Antônio Ortiz, do Grupo Asun: rede teve três de suas 39 lojas com perda total (Asun/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de junho de 2024 às 16h24.
Última atualização em 6 de junho de 2024 às 09h53.
Com a água finalmente baixando no Rio Grande do Sul, empresários começam agora a ter uma real noção dos estragos — e do que precisará ser feito para se reerguer.
No caso do Asun, rede de supermercados com 39 operações no estado, o estrago foi duplo. Além das enchentes que fizeram a água entrar em quatro lojas, uma quinta unidade foi totalmente saqueada durante as enchentes. Os ladrões chegaram a ameaçar funcionários que estavam dentro do ponto, localizado na cidade de Eldorado do Sul, uma das mais atingidas pelo desastre climático.
“Não é que levaram só comida”, diz Antônio Ortiz, presidente do grupo. “Vandalizaram a loja, mesmo. Levaram também os computadores, equipamentos pequenos. Toda loja foi impactada.”
O prejuízo ficou na casa dos R$ 5 milhões. Mas isso não foi impeditivo para que a empresa voltasse a apostar no local. Não à toa, na última semana, menos de um mês depois do ocorrido, a loja já estava sendo reinaugurada. E com um aviso na fachada, ecoado pelo presidente Ortiz: “É hora de renascer. Estamos renascendo”.
“No meio de tanta destruição, quando reabrimos um ponto de venda, trazemos vida para aquele bairro”, afirma. “Outros comerciantes notam que estamos reabrindo e começam a se mobilizar para reabrir quanto antes também”.
Agora, das cinco lojas afetadas, apenas duas seguem sem funcionar. São as mais críticas, que ficam em Canoas, cidade vizinha a Porto Alegre. Em uma delas, a água chegou a subir 1,5 metro. Na outra, a inundação alcançou a marca de 3 metros de altura. Por ali, foi perda total, mas elas, assim como a de Eldorado, também renascerão.
“Não vamos desistir de nenhuma loja”, diz. “É nossa função estarmos no local e nosso direito sermos protegidos para que as águas não inundem nossas lojas”.
A perspectiva é que uma das operações de Canoas volte a abrir em dez dias. A outra ainda não tem previsão. A agilidade para reabertura está apoiada na estrutura do grupo, que faturou R$ 1,4 bilhão no ano passado, e também na rapidez com que Ortiz começou a tomar decisões.
“Eu achava que a água ficaria dentro da loja por um dia e sairia. Quando vi que não seria assim, comecei a me mexer”, diz. “Liguei imediatamente para meu fornecedor de equipamentos e já deixei reservado novos computadores e máquinas, porque sabia que ia precisar. Também comecei a falar com meus fornecedores de produtos”.
Assim que a água do Guaíba começou a subir e que Ortiz percebeu que ela não desceria tão fácil, o primeiro passo foi abrir um comitê de gestão de crise dentro do Asun. A equipe já tinha aprendido com a pandemia algumas lições sobre gerenciamento de estoque e controle de produtos, o que foi fundamental agora. Isso porque, com medo de os produtos acabarem, consumidores foram correndo aos supermercados fazer reservas de água e alimentos.
“Fizemos uma campanha de consumo consciente, instruindo os clientes a comprarem apenas o necessário”, diz. “Agora imagina, nós, como empresários, dizendo para as pessoas não comprarem tanto. Foi esse o nível que chegou”.
Mesmo assim, teve momentos em que produtos como água chegaram a acabar, tamanha a demanda.
No caso do Asun, outro fenômeno aconteceu. A rede tem unidades na região metropolitana e no Litoral Norte. Acontece que, quando Porto Alegre começou a encher de água, a prefeitura da cidade recomendou que, quem pudesse, que se dirigisse para o litoral, onde o cenário estava mais controlado.
Os moradores ouviram a recomendação e foram para a praia. Chegando lá, o Asun precisou correr para atender uma demanda que não costuma existir nesta época do ano no litoral.
“Mandamos funcionários para lá, começamos a enviar carretas de mercadorias do nosso estoque na região metropolitana para a praia, tudo para atender os consumidores”.
Além da campanha de consumo consciente, a empresa ajudou doando carretas de água potável e ajudando com veículos e gasolina para a distribuição de doações que começavam a chegar.
“Tivemos três perdas totais, mas isso representa cerca de 10% de nossas lojas. As outras ajudam a segurar o faturamento, manter equipes, tudo mais”, diz. “Nosso pesar fica com aquelas pessoas que perderam a única loja que tinham. Ou que perderam a casa inteira. Esse é o grande drama, e estamos solidários com essas pessoas”.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para a frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.