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É oficial: WeWork vai cancelar IPO e segue sem saber como irá se sustentar

Novos presidentes da empresa divulgaram comunicado aos funcionários afirmando que o IPO será cancelado até que chegue o "momento certo"

WEWORK: empresa queima cerca de 700 milhões de dólares por trimestre, o que, nesse ritmo, faria a companhia ficar sem caixa já no primeiro trimestre de 2020 (Bobby Yip/File Photo/Reuters)

WEWORK: empresa queima cerca de 700 milhões de dólares por trimestre, o que, nesse ritmo, faria a companhia ficar sem caixa já no primeiro trimestre de 2020 (Bobby Yip/File Photo/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 30 de setembro de 2019 às 12h59.

Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 17h24.

A oferta pública de ações (IPO) da WeWork será oficialmente cancelada. A empresa de aluguel de escritórios compartilhados anunciou o cancelamento em comunicado aos funcionários nesta segunda-feira 30, conforme reporta a agência Bloomberg.

"Isso coloca uma pausa oficial em nosso processo de se tornar uma empresa pública", escreveram Artie Minson e Sebastian Gunningham, co-presidentes que assumiram o cargo na semana passada após a renúncia do então presidente e fundador, Adam Neumann.

"Tenha certeza, a WeWork vai se tornar uma empresa pública, mas só podemos fazer uma oferta inicial de ações uma vez, e queremos fazê-la no momento certo", escreveram os executivos.

A empresa já havia enviado à agência reguladora do mercado de capitais americano (a SEC) um prospecto com suas informações financeiras para dar entrada no IPO, previsto para acontecer em setembro. Mas, durante as semanas de conversa com investidores e repercussão dos números, o modelo de negócios começou a ser contestado.

O faturamento da empresa foi de 1,8 bilhão de dólares em 2018, alta de mais de 200% em relação a 2017 e mais de 400% desde 2016, segundo os dados divulgados no prospecto enviado à SEC. Contudo, a companhia registrou prejuízo de 1,9 bilhão de dólares no ano passado, o dobro do que foi perdido em 2017. Desde 2016, o prejuízo aumentou mais de 300%. Nos primeiros seis meses de 2019, a WeWork já perdeu 904,6 milhões de dólares e teve faturamento de 1,5 bilhão de dólares.

No meio do caminho, o maior investidor, o fundo de investimentos do grupo japonês Softbank, capitaneou a saída do fundador Adam Neumann, que terminou renunciando à presidência da empresa, cargo que ocupava desde a fundação da companhia, em 2010. Neumann ficou restrito à presidência do conselho de administração, enquanto Gunningham e Minson tornaram-se os novos presidentes-executivos.

Desde sua fundação, em 2010, a WeWork atingiu valor de mercado de 47 bilhões de dólares, tendo recebido mais de 12 bilhões de dólares em investimentos, de acordo com o site de finanças de startups Crunchbase. No entanto, já no início das conversas para o IPO, o valor de mercado caiu para entre 20 e 30 bilhões de dólares na bolsa. Com os questionamentos sobre seu modelo de negócio, chegou a cogitar, nas últimas semanas, abaixar o valuation para 10 bilhões de dólares.

O dinheiro vai acabar?

Com o cancelamento do IPO, fica a dúvida de como a WeWork vai se sustentar pelos próximos trimestres. A empresa queima cerca de 700 milhões de dólares por trimestre, segundo a média dos números divulgados no prospecto. Em junho, a empresa tinha 2,5 bilhões de dólares em caixa. Nessa toada, ficaria sem dinheiro já no primeiro trimestre de 2020.

No modelo de operação usado até agora, o crescimento aconteceu, mas financiado por altos investimentos em aquisição de imóveis e ações de marketing para a entrada em novos mercados.

A expectativa da empresa era levantar alguns bilhões de dólares com o IPO para continuar operando e crescendo de forma exponencial. Sem esse dinheiro, a empresa tentará também convencer o Softbank e seus demais investidores a continuarem aportando até que chegue "o momento certo" para ir à bolsa.

Segundo o jornal The Wall Street Journal, os novos presidentes planejam ainda cortes de custos que incluem a demissão de milhares de funcionários e o fim de alguns luxos de Neumann, como um jatinho privado que a empresa comprou por 60 milhões de dólares no ano passado. "À medida que olhamos em direção a um futuro IPO, vamos revisar de perto todos os aspectos da companhia com a intenção de fortalecer nosso negócio central e melhorar nossa administração e operações", escreveram os presidentes na nota desta segunda-feira.

Em sua nova fase, a WeWork precisará economizar. O paradoxo está em como fazer isso e, ao mesmo tempo, continuar expandindo o negócio -- expansão que, até então, a empresa vendeu como essencial para sobreviver.

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