairro de Itaquera, São Paulo: a dívida do clube chegou a 900 milhões de reais em 2020 (Rodrigo Coca/Agência Corinthians/Divulgação)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 19 de março de 2021 às 13h58.

Última atualização em 19 de março de 2021 às 14h49.

O Corinthians é uma potência do futebol brasileiro. Dono da segunda maior torcida do país, atrás apenas do Flamengo (embora alguns torcedores mais fanáticos do Timão argumentem que a ordem é inversa), o clube detém sete títulos do Campeonato Brasileiro, uma Libertadores da América e dois Mundiais da FIFA. Seu último título de expressão, no entanto, foi em 2017, ano em que foi campeão brasileiro pela última vez.

Leve valor para a sua carreira e para o seu negócio com as práticas ambientais, sociais e de governança

Esse desempenho esportivo abaixo das expectativas da torcida coincide com uma crise financeira severa. Desde 2014, o balanço corintiano só ficou no azul em um ano, justamente em 2017. Em 2019, o prejuízo operacional chegou quase a 98 milhões de reais, o déficit total no período foi de 177 milhões e a dívida líquida alcançou 652 milhões, para uma receita líquida de 354 milhões de reais. Esse endividamento, segundo Wesley Melo, diretor financeiro do clube, cresceu e já está na casa dos 900 milhões.

Para recuperar a saúde financeira, o presidente do Corinthians Duílio Monteiro Alves determinou que um plano de reestruturação da gestão fosse elaborado. Melo está à frente desse desafio e terá a seu lado a consultoria Falconi, fundada por Vicente Falconi, renomado consultor, famoso pelas táticas para aumentar a eficiência das empresas. “Nosso objetivo é mudar a mentalidade do clube”, disse Melo, em encontro com jornalistas em que anunciou a contratação da consultoria. “A Falconi vai nos ajudar a encontrar ineficiências e, principalmente, canalizar os investimentos para o lugar certo.”

Nesse “lugar certo” está, definitivamente, o futebol. O diretor financeiro reconhece que um desempenho ruim no esporte afeta o financeiro. E dá exemplos. No Brasileirão 2020 (encerrado em 2021 por causa da pandemia), o Corinthians ficou em 12º lugar. Uma vitória na última rodada poderia deixar o time na oitava posição. O Timão, no entanto, empatou em 0 a 0 com o Internacional. “Por causa disso, perdemos 5 milhões de reais”, diz Melo.

Arrumar esse vestiário do time financeiro não será fácil. Segundo uma análise feita pelo banco Itaú BBA, do balanço de 2019, o Corinthians entrou em um ciclo perigoso de descontrole dos custos, que coloca sua gestão em uma verdadeira corda bamba. As receitas são boas — o contrato com a televisão é um dos maiores do país e a publicidade atingiu um ponto muito próximo do potencial do clube.

O problema está nas despesas, que crescem em ritmo “alucinante”, de acordo com o banco. “Isso força o clube a buscar solução na venda de atletas. É um roteiro típico daqueles filmes de catástrofe: tudo está bem quando tudo está bem. Daí, no ano em que não há vendas relevantes de atletas, pronto, a situação desanda”, aponta o relatório do Itaú BBA.

A solução óbvia seria cortar custos, como diminuir a folha salarial dos jogadores. É algo que o Corinthians vem fazendo. “Dezenas de jogadores saíram neste ano”, afirma o diretor financeiro. “O clube tem um orçamento para 2021 e ele está sendo respeitado.” Mas, apenas isso não configura uma gestão adequada. “Gerir uma empresa não é cortar custos desenfreadamente”, diz André Paranhos, sócio da Falconi que irá trabalhar com o Corinthians. “É preciso investir para gerar mais valor e obter melhores resultados.”

Esse é o grande dilema do Corinthians. Para se manter competitivo, é preciso ter bons jogadores, o que demanda investimentos no futebol. Quando não há dinheiro, a tendência é de uma queda no desempenho esportivo, como aconteceu com o Vasco, outro gigante do futebol brasileiro em severa crise financeira, rebaixado para a segunda divisão do campeonato brasileiro pela quarta vez nesta temporada. E quando os títulos não vêm, a receita cai, piorando a condição financeira.

“O futebol precisa ser visto como um investimento, não uma despesa”, diz Melo. “Brigar para competir sempre traz uma alavancagem financeira. Só não podemos dar um passo maior do que a perna.” O diretor financeiro prevê a contratação de jogadores para a próxima temporada, de forma comedida, dentro do que o clube pode pagar. Outra aposta está nas categorias de base, o famoso “terrão” do Timão. “Todo corintiano vibrou com o Rodrigo Varanda”, afirma. O centroavante de 18 anos é a mais nova aposta do clube para reviver os momentos de glória.

Entre os anos 1950 e 1970, o Corinthians ficou 21 anos sem ganhar um título. Nesse período de “fila”, sua torcida só cresceu. A Fiel terá paciência, mais uma vez, para esperar alguns anos por conquistas, até a reestruturação devolver a capacidade de investimento do clube? É bem provável. Mas a verdade é que o futuro do Corinthians depende da disposição de sua diretoria em tomar decisões difíceis. E dos sócios do clube em apoiar uma gestão financeiramente boa, que pode não trazer os resultados esportivos desejados.

Para piorar, seu maior rival, o Palmeiras, na temporada 2020 ganhou quase tudo que disputou: Campeonato Paulista, Copa do Brasil e Libertadores. Melo se mantém otimista. “Com uma boa gestão, seremos competitivos”, garante. Uma coisa é certa: nenhum time na história se deu bem subestimando o Corinthians.

Acompanhe tudo sobre:BrasileirãoCorinthiansFutebolPalmeiras

Mais de Negócios

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Tupperware entra em falência e credores disputam ativos da marca icônica

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades